A incompreensão e fetichização da mulher trans como um objeto de desejo ainda é uma realidade preocupante, o que é refletido nas pesquisas que apontam o grande interesse em pornografia relacionada a mulheres trans no Brasil. Devido a este complexo contexto, muitas mulheres trans são empurradas para a prostituição, sentindo que esta é a única possibilidade de sustento.
Para a arquiteta Lara Oliveira, 29 anos, uma mulher trans que atua como assistente de projetos, é crucial reconhecer as dificuldades que mulheres trans enfrentam no Brasil, sendo este o país com maior número de assassinatos de pessoas trans no mundo.
Dia do Orgasmo: mulheres vencem tabus para “chegar lá”
Relacionamento saudável, tóxico e abusivo: saiba diferenciar
Segundo Lara, que se dedica também a participar de um grupo de mulheres trans, onde encontra suporte e troca de experiências, a presença do pênis em mulheres trans pode gerar um interesse e prazer específicos em alguns homens. Essa curiosidade pode estar relacionada à ideia de dominar e exercer poder sobre o corpo de uma mulher trans, visto como diferente e, portanto, objeto de fetiche. Essa visão objetificada também se reflete em muitos encontros sexuais, onde o prazer da mulher trans é frequentemente negligenciado, especialmente em contextos em que elas atuam como profissionais do sexo.
A assistente de projetos enfatiza que o prazer varia muito de mulher para mulher, seja cis ou trans, e está sujeito a múltiplos fatores influentes. Algumas mulheres trans podem encontrar prazer através do uso do pênis, enquanto outras podem não se identificar com essa experiência e preferir outras formas de estimulação. O importante é reconhecer que o prazer é uma experiência altamente individual e que não há uma norma a ser seguida, algo fundamental a ser refletido nesta segunda, 31 de julho, quando se comemora o Dia do Orgasmo.
Quando questionada sobre se o prazer das mulheres trans é devidamente validado, Lara responde com sinceridade: ela acredita que a validação do prazer depende muito do parceiro ou parceira com quem a mulher trans se encontra. Em muitos contextos, o prazer dessas mulheres é ignorado, especialmente quando estão com homens cisgêneros que buscam apenas a satisfação própria sem considerar o prazer da parceira trans.
A arquiteta ressalta que muitas mulheres trans ainda enfrentam dificuldades em conhecer e compreender plenamente seus próprios corpos. Algumas podem relutar em explorar a autodescoberta e a masturbação devido a questões relacionadas à disforia de gênero, enquanto outras podem encontrar prazer e orgasmo de maneiras diversas, incluindo o uso de vibradores. A experiência varia amplamente e não há uma única jornada para a descoberta do prazer.
Para psicóloga Amandda Albuquerque, a sociedade historicamente enfatizou a penetração vaginal como a principal forma de satisfação sexual, negligenciando a diversidade das experiências sexuais das pessoas com vulva. Amandda, que atende tanto presencialmente como de forma remota jovens e adultos, ressalta que é crucial reconhecer que muitas mulheres encontram mais prazer através da estimulação do clitóris, uma região altamente sensível e voltada para o prazer.
Pesquisas têm indicado que mulheres que têm relações sexuais com outras mulheres podem alcançar o orgasmo com maior facilidade, ao contrário de algumas mulheres heterossexuais. A razão para isso pode estar relacionada ao fato de que alguns homens desconhecem a importância da estimulação do clitóris para mulheres com vulva. O machismo, falta de conhecimento sobre a sexualidade feminina e falta de comunicação podem levar a abordagens inadequadas, prejudicando a experiência completa do prazer sexual.
A psicóloga reforça que o orgasmo é uma experiência altamente individual, que pode variar de pessoa para pessoa, independentemente do gênero ou orientação sexual. Portanto, é essencial promover o respeito, a compreensão e uma comunicação aberta sobre a sexualidade de cada indivíduo.
Com base em estudos atuais, não é possível afirmar que pessoas trans, não binárias ou de outras identidades de gênero têm uma maior probabilidade de ter orgasmos em comparação com mulheres heterossexuais. A capacidade de experimentar orgasmos é única para cada indivíduo, e diversos fatores físicos, emocionais, psicológicos e contextuais podem influenciar a resposta orgástica.
Ela enfatiza que é importante evitar generalizações e respeitar a diversidade sexual. Cada pessoa tem sua jornada pessoal em relação à sexualidade, e a busca pelo prazer deve ser encorajada de forma autêntica e saudável, independentemente da identidade de gênero.
Portanto, as problemáticas de gênero ainda exercem uma influência significativa na dificuldade das mulheres em alcançar orgasmos, uma vez que afetam diversos aspectos da vivência sexual feminina, desde a repressão dos desejos até a falta de informação e recursos para uma sexualidade saudável e satisfatória.
Reportagem de Andreza Alves, especial para do DOL. Andreza é jornalista, mestra em Comunicação pela Universidade do Minho (Portugal) e CEO na agência Chama Comunicação, de Belém do Pará.
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