Uma das datas mais celebradas no mundo, o Natal carrega significados que transcendem gerações e culturas. A festividade, que marca o nascimento de Jesus Cristo, foi moldada por séculos de tradições e influências culturais, até se consolidar no formato como é conhecida hoje. Embora a data de 25 de dezembro não tenha registros históricos precisos que comprovem o nascimento do Menino Jesus nesse dia, a escolha carrega simbolismos ligados à história da Igreja e à necessidade de estabelecer uma celebração unificada para os cristãos.
De acordo com o historiador e cientista da religião Márcio Neco, embora algumas teorias abordem a origem do Natal como uma festa pagã, a festividade nasceu como uma celebração cristã, com o registro mais antigo durante o pontificado do Papa Telésforo, que governou de 126-137, e instituiu a missa do galo na véspera do Natal. “O documento, embora não nos dê a data do Natal, assume que o Papa já estava comemorando o Natal e que uma missa à meia noite era celebrada”, acrescenta.
A partir do século II, de fato, começou a ganhar estrutura e a data foi adotada amplamente. “Já se tinham registros de cristãos comemorando o nascimento do Salvador, o Messias. A data do dia 25 foi oficializada durante o governo do Papa Júlio I. Foi nesse período que a Igreja começou a consolidar a tradição natalina como uma forma de unir os fiéis em torno do nascimento de Cristo”, explica, sobre o período de ocupação do trono do representante, nos anos de 337 a 352.
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Com o passar dos séculos, o Natal ganhou novos contornos, incorporando hábitos culturais de diferentes regiões do mundo. Durante a Idade Média (séculos V e XV), a celebração se popularizou na Europa com grandes festivais, banquetes e encenações teatrais. O costume de ceiar à meia-noite, por exemplo, tem origem europeia e era associado à abertura das portas das casas para receber peregrinos e viajantes em busca de refeição e descanso.
No Brasil, o Natal demorou a ganhar as características conhecidas hoje. Até o início do século XX, as comemorações eram mais simples, restritas às missas e a pequenas reuniões. “Nós não tínhamos ceias ou trocas de presentes. Era comum apenas um bolo simples, algumas orações e descanso. Com o tempo, o Brasil incorporou tradições europeias e norte americanas, incluindo a figura do Papai Noel, a árvore decorada e a ceia farta”.
SÍMBOLOS
Além disso, o especialista lembra que durante todo o período medieval, guardava-se um jejum que se encerrava à meia-noite, momento em que um grande banquete era preparado e também marca a data de comemoração ao nascimento de Cristo, e atualmente conhecida como a ceia, que ocorre no mesmo horário.
A troca de presentes também tem suas origens históricas. Conforme o historiador, embora associada à visita dos Reis Magos, que levaram ouro, incenso e mirra ao Menino Jesus, a prática só se popularizou de fato após a Era Vitoriana. “Nos Estados Unidos, trocavam-se postais e se vestiam de Papai Noel, mas a tradição de presentear como conhecemos hoje veio mais tarde”, completa.
Outro símbolo marcante da ceia é o consumo do peru, ave que já era comercializada pelos indígenas da América do Norte e utilizada em rituais de colheita e ação de graças, o que mais tarde influenciou a tradição natalina americana. Ao redor da ceia de Natal, outras tradições surgiram ao longo da história. Um exemplo é o amigo invisível, que nasceu como uma prática de troca de presentes durante a crise econômica de 1929, nos Estados Unidos. Hoje, é uma forma divertida de celebrar com familiares, amigos ou colegas de trabalho.
Além dos alimentos e presentes, há também elementos simbólicos como as orações e os cantos natalinos, que unem as famílias em devoção. Também foram incorporados os registros fotográficos, enquanto pequenos gestos, como onde os convidados se sentam e quem dirige as palavras iniciais, revelam hierarquias familiares e um respeito às tradições.
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Com a ascensão da burguesia, a ceia natalina passou a ser um evento privado e familiar, afastando-se das celebrações comunitárias de séculos anteriores. “Apesar dessas mudanças, a ceia de Natal continua a reunir tradição, simbologia e historicidade, além de promover momentos de afeto e sociabilidade, onde cada participante muitas vezes contribui levando um prato de comida”, finaliza o historiador.
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