
A comunidade LGBTQIAPN+ reúne cerca de 15,5 milhões de brasileiros, de acordo com levantamento realizado pelo Instituto Datafolha e que considerou as pessoas entrevistadas que se reconhecem desta forma. O número equivalente a 9,3% da população adulta no Brasil ainda não é refletido de forma equânime no mercado de trabalho, mas a adoção de políticas de inclusão e diversidade em grandes empresas e até mesmo em pequenos negócios vem mudando esse cenário.
Trata-se de mais do que a possibilidade de uma vaga de emprego, mas sobretudo do reconhecimento de um direito que é de todes.
Quando se olha para o cenário do mercado de trabalho brasileiro, a diretora de diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-PA), Jucimara Passos, avalia que houve um avanço considerável nos últimos anos na forma como as empresas lidam com a diversidade em seus quadros funcionais, principalmente a partir do fortalecimento do próprio tema da diversidade, equidade e inclusão e ainda em decorrência da sua importância dentro da temática ESG (do inglês environmental, social and governance).

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Mesmo que muitos desafios ainda precisem ser enfrentados, a psicóloga especialista em diversidade e inclusão nas organizações avalia que as empresas têm conseguido apresentar resultados, avanço que também é fruto de anos de lutas dos movimentos sociais ligados à causa.
“Ainda temos muitos desafios, tais como meta de aumentar o número de profissionais em cargos de liderança, como já acontece quando falamos de gênero e raça; desenvolver ao longo do ano um plano de conscientização e letramento sobre o tema, pois ainda estamos na busca por um ambiente inclusivo; e alguns recortes como das pessoas trans ainda precisam de um fortalecimento e intencionalidade”, analisa. “Mas empresas de todos os portes têm implementado políticas e programas voltados à diversidade e inclusão e ações específicas para a comunidade LGBTQIAP+”.
Reforçando a necessidade de que a alta liderança das empresas esteja engajada para que a cultura da diversidade realmente aconteça, Jucimara destaca que o tema deve estar presente não apenas no posicionamento público da empresa, mas também nas políticas internas não discriminatórias, nos códigos de conduta, nos canais de denúncia.
“Deve fazer parte de uma política transparente de diversidade e inclusão, a criação de uma cultura de diversidade promovida com sensibilizações sobre o tema LGBTQIAP+ , escuta ativa desse grupo, criação de grupos de afinidade e engajamento das lideranças”, aponta.
“O processo que se inicia na atração de talentos deve permanecer por toda a jornada desse colaborador. Ela vai passar pela retenção, por um programa de carreira, ações de equidade, pelo cuidado para que esse profissional possa ser quem ele é e tenha as condições de equidade e inclusão para poder performar como todos os outros da organização”.
A partir deste raciocínio, é preciso considerar que a cultura inclusiva inicia muito antes da atração de talentos para determinada vaga. Passa, também, pela promoção de um ambiente inclusivo, em que o profissional possa se sentir acolhido e à vontade para exercer suas funções. Para quem chega a uma empresa que preza por esses valores, o que fica é a esperança de que, um dia, toda a sociedade alcance um cenário de igualdade de oportunidades para todas e todos.
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CRIATIVIDADE
Mais do que um compromisso com a responsabilidade social, a promoção da inclusão e diversidade nas empresas também pode proporcionar ganhos de criatividade e inovação. “Por trás de cada letra da sigla LGBTQIAP+ existe uma vivência, existe uma existência e quando isso é trazido para o negócio os ganhos de criatividade, inovação, solução de conflitos, atração e retenção de talentos, fortalecimento da marca empregadora, reputação organizacional e, consequentemente, competitividade e lucratividade são diferenciados. É uma forma de ganho para todos os envolvidos”, destaca a diretora de diversidade da ABRH-PA, Jucimara Passos.
ORGULHO
O mês de junho é mundialmente celebrado como o Mês Internacional do Orgulho LGBTQIA+, quando ações são empenhadas para fortalecer a luta contra a homofobia e a transfobia.

Programa tem a temática LGBTQIAP+ como um dos pilares
Diversidade, inclusão e pertencimento fazem parte da essência da cultura e das práticas da Hydro. A vice-presidente sênior de Pessoas e Saúde & Segurança da Hydro Bauxita & Alumina, Nelia Lapa, explica que esse compromisso foi materializado em 2021 com o lançamento do Programa de Diversidade, Inclusão e Pertencimento (DIP), que tem a temática LGBTQIAP+ como um dos seis pilares.
“A existência do DIP sinaliza um esforço estruturado para criar um ambiente onde as necessidades e perspectivas das pessoas LGBTQIAP+ sejam consideradas e valorizadas. A iniciativa busca estabelecer estratégias, orientar políticas internas e definir metas para promover ações que resultem em um ambiente de trabalho mais equitativo e inclusivo para todos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero”, explica.
O programa, portanto, serve como um guarda-chuva para iniciativas que visam a promoção da igualdade e o combate à discriminação, com o objetivo final de construir uma cultura organizacional mais diversa e representativa.
Nelia aponta que, ao longo dos últimos anos, a Hydro incluiu temas de diversidade, considerando discussões relacionadas à comunidade LGBTQIA+, em sua jornada de treinamentos para o desenvolvimento de lideranças, o que contribui para difundir a cultura inclusiva na organização. “Na esteira dos treinamentos e de uma maior discussão interna sobre o tema, um movimento importante foi a recente implantação de uma rede interna de empregados composta exclusivamente por pessoas que são da comunidade LGBTQIAP+”.
REDE
Operando de forma autônoma e com o apoio da organização, a rede de afinidades atua para planejar ações e discutir temas de interesse da comunidade LGBTQIA+. “A iniciativa reforça como as pessoas na Hydro têm se sentido mais à vontade para abordar o assunto e demonstrar, com segurança, quem realmente são”, considera.
“Vale destacar também que o banco de talentos registra mais de 1.000 cadastros de pessoas interessadas em participar de processos seletivos, demonstrando que talentos do mercado de trabalho enxergam valor em trabalhar em uma empresa que promove a diversidade a inclusão”.
Para que seja possível desenvolver e fomentar um ambiente de trabalho seguro, respeitoso e acolhedor para profissionais LGBTQIAP+, a empresa investe em educação e no letramento de suas equipes sobre o tema. Para Nelia, “ao conscientizar os funcionários sobre seus próprios preconceitos e promover a compreensão da importância da diversidade, a Hydro busca criar uma cultura onde todos se sintam seguros para serem autênticos e onde o respeito mútuo seja a norma. Nestas abordagens a empresa reforça que não tolera a discriminação”.
Outras estratégias educativas ligadas ao tema incluem a promoção de treinamentos, conversas orientadas, disponibilização de conteúdos educativos e eventos internos que reforçam a abordagem educativa da empresa em relação ao tema. Um dos conteúdos é o guia de comunicação inclusiva, que visa orientar os funcionários na construção de relacionamentos e comunicações que respeitem as diferenças individuais.
Outra ação foi o lançamento, em 2024, de um banco de talentos LGBTQIA+, uma iniciativa que visa estimular a entrada de profissionais talentosos da comunidade em suas unidades industriais e escritórios em todo o Brasil. Assim como a divulgação de vagas na plataforma Transempregos a partir deste ano. “A criação do banco de talentos LGBTQIA+ reforça a convicção da Hydro de que a diversidade de perspectivas e experiências impulsiona a criatividade, a inovação e o desempenho”, avalia Nelia Lapa. “Ao criar um canal específico para atrair talentos LGBTQIA+, a empresa busca ativamente construir uma força de trabalho mais representativa da sociedade, onde todos se sintam acolhidos e capacitados a contribuir com seu máximo potencial”.
PEQUENAS EMPRESAS
Não só as grandes empresas, mas também os pequenos negócios estão mais atentos à responsabilidade de se promover um ambiente inclusivo e diverso. O coordenador da Agência Metropolitana do Sebrae/PA, Alexandre Alves, considera que a diversidade precisa estar presente desde o início do pequeno negócio, não como algo opcional, mas como parte da essência do empreendimento. “Incluir a comunidade LGBTQIAP+ nos quadros funcionais é uma forma de garantir um ambiente mais justo e representativo. Então é fundamental que os pequenos negócios estejam atentos à promoção da diversidade, incluindo a comunidade LGBTQIAP+”, reforça.
“Isso não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia inteligente de gestão. Respeitar e valorizar a diversidade fortalece a imagem do negócio, amplia as possibilidades de mercado”.
Nesse sentido, Alexandre destaca que é possível e necessário adotar práticas que incentivem a diversidade nos pequenos negócios. Ele reforça, ainda, que ter uma política clara de inclusão não significa criar algo complexo ou burocrático. “Isso é, antes de tudo, um compromisso com o respeito e com a equidade nas oportunidades não só para pessoas LGBTQIAP+, mas para pessoas pretas, pessoas com deficiência. Neste sentido, o pequeno negócio pode começar com ações simples, como processos seletivos inclusivos, linguagem respeitosa na comunicação interna e externa, e capacitação da equipe para lidar com a diversidade”.
Assim como nas grandes empresas, a diversidade também precisa fazer parte da cultura do pequeno negócio e ir além de políticas de contratação. O que se espera é que o time possa conviver em um ambiente de respeito, escuta e valorização das diferenças. “Não basta apenas atrair pessoas LGBTQIAP+ para o time, é necessário garantir que elas se sintam acolhidas, respeitadas e tenham espaço para crescer”, pontua.
“Além de ampliar o leque de talentos, um ambiente inclusivo tende a ser mais saudável. Também há uma conexão direta com o consumo consciente, já que hoje muitos clientes valorizam marcas comprometidas com causas sociais. Ou seja, além de fazer o certo, a promoção da diversidade pode impulsionar o crescimento e a reputação dos pequenos negócios”.
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