Em um território marcado pela abundância dos rios, o acesso à água potável sempre foi um paradoxo que expôs desigualdades históricas e desafios ambientais profundos. Na Amazônia urbana e insular, onde a natureza é generosa, mas a infraestrutura nem sempre chega, iniciativas públicas têm buscado transformar escassez em dignidade e sustentabilidade.
É nesse cenário que o Governo do Pará consolidou, em 2025, o projeto Água para Todos, uma iniciativa da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas) que promove justiça hídrica nas ilhas de Belém. A ação começou pelas ilhas do Combu e Grande, em Belém, beneficiando diretamente mais de 1.200 moradores, e já avança para estudos de expansão ao município de Barcarena, na Região Metropolitana.
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RESILIÊNCIA CLIMÁTICA
Política ambiental focada em soluções baseadas na natureza e tecnologia social, o Água para Todos garante acesso à água potável, fortalece a resiliência climática e valoriza comunidades ribeirinhas historicamente excluídas das redes convencionais de saneamento. O projeto atende escolas, unidades de saúde, empreendimentos comunitários e iniciativas agroextrativistas, tornando-se referência em inovação socioambiental.
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O ponto de partida foi um diagnóstico conhecido pelas populações locais: apesar de viverem cercadas por água doce, as comunidades insulares enfrentam escassez para consumo humano, agravada por variações climáticas, ausência de infraestrutura e vulnerabilidades sociais. A resposta do Estado foi apostar na combinação entre conhecimento científico, tecnologia limpa e autonomia territorial.
SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL
Segundo o secretário-adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da Semas, Rodolpho Zahluth Bastos, o projeto reafirma o acesso à água como direito humano. Para ele, o caráter piloto do Água para Todos comprovou que tratar água da chuva para consumo é uma solução eficiente, sustentável e alinhada às soluções baseadas na natureza, além de impulsionar a sociobioeconomia ribeirinha.
A iniciativa utiliza a tecnologia PluGoW, que capta e trata água da chuva com uso de energia solar, sem produtos químicos e adaptada à realidade amazônica. Cada sistema armazena ao menos cinco mil litros de água. Em espaços como a Escola Milton Monte, a capacidade chega a 15 mil litros, garantindo abastecimento contínuo.
AUTONOMIA DAS COMUNIDADES
Além da instalação dos equipamentos, moradores receberam capacitação para operação e manutenção dos sistemas em escolas, unidades de saúde, restaurantes comunitários e associações locais, como a Associação de Mulheres Extrativistas do Combu (AME). A formação reforça a autonomia das comunidades na gestão da água.
Pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA), Ronaldo Mendes destaca que a ciência foi fundamental para a escolha da tecnologia. Estudos indicam que a água da chuva apresenta condições mais próximas da potabilidade do que a água dos rios, o que torna o tratamento mais simples e seguro para o consumo humano.
REDUÇÃO DE EMISSÕES
O projeto também atua em frentes complementares, como a redução de emissões de CO₂, ao substituir soluções de alto impacto ambiental, e o fortalecimento da bioeconomia local. A integração de gênero é outro pilar, com sistemas instalados majoritariamente em espaços liderados por coletivos de mulheres.
Para Daniele Raiol, presidente da AME-Combu, o impacto do Água para Todos é imediato. Ela destaca a redução de custos, o acesso coletivo à água potável e a melhoria da qualidade de vida da comunidade, que deixou de depender da compra de água.
SEGURANÇA HÍDRICA
Integrado ao Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA) e a outras políticas ambientais, o projeto já apresenta resultados concretos, como segurança hídrica permanente, educação ambiental e fortalecimento das cadeias produtivas sustentáveis. O êxito rendeu reconhecimento nacional, com prêmios em iniciativas ligadas à COP30, ESG e indústria sustentável.
Com governança interinstitucional envolvendo órgãos públicos, universidades, startups e comunidades locais, o Água para Todos se consolida como política pública replicável. Para o Governo do Pará, a experiência abre caminho para expansão em regiões como Marajó e Baixo Amazonas.
Mais do que garantir infraestrutura, o projeto se afirma como uma estratégia de transformação social. Ao unir saberes tradicionais, ciência e gestão pública, o Água para Todos fortalece a justiça social, protege o meio ambiente e posiciona o Pará como protagonista na agenda climática e da bioeconomia amazônica.
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