
Nesta última sexta-feira (04), a Polícia Civil do Pará prendeu Marcelle Débora Ferreira Araújo, de 51 anos, e Ronnyson dos Santos Alcântara, de 50 anos, acusados de manter uma mulher em cárcere privado e submetê-la a maus-tratos e exploração financeira por quase uma década. A vítima, Flávia Cunha Costa, de 43 anos, morreu no dia 19 de junho em decorrência de desnutrição grave, após anos vivendo sob controle psicológico dentro de um falso ministério religioso em Belém.
Formada em secretariado executivo e fluente em três idiomas, Flávia era professora de línguas e gerente de projetos científicos com atuação em diversas universidades do Brasil. Ela conheceu Marcelle em 2014, ao contratar serviços estéticos. Porém, a aproximação das duas se intensificou quando Flávia confidenciou questões pessoais e foi apresentada ao “Ministério Torre do Poder de Deus”, liderado por Marcelle e o marido.
Conforme apontam as investigações, a casa do casal, localizada no bairro do Guamá, funcionava como sede de uma suposta igreja, onde Flávia passou a viver em regime de confinamento, sem banheiro e sem acesso regular a água potável. Para beber água ou se lavar, ela precisava usar uma torneira externa durante a noite, escondida. Apesar das condições, Flávia continuava ainda trabalhava de forma remota. Contudo, todo o dinheiro que ela recebia era entregue ao casal, que controlava completamente a vida dela.
Conteúdos relacionados:
- Adolescente desaparecido é encontrado sem vida e com perfurações em Portel
- Retroescavadeira se desprende e mata quatro em estrada no Pará
- Mulher bate com motocicleta em poste e morre em avenida de Belém
Isolamento da família
Segundo relatos da prima e advogada Ana Paula da Silva Santos, Flávia foi convencida de que o sofrimento era necessário para a “purificação espiritual” dela. Aos poucos, ela deixou de manter contato com amigos e familiares, sob a crença de que todos estariam “endemoniados”. De acordo com Ana Paula, nenhum parente podia visitá-la sem autorização da suposta pastora, o que raramente ocorria.
Nos últimos anos, a família tentou resgatá-la diversas vezes, mas não obtiveram sucesso. Em maio deste ano, após denúncias anônimas, a polícia chegou a intervir no caso. No entanto, Flávia negou os maus-tratos e defendeu os líderes da seita, acusando a própria família de intolerância religiosa.
Morte e ocultação
Em 18 de junho deste ano, Flávia foi levada ao Pronto-Socorro do Guamá já em estado crítico. Ela foi apresentada como “vizinha” do casal e chegou a unidade desnutrida, com pressão arterial extremamente baixa. Sem documentos e sem acompanhante, ela foi abandonada por Marcelle e Ronnyson antes mesmo do término do atendimento médico.
Flávia faleceu no dia seguinte, 19 de junho, e, como estava sem identificação, foi registrada como indigente. A família só foi notificada sobre a morte 12 dias depois, em 1º de julho, após investigações da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), responsável pelo caso.
Mesmo cientes da morte e da investigações, Marcelle e Ronnyson seguiram publicando nas redes sociais que Flávia estaria “treinando”, “indo ao shopping” e frequentando restaurantes, em uma tentativa de ocultar o que havia ocorrido.
Quer receber mais notícias do Pará e do mundo? Acesse o canal do DOL no WhatsApp!
Prisão e investigação do caso
A prisão do casal foi autorizada pela 1ª Vara de Inquéritos Policiais de Belém. Ambos foram indiciados pelos crimes de violência psicológica, maus-tratos, cárcere privado e exploração financeira. Segundo a delegada Bruna Paolucci, responsável pelo caso, há indícios de que outras vítimas que possam ter sofrido abusos semelhantes.
As investigações continuam e a Polícia Civil solicita que denúncias sobre casos parecidos sejam feitas de forma anônima pelo número 181 ou pela plataforma da DEAM Virtual, que também oferece medidas protetivas para mulheres em situação de risco.
“A história da Flávia não pode ser esquecida. Isso vai além de uma única vítima. É um alerta sobre os perigos do abuso disfarçado de fé. Precisamos de justiça por ela e por todas as vidas que ainda podem ser salvas”, afirmou a advogada Ana Paula da Silva Santos, prima da vítima.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar