Antes, um grande rio navegável. Hoje, praticamente um igarapé. O rio Caraparú, localizado no município de Santa Izabel do Pará, na grande Belém, no passado, servia de rota para comerciantes que vinham de outras localidades e da capital, trazendo mercadorias para serem comercializadas na cidade e vilarejos ao longo do rio.
O Caraparú também é conhecido por abrigar uma das mais bonitas festas religiosas do estado, o Círio Fluvial em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, que acontece todo dia 8 de dezembro na comunidade.
Anualmente, o Círio de Caraparú ocorre nas águas do rio. Foto: Cezar Magalhães
Sua nascente, segundo informações de moradores mais antigos da Vila de Caraparú, fica na Vila de Americano e desce cortando o município até desembocar no Rio Guamá. Bonito por ficar no meio do que ainda existe de floresta, cheio de curvas, hoje, sofre com as mudanças climáticas, e principalmente, pela destruição do homem, que vem destruindo grandes áreas com desmatamentos e queimadas que estão, aos poucos, afastando o que ainda restava de vida animal na mata.
Atualmente, em boa parte da extensão do rio já se tornou apenas em uma lâmina d’água, podendo, em alguns trechos, se caminhar no meio dele com a água cobrindo apenas os pés. Tal cenário causa dor aos moradores e visitantes do local, tradicionalmente conhecido por suas belezas naturais, onde um dia, foi considerado um dos balneários mais procurados da região metropolitana, e, com a seca do rio, poucas pessoas ainda visitam o lugar, causando prejuízos aos comerciantes locais.
Wilson José Soares da Silva, 49, comerciante da vila, e um dos defensores das tradições de Caraparú, disse que é triste ver o rio daquele jeito, mais que acredita na natureza para recuperá-lo. “Nasci e me criei aqui, já vi o rio baixar e subir várias vezes, mais agora, ficou pior, a cada ano, ele seca mais”, lamentava.
Vários pontos próximos ao rio sofrem com queimadas. Em alguns casos, os culpados seriam alguns moradores. Foto: Cezar Magalhães
De acordo com outros moradores, o descaso do poder público com a localidade também contribui para este cenário. Para se chegar ao vilarejo, os turistas enfrentam grandes problemas, a contar pela estrada de acesso, que cheia de buracos, sem sinalização, colabora para afastar os visitantes.
É também Wilson que conta que antigamente os moradores viviam da produção de farinha e carvão, além da pesca, mas, com o passar do tempo, foram vendendo suas terras para grandes fazendeiros, e perdendo a identidade comercial do lugar, hoje, praticamente, se vive do pequeno turismo que se faz na vila, principalmente nos finais de semana e feriados, quando muitas pessoas procuram a vila para fazerem piqueniques, e passeios de barcos pelo rio.
A reportagem percorreu de canoa (único meio de transporte ainda usado) um longo trecho do rio e pode constatar as denúncias feitas pelos moradores. Vários pontos de mata pegando fogo, áreas desmatadas, grandes árvores caídas no meio do rio, enfim, o rio pede socorro. Aldo, um caboclo nativo de Caraparú, foi que nos conduziu em uma dessas pequenas embarcações, por cerca de dois quilômetros mata adentro, para nos mostrar a destruição do meio ambiente em que vivem.
Diversos trechos do Caraparú podem ser atravessados caminhando, até mesmo por crianças e adolescentes. Foto: Cezar Magalhães
Ele, que também é nascido e criado no lugar, ajuda a manter vivo o rio, fazendo, uma vez por semana, a limpeza de árvores e troncos que caem no rio, tudo para não deixar morrer o que ainda lhe resta de bonito em sua terra. Assim como ele, encontramos várias pessoas descendo ou subindo o rio, para ir em busca de um local onde ainda se possa pescar ou caçar alguma coisa. “Um dia, esse lugar já foi mais bonito, o rio era muito fundo, a gente pescava, caçava, tinha muito peixe, pássaros, caça, hoje...”, se emociona ao falar e ver a situação em que está ficando o lugar onde nasceu e vive hoje com sua família.
Quanto à realização da procissão fluvial do círio, a coordenação disse que mesmo que o rio esteja seco ou baixo, a procissão se realizará, nem que tenham que puxar a barca que carrega a berlinda da santa, mais a procissão se realizará. “Não importa do jeito que estiver nossa devoção a Nossa senhora da Conceição é muito maior, vamos realizar nossas homenagens a ela com o rio cheio ou seco”, disse uma das coordenadoras da festa.
A dois anos de completar cem anos, os organizadores da festa em homenagem à padroeira do lugar, já começam a se programar para a grande homenagem para 2018. “Em 2018, a Romaria Fluvial em homenagem a Nossa Senhora da Conceição completa 100 anos, e já estamos preparando uma grande festa, vamos celebrar e homenagear nossa senhora com grande festa e amor”, finalizou Walker Ramos, membro da igreja e um dos coordenadores da festa.
(Cezar Magalhães/DOL)
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar