A poesia, para João de Jesus Paes Loureiro, começou no batismo. Filho do Baixo Tocantins paraense, da cidade de Abaetetuba, o poeta que saiu da Amazônia para conhecer o mundo além dos barquinhos de miriti é hoje um dos mais célebres nomes da literatura paraense.
Traduzido em diversos idiomas em países da Europa e no Japão, ele mantém uma pacata rotina em Belém, que inclui caminhadas regulares na Praça Batista Campos e idas ao cinema e a museus, embora, como confessa, bem menos do que gostaria.
A alma sensível do homem que foi perseguido pela ditadura militar, por causa da poesia engajada e de cunho social (“fui levado algemado, de avião, para prisões no Rio de Janeiro”), traduz o sentimento de abandono que vê na capital. “Já não vagueio pelas partes que amo da cidade porque tenho medo da insegurança reinante, tenho ódio da feiura e sujeira que toma conta das ruas e obras. Tenho pena das mangueiras condenadas à forca dos fios elétricos dos postes, abandonadas como meninas de rua sem destino”, diz Paes Loureiro, que é casado com sua querida Violeta, como ele a chama, com quem tem dois filhos, Pedro e Walter.
O poeta nascido em 23 de junho de 1939 passou a infância em Abaetetuba, uma cidade que, define ele, se debruça sobre o rio Tocantins.
O período foi responsável pela sementeira de uma obra moldada também pelos lugares onde o poeta esteve e pelas artes e literaturas que absorveu. “Sou produto da vida de beira de rio, com dias de sol perdulário, a primeira namorada, jogo de bola na rua, a alegria das festas juninas e a fascinação pelo Circo que vezenquando vinha exibir-se na cidade”, relembra.
Paes Loureiro já publicou 18 livros de poemas e teve quatro peças de teatro encenadas, incluindo “Pássaro da Terra”, que teve música do maestro Waldemar Henrique. A extensa obra engloba também quatro livros teóricos – frutos da carreira acadêmica que o poeta exerce até hoje, na graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA) – um ensaio, uma novela (publicada apenas em francês), o romance “Café Central – O tempo submerso nos espelhos” e três discos musicais, com os parceiros Sebastião Tapajós e Salomão Habib.
Como escrever é preciso, o autor trabalha atualmente em um livro de poemas sobre Belém; na reedição de “Fragmentos”, também de poesias; no segundo romance, “que vou escrevendo com calma”; e na organização de textos variados para uma coletânea poética, que, pela primeira vez, abarca a produção para a internet.
ESPERANÇA
O intelectual cujo primeiro contato com a literatura foi ainda em Abaeté, na biblioteca de um médico da cidade, cresceu entre os livros, mas reconhece o valor da rede mundial de computadores como meio propagador da literatura.
“O livro perde indiscutivelmente sua hegemonia como suporte de leitura diante do surgimento de outros meios. Com a internet e sua amplitude incrível de operacionalização, muito mais possibilidades começam a surgir. O livro perde sua onipresença dominante, mas não vai desaparecer. Para nossa geração limiar, o livro é uma joia, um tesouro, um fetiche, um sacrário, mas já começa a não ser o mesmo para nossos filhos pequenos e netos”, diz, acreditando que “se vai ampliar enormemente a leitura, que é essencial para a maravilha de viver”. E o que poeta anda lendo atualmente? “Estou relendo, com calma, as recém-publicadas traduções de ‘Ilíada’ (Haroldo de Campos) e ‘Odisseia’ (Carlos Alberto Nunes)”, revela.
Para Paes Loureiro, a aldeia é apenas o ponto de partida para o cosmopolita. Romântico, como todo poeta um dia foi, ele assume: “O que me deixa mais indignado no mundo de hoje é o desamor, mas a nossa maior esperança é o amor”. Que assim seja.
(Diário do Pará)
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