Guamá: bairro mais populoso de Belém

Quando estava grávida do 1° dos 8 filhos, a aposentada Marcelina Batista Mendes se mudou para o bairro do Guamá. O cenário visto no entorno da rua Barão de Igarapé-Miri não tinha muita coisa além da lama e da mata de igapó. Com o tempo, ela viu as ruas de terra batida se transformarem no bairro mais populoso de Belém, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aos 90 anos, Marcelina não se arrepende da escolha feita há 65 anos. “Eu não troco o Guamá por nada”.Marcelina, porém, não esquece dos problemas enfrentados no início da formação da família. Hoje, comemora o fato de ter supermercados, farmácias e comércios sempre perto. “Barriguda de uma criança, eu andava por aqui com uma menina no colo e uma lata d’água na mão”, recorda. “Hoje já melhorou muito”.

SANEAMENTO

Desde que se mudou para o local, há 22 anos, o sapateiro José Lucilane, 53, aprendeu a tomar gosto pelas características que até hoje se mantém presentes no bairro. “Aqui todo mundo se conhece. É um bairro bom de morar.” Apesar das evoluções, o saneamento continua um problema muito presente na vida de quem mora no Guamá. Contrastando com o asfalto das ruas, as condições ruins do canal do Tucunduba são a prova de que muito ainda precisa ser feito. Tomado pelo mato e lixo, o canal abriga moradias de madeira.

A insegurança também é uma palavra muito ouvida entre os frequentadores do Guamá quando se questiona os quesitos em que ainda é necessário melhorar. As grades nas portas das casas e dos comércios apontam a dimensão do problema que, de tão intenso, chega a estigmatizar o bairro.Morador da travessa Liberato de Castro, o aposentado Edilson Navarro, 55, conta que já tentou manter um pequeno comércio na frente de sua casa. Após ter sido vítima de assaltos por 3 vezes, porém, a ideia de renda extra foi deixada de lado. “Tive de fechar porque fiquei com medo”. É o receio que faz o morador manter as grades da casa sempre trancadas. “Não pode descuidar de jeito nenhum”.

Foto: Mauro Ângelo

UFPA

É na beira do Rio Guamá que a produção de conhecimento se desenrola. Todos os dias, milhares de estudantes seguem em direção ao campus da Universidade Federal do Pará (UFPA). Uma das alunas da instituição, Lidiane Benjamin, 27, acredita que a sede é um ponto de integração com o Guamá. “Tem muita gente que não é do bairro, mas que vem para a universidade resolver uma série de coisas”, aponta. “A universidade acaba sendo umponto de convergência”.

O MELHOR

TRANSPORTE

“O que tem de positivo no bairro do Guamá é que aqui temos ônibus que vão para qualquer lugar da cidade. Não é difícil de se locomover porque tem ônibus
sempre perto”, diz Marinaldo Ferreira, aposentado.

O PIOR

VIOLÊNCIA

“O principal problema do Guamá é a insegurança. A gente sempre anda por aqui com medo de assalto. O problema não fica apenas no lado de fora, mas muitas vezes até mesmo dentro do campus da UFPA”

CULTURA

Morador do bairro do Guamá há 57 anos, desde que tinha 1 ano, Carlos Alves passa parte dos seus dias na sede da Escola de Samba Bole Bole, na passagem Pedreirinha. Fundado há 33 anos como um bloco carnavalesco, o grupo se tornou uma das grandes escolas de samba de Belém. As atividades mantidas com o objetivo primeiro de resgatar a cultura popular incluem o projeto do Boi Malhadinho e o oferecimento de oficinas de mestre-sala e porta-bandeira, além
de educação musical para as crianças do bairro.

(Cintia magno/Diário do Pará)