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ESTRELA SPICA

Estrela do Pará não é por adesão tardia à independência. Saiba a verdade

Mais do que um símbolo político, a estrela acima da faixa “Ordem e Progresso” guarda uma história de astronomia, geografia e identidade paraense e se conecta a uma obra de arte que revive a verdadeira adesão do estado à Independência.

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Imagem ilustrativa da notícia Estrela do Pará não é por adesão tardia à independência. Saiba a verdade

Muita gente acredita que a única estrela acima da faixa branca com a inscrição “Ordem e Progresso” na bandeira do Brasil representa o Pará porque o estado teria sido o último a aderir à Independência. Essa é uma das lendas mais repetidas sobre o nosso principal símbolo nacional, mas não corresponde à realidade. A verdade é que aquela estrela é Spica, a mais brilhante da constelação de Virgem, e foi escolhida por razões geográficas e astronômicas.

Quando a bandeira republicana foi criada, em 1889, pelo grupo liderado por Raimundo Teixeira Mendes, com participação de Miguel Lemos, Manuel Pereira Reis e execução artística de Décio Vilares, a ideia era representar o céu do Rio de Janeiro às 8h30 da manhã de 15 de novembro daquele ano, data da Proclamação da República, usando a disposição real das constelações visíveis nesse momento. O curioso é que o céu foi representado a partir da perspectiva de um observador situado fora da esfera celeste, como se olhasse para a Terra de longe, o que dá à imagem um aspecto “espelhado” em relação ao que vemos no solo.

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Spica ficou isolada acima da faixa branca porque, na época, o Pará era o único estado brasileiro cortado pelo Equador e Belém era a capital mais ao norte do país. Essa posição geográfica única justificou sua representação no “hemisfério norte” da bandeira. A faixa branca simboliza o Zodíaco projetado no céu e, ao mesmo tempo, remete à linha do Equador e ao Rio Amazonas, que também cruzam o estado. Assim, a estrela solitária não é um registro político da Independência, mas um retrato fiel do mapa celeste e da geografia brasileira no fim do século XIX.

Estrela do Pará não é por adesão tardia à independência. Saiba a verdade
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O cuidado com a representação astronômica foi tão grande que cada estado recebeu uma estrela específica, posicionada de acordo com a constelação correspondente. Até o Distrito Federal foi simbolizado de forma especial, pela estrela Sigma da constelação do Octante, próxima ao polo celeste sul, em torno da qual as demais estrelas parecem girar, uma metáfora perfeita para o papel da capital administrativa. A bandeira foi oficializada pelo Decreto nº 4, de 19 de novembro de 1889, preservando o losango e o retângulo do Império, mas substituindo o brasão imperial pela esfera azul estrelada e pela faixa branca com o lema positivista “Ordem e Progresso”. Mais tarde, leis como a nº 5.700, de 1971, e a nº 8.421, de 1992, estabeleceram critérios técnicos para a disposição das estrelas e atualizaram o desenho com a criação de novos estados.

Mas se a estrela de Spica é um símbolo científico e geográfico, o Pará também guarda em sua memória um marco histórico visual da sua verdadeira adesão à Independência. Em 2025, a Assembleia Legislativa do Pará devolveu vida a uma de suas obras mais emblemáticas: o painel “A Adesão do Pará à Independência do Brasil”, criado pela artista alenquerense Anita Panzuti com a colaboração de Betty Santos. A pintura monumental, concluída em 1971 e instalada três anos depois no hall de entrada do Palácio da Cabanagem, ocupa quase dez metros de largura por dois e meio de altura, sendo um dos marcos visuais da sede do Legislativo paraense.

A restauração, conduzida ao longo de cinco meses por uma equipe do Departamento de Memorial da Alepa, reuniu o trabalho minucioso de Sérgio Melo, Benedito Melo e Jobson Costa. O painel, que há quase meio século não recebia manutenção, exibia rasgos, manchas, respingos e marcas de grampeador. O processo de recuperação devolveu ao público as cores, texturas e detalhes originais que a passagem do tempo havia apagado.

Na obra, o momento histórico é retratado com intensidade: o bispo Dom Romualdo Coelho assina o documento que oficializa a adesão do Pará à Independência, enquanto o Palácio Lauro Sodré, atual Museu Histórico do Estado do Pará, se ergue ao fundo. À direita, a presença ameaçadora do brigue Maranhão evoca a pressão militar do almirante britânico Lord Thomas Cochrane e de seu capitão John Pascoe Greenfell, que cercaram Belém e forçaram a decisão do Grão-Pará.

Para o diretor do Memorial, Paulo Lourenço, preservar essa obra é preservar a própria memória do povo paraense. O painel é tombado pelo Inventário Cultural do Estado de Bens Novos e integra um conjunto de ações que também recuperaram outras peças do acervo e elementos históricos do Palácio da Cabanagem. Mais do que uma restauração, o trabalho representa um reencontro do Pará com um capítulo decisivo da sua história, agora eternizado não apenas nas páginas dos livros, mas também nas paredes que recebem diariamente os representantes do povo.

Assim, enquanto Spica brilha sozinha no alto da bandeira, marcando a singularidade geográfica do Pará no mapa celeste de 1889, o painel de Anita Panzuti eterniza, em traços e cores, o momento em que o estado se uniu ao Brasil independente. Dois símbolos um astronômico e outro artístico que juntos contam uma história de identidade, pertencimento e memória.

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