Implantada há 14 anos, a política estadual de transplantes estagnou nos últimos três anos. Enquanto a fila de pacientes à espera de um doador só cresce, o número de transplantes no Pará se mantém o mesmo de 2012 e, em alguns casos, como o transplante de fígado, que já foi realizado no Estado, houve retrocessos.
Esse tipo de cirurgia não está sendo mais realizado nos hospitais paraenses. No caso dos transplantes de córnea, os números mostram que, não só houve uma estagnação, como há uma tendência de queda nos dados da coleta de órgãos e realização das cirurgias.
Em 2011, foram feitos 54 transplantes de rim no Pará. Em 2012 esse número caiu para 49 e em 2013, foram 53. No ano passado, foram apenas 50. Em relação às córneas, foram 238 em 2013 e, 212 no ano passado.
SEM AVANÇOS
Enquanto isso, segundo dados da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), existe hoje no Estado 926 pessoas à espera de uma córnea e outras 622 estão na fila aguardando um rim.
“A gente vê esses dados como muita preocupação e tristeza porque 14 anos depois de iniciados os transplantes no Estado, a gente não teve um aumento das taxas de doação”, diz a presidente da Associação dos Doentes Renais Crônicos do Estado do Pará, Belina Soares.
Para ela, é preciso transformar o atendimento aos pacientes que precisam de transplantes em uma política de Estado mais consistente.
Belina recorre a dados de outros Estados com orçamento público próximos ao do Pará e que hoje têm atendimento mais qualificado na área.
Não por acaso o Pará ocupa o penúltimo lugar no ranking dos Estados das regiões Norte e Nordeste que já tem programas implantados. Só perde para o Maranhão, onde a política de transplantes só foi implantada no ano passado.
No Pará, a média é de 2,5 doadores a cada um milhão de habitantes. No Piauí, o índice é de 5,1 doadores por milhão de habitantes e, no Amazonas, chega a 5,4.
O Ceará tem um dos melhores índices da região Nordeste, com 26,7 doadores a cada um milhão de habitantes.
“Uma pessoa com problema renal leva boa parte de seu tempo ligado à máquina de hemodiálise. Perde sua qualidade de vida, sua produtividade e só tem duas saídas: o óbito ou transplantes. É muito triste ver que essa realidade não está sendo tratada como deveria”, afirma Belina.
Falta de investimentos, desinteresse dos dirigentes de hospitais e desinformação das equipes médicas podem estar entre os fatores que levam a esse triste diagnóstico no Pará.
“Um exemplo da falta de interesse é que hoje não fazemos mais transplantes de fígado. Os órgãos captados aqui são levados para outros Estados e paraenses têm que sair daqui para se submeter à cirurgia. E não é por falta de profissionais qualificados e tecnologia. Há falta de interesse”, dispara Belina Soares.
A coordenadora adjunta da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, Ierece Miranda admite as dificuldades na área. Diz que um dos principais problemas é a falta de informação nos hospitais.
“Os hospitais não têm locais para fazer a captação dos órgãos. Não há interesse. É preciso desenvolver a cultura da doação”, afirma.
Ela explica que entre os anos de 1999 e 2007 o Pará realizou o transplante de fígado e chegou a fazer um transplante de coração, mas hoje são realizadas apenas cirurgias de córneas e rim. Significa que não apenas os números estagnaram como houve retrocessos na qualidade dos serviços. Hoje a medicina moderna permite o transplante de vários órgãos importantes como medula, pâncreas, pulmão, ossos, peles, coração, entre outros.
“É preciso que haja incentivo de todos os lados para que o número de atendimentos cresça e mais vidas possam ser salvas”, diz Ierece.
Ela explica que a central vai realizar uma série de eventos para explicar às instituições de saúde a importância de preparar as equipes para a captação de órgãos.
“Muitas vezes o profissional não sabe o que fazer quando se depara com uma doação e a central não é sequer avisada”.
Uma certeza de que atua no setor é de que o problema não é a falta de recursos. O Ministério da Saúde, por exemplo, criou em 1999 o Fundo de Ações Estratégicas e Compensações (Faec), que tem o objetivo de financiar a política de transplantes.
Para serem remunerados, contudo, os estabelecimentos de saúde precisam cumprir exigências como ter equipes treinadas e fazer o credenciamento junto ao município.
“Quanto mais procedimentos complexos realizam, mais eles recebem de recursos, então o que falta mesmo é interesse”, afirma Belina.
(Diário do Pará)
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