Belém é conhecida como a “Cidade das Mangueiras” devido aos belos túneis dessas árvores principalmente no centro da capital. As mangueiras não só embelezam o ambiente, mas também oferecem a sombra agradável da arborização e proporcionam mangas para aqueles que desejam colher seus frutos, além de estabelecer um laço afetivo com os moradores.
Urano de Carvalho, pesquisador da Embrapa especializado em fruticultura, ressaltou que, embora seja uma espécie nativa da Ásia, a mangueira se tornou um símbolo de Belém. Durante a administração de Antônio Lemos (1897 - 1911), a cidade passou por diversas transformações. No entanto, o calor típico da Amazônia representava um grande desafio. Diante dessa situação, Urano relata que Antônio Lemos optou por plantar mangueiras nas principais avenidas da cidade. Ele menciona que a escolha do intendente tinha o objetivo de amenizar o calor local, já que as mangueiras proporcionam sombra e ainda produzem frutos e, ao contrário de outras árvores, não quebrava com muita facilidade.
Urano acrescenta que, com a implementação do projeto, as primeiras ruas a serem arborizadas com mangueiras estavam localizadas nos bairros Nazaré e Batista Campos. “Belém sofreu uma grande transformação, tanto em seu aspecto urbano quanto paisagístico, visando a modernização da cidade e conferindo-lhe um toque europeu, a fim de atender às demandas dos empresários do setor de borracha e da elite local. Dessa forma, esses novos espaços necessitavam de áreas arborizadas. A mangueira foi a espécie escolhida para essa finalidade”.
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Ambiente
O pesquisador explica que, as mangueiras começam a produzir seus primeiros frutos após 5 ou 6 anos, desde que sejam bem cuidadas. “Estou me referindo a uma área de cultivo onde, se receber adubação e irrigação durante a seca, suas chances de desenvolvimento aumentam. Aqui, em um ambiente que não favorece seu crescimento, muitas vezes elas são plantadas em locais sombreados, o que pode atrasar esse processo, levando de 8 a 10 anos para atingir a fase adulta”, esclarece.
Urano ressalta que é fundamental observar que, ao mencionar as mangueiras mais novas, particularmente aquelas localizadas no canteiro central da Avenida João Paulo II, praticamente não houve casos de tombamento. Embora essas árvores ainda estejam na fase inicial de seu crescimento, mesmo assim, são suscetíveis ao tombamento, o espaço em que elas estão é consideravelmente amplo. “Ademais, a Avenida João Paulo II possui poucos prédios que geram sombreamento. Neste local, as mangueiras desfrutam de um espaço mais amplo para o desenvolvimento de suas raízes em comparação com aquelas que são plantadas apenas nas calçadas da Avenida Nazaré”, explica.
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Prevenção
O pesquisador aponta que as mangueiras possuem troncos robustos, repletos de galhos, uma copa densa e exuberante, alcançando grandes alturas, e produzem frutos quase durante todo o ano, em colheitas contínuas. Contudo, elas não são ideais para um ambiente urbano tão densamente povoado como o de Belém. Ele diz que à medida que a cidade se expande, elas ficam em conflito com as linhas de transmissão de energia, que exigem podas frequentes. Além disso, suas raízes sofrem cortes devido às escavações para as tubulações de água. As mangueiras que tombam, em sua maioria, mostram raízes com evidentes sinais de deterioração, provavelmente decorrente da aplicação de concreto ao seu redor, o que pode sufocar as raízes e, por conseguinte, causar sua deterioração”, conta.
Ele detalha as estratégias para evitar o tombamento das mangueiras em Belém. “O objetivo não é eliminar o problema completamente, mas sim minimizar seus efeitos. É fundamental fazer um monitoramento anual e individual de cada mangueira. Devemos implementar táticas que ajudem na prevenção, como a remoção das ervas-de-passarinho (hemiparasitas), uma tarefa que não é difícil. Durante a poda, é aconselhável aplicar pelo menos uma calda bordalesa nos ramos cortados, pois esse produto é eficaz na proteção contra fungos, além de se adotar um método de poda adequado”, conclui.
PARA ENTENDER
A história das mangueiras em belém
- As primeiras mudas de mangueiras vieram da Ásia e foram trazidas ao Brasil pelos colonizadores portugueses, mais precisamente na Bahia, no ano de 1700. No Pará, o historiador Augusto Meira Filho, apoiando-se em um manuscrito do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), sugere que a introdução da espécie se deu por intermédio do arquiteto bolonhês Antônio Landi (1713-1791).
- Contudo, essa narrativa carece de clareza, uma vez que Alexandre Rodrigues Ferreira, em seu “Diário da viagem phylosophyca pela capitania de São José do Rio Negro”, redigido em 1786, aponta o capitão João Manoel Rodrigues como o verdadeiro responsável pela introdução da mangueira na região, embora Antônio Landi tenha contribuído ao semear algumas sementes em seu sítio.
- Quanto ao intendente Antônio Lemos, embora não seja creditado pela introdução das mangueiras em Belém, impulsionou o plantio delas nas principais avenidas durante sua administração no início do século XX. Esse plantio foi o que originou os icônicos túneis de mangueiras.
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