
Um passatempo divertido. Colorir pode, sim, ter efeitos terapêuticos. Nos últimos meses, a prática tem sido utilizada como uma ferramenta poderosa de relaxamento e bem-estar para crianças, adultos e idosos. Para além da redução do estresse, a atividade melhora a concentração, o estímulo da criatividade, equilíbrio emocional e no fortalecimento de vínculos afetivos, principalmente entre a família. Este fenômeno crescente tem conquistado uma base fiel de admiradores, que descobrem a cada página uma nova forma de autocuidado.
De acordo com a psicóloga educacional Niamey Granhen, o desenvolvimento de um ser humano se dá através de aspectos biológico, afetivo, social e intelectual, a chamada teoria da “psicogênese da pessoa completa”, do filósofo e psicólogo Henri Wallon. Sendo assim, uma pessoa seria formada por motricidade, cognição e emoção, fatores que estão estreitamente interligados e interagindo de forma complexa.
Dessa forma, ao colorir, a pessoa exercita a interação entre esses aspectos, que são fundamentais para o aprendizado ao longo da vida. “Quando estou colorindo ou escrevendo, estou praticando a minha motricidade fina, mas também trabalhando as questões cognitivas, memória, atenção, percepção, limite, raciocínio e o sentimento porque podemos colocar a raiva, a tristeza, a felicidade. Essa atividade é muito positiva, principalmente se for adequado a faixa etária de cada pessoa”, aponta a doutora na área de psicologia do desenvolvimento.
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Assim como outras atividades, como dançar e cozinhar, o ato de colorir pode ser considerado uma forma de meditação ativa. Isso porque, segundo Niamey, tudo o que é lúdico pode se tornar terapêutico. A prática ainda pode auxiliar com a ansiedade, estresse e dificuldade de concentração. “Toda prática envolve repetição. Quando você começa a colocar uma certa disciplina no sentido de fazer com uma certa constância, isso vai ajudar nesses casos. Só esse momento de você parar, pensar e tentar organizar o ambiente para a pintura, com o material necessário, isso já ajuda muito em uma organização mental”, revela.

No caso das crianças, a atividade de colorir pode ser melhor aproveitada com a participação familiar, já que está relacionada à ideia do modelo e do estímulo. “Quando os pais compram o material e dão para a criança sem orientação, sem estímulo, isso não é saudável. Quando os pais também participam da atividade gera um fortalecimento dos vínculos afetivos da família, relacionada a questão do modelo, do compartilhamento, isso é saudável. É um momento que no dia para criar e construir algo juntos. Agora é sem competição, sem falar que o seu está melhor do que o desenho da criança. Isso é muito ruim para a autoconfiança e autoestima. Então, é muito importante evitar esse tipo de comparação, inclusive entre filhos”, orienta a psicóloga.
Outro benefício da pintura como hobby é o impacto na atenção e na regulação emocional. Isso se deve ao próprio caráter lúdico muito usado em processos de psicoterapia, principalmente em relação a crianças típicas e atípicas.
“No próprio processo de psicoterapia são incluídos materiais lúdicos, entre eles o material de colorir. O que a gente deve ter cuidado é para não tornar uma febre colorir porque a intensificação de alguma coisa pode gerar tédio. A intenção é ter uma organização no sentido de criar um hábito. Deve ser um hábito construtivo para ajudar na psicogênese da pessoa completa”, explicou a doutora em psicologia do desenvolvimento.
Uma forma de se expressar em família
A pintura em família se tornou o hobbie da engenheira de alimentos Anny do Rosário Campos, 43; da filha Ana Clara Campos, 7 anos, e do filho mais velho, de 21 anos. A ideia surgiu em março deste ano, quando a pequena Ana Clara pediu que a mãe comprasse o livro de colorir que é febre na internet: Bobbie Goods. Foi assim que a engenheira percebeu que a brincadeira era uma forma poderosa de se expressar através dos desenhos e das infinidades de cores.
“Fui na livraria, fui paginar o livro e percebi que realmente é uma ferramenta para ajudar na imaginação, na expressão de pensamentos, trabalhar a questão da relação irracional e os vínculos com o pais. Eu achei uma forma de tirar as crianças das telas, além de ajudar na concentração, é uma forma de expressar os sentimentos através das cores. Ajuda muito a criança a interpretar o desenho, a se expressar melhor, a dizer o que aquela imagem está dizendo”, relata.
“A minha filha já faz até pequenos textos juntamente com as imagens. Ela diz que se o clima está quente, frio, se é verão ou primavera, além de auxiliar na motricidade fina e grossa. Como muitas crianças usam telas, elas deixam aquele hábito de leitura, de escrever e esse caderno facilita muito a recuperar isso. É como se fosse uma terapia, justamente por desenvolver essas habilidades de autoexpressão. Expressa a visão do mundo e as experiências da criança entre pai e filho”, complementa Anny.
Segundo a mãe, as mudanças no comportamento da filha, que é diagnosticada com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), são perceptíveis desde o início do hábito da pintura, incluindo maior senso de responsabilidade, organização e concentração.
“Eu percebi que ela tem maior senso de responsabilidade. Ela tem uma estante só de brinquedos, ela separou a estante de brinquedos, e colocou na altura dela todos os livros de colorir e a sacola de canetinhas. Antes ela chegava em casa, ligava a TV para assistir desenhos. Hoje ela já chega em casa e pega os livros. Percebi mudança na concentração, a questão das notas, melhora nas atividades, além da questão da socialização, da troca. Minha filha já pediu para que eu comprasse o livro para as amiguinhas que não tinham para que elas soubessem como é legal pintar”, conta a engenheira.
A atividade ainda foi responsável pelo estreitamento dos laços familiares e a criação de uma agenda voltada somente para a prática lúdica. “Às vezes a gente sai juntas, principalmente nos finais de semana para ir nas livrarias para ver as versões mais atuais que ela não tem. Tiramos o domingo para ficar os três juntos pintando, eu, ela e o meu filho. Isso foi uma ferramenta para incluir a família, principalmente eu, ela e o meu filho”, concluiu.
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