No silêncio dos cemitérios, o aroma de velas e flores anuncia que o Dia de Finados não é apenas um momento de lembrança, mas também de fé viva. Entre lápides e jazigos, histórias de devoção atravessam gerações, e fiéis caminham por trilhas de memória e agradecimento, deixando pequenos presentes em sinal de respeito e esperança.
GRATIDÃO AO "MENINO ZEZINHO"

No Cemitério da Soledade, inaugurado em 1850 e recentemente restaurado, o túmulo do "Menino Zezinho" é um dos mais procurados. José, falecido em 13 de fevereiro de 1881, ganhou status de santo popular e recebe homenagens em forma de brinquedos, bombons, água e alimentos.
"Devo tudo o que sou, como servidor público federal efetivo, a eles. Passei no Concurso da Receita Federal com apenas 18 anos. Como católico, acredito que eles não são santos, porque a Igreja não os reconhece, oficialmente, mas são almas que evoluíram e necessitam de nossas orações e pedidos. Eu só tenho a agradecer a eles por tantas graças alcançadas, na carreira e na vida", afirma Álvaro Pinto, de 71 anos, devoto de Zezinho e de outros santos populares do local.
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O comércio do cemitério também se conecta à devoção. Francisco de Jesus, 60 anos, vende velas no Soledade desde os 15 anos. "Toda segunda-feira eu acendo um pacote de velas para o menino Zezinho. Eu prometi a ele que iria fazer isso, em agradecimento à minha saúde e a da minha família. Eu acredito muito que ele ajuda as pessoas, de tanto ouvir as histórias, aqui. As pessoas pedem as mais variadas coisas, e ele atende", conta o vendedor.
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DR. CAMILO SALGADO

No Cemitério de Santa Izabel, fundado em 1870 e maior necrópole pública de Belém, o túmulo mais visitado é o do Dr. Camilo Salgado, médico conhecido por atender gratuitamente pacientes pobres e por seu caráter caridoso. Desde sua morte, em 1938, fiéis acendem velas e relatam graças alcançadas.
Cláudio Salgado, bisneto do médico, se emociona com a lembrança das histórias de curas e da devoção popular: "Acredito que há algo que não conseguimos explicar, que transcende a racionalidade. Manter viva essa adoração ao meu bisavô, mesmo depois de tanto tempo, sem nenhuma propaganda, nem ninguém da família divulgando isso, é um fenômeno encantador do imaginário popular."
"TRABALHADOR DO PLANO ESPIRITUAL"

Entre os devotos está a psicóloga Karen Mendes, que relata a cura de sua mãe por intercessão de Dr. Camilo: "O sentimento que me move, toda vez que venho aqui, é o de gratidão a um trabalhador do plano espiritual, pela ajuda tão importante a minha mãe. Que ele possa continuar sendo um intercessor diante dos espíritos maiores, como Jesus e Maria, para continuar ajudando as pessoas."
Figuras como o Menino Zezinho e Dr. Camilo Salgado não foram canonizadas pela Igreja Católica, mas se tornaram símbolos de fé e devoção popular em Belém, demonstrando o sincretismo religioso e a religiosidade característica da Amazônia. Entre oferendas, orações e histórias transmitidas de geração em geração, esses santos populares mantêm viva a tradição e a esperança de milhares de paraenses.
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