Além de uma data comercial, o dia dos namorados foi criado para celebrar as diversas formas de amor. Sem discriminação, o amor é vivido por casais do mundo inteiro.
Porém, a comunidade LGBT+ ainda sofre preconceitos, principalmente por quem ainda não entende ou aceita as diversas identidades de gênero e orientações sexuais. As pessoas transexuais e travestis, por exemplo, são discriminadas na sociedade que não se interessa em conhecer ou saber mais sobre elas. Os casais transcentrados, aqueles formados por duas pessoas transexuais ou travestis, existem e resistem demonstrando afeto como tantos outros casais.
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Hugo Leonardo, estudante e trancista, conta que começou a desenvolver uma relação transcentrada em 2020, poucos meses antes da pandemia, em um momento que não havia um entendimento maior sobre esses relacionamentos: "Na época que nem é tão distante assim, se for parar para pensar, ainda não tinha generalizado sobre transcentrar. Parecia mais uma possibilidade no campo das ideias do que referências concretas e eu buscava me formar politicamente sobre questões que precisam ser discutidas para que haja um entendimento sobre a nossa população 'T' e até na minha construção individual", explicou.
Outra questão que incomoda quem faz parte da comunidade LGBT+ são os fetiches e idealizações da sociedade em geral e isso também prejudica a construção das relações.
"Obviamente tem toda uma idealização sobre essa relação tanto de fora para dentro quanto de dentro para fora, onde a partir desse olhar temos uma falsa sensação de completude, onde nós e a sociedade enxergam pessoas que tem possibilidades de entender suas questões parecidas dentro de uma relação", explica. “Disforias, afeto ou a falta dele, até a idealização de amor entra em debate nessas vivências, pois o que conhecemos de romance sempre está ligado a expressões artísticas que demarcam uma certa naturalidade que não tem na prática, a partir do momento que há todo um perigo em relação aos nossos corpos que o amor não protege”
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A luta por amor e a liberdade, é constante por pessoas transexuais. Segundo trancista, o amor próprio é uma forma de coragem para se relacionar com quem se ama:
Assim nasce uma maneira de amor mais racional, onde a relação com o outro gera a prática de autocuidado, a compreensão de corpo que não seja só de artifícios biológicos, como pensar uma gravidez com comprometimento e responsabilidade, sexo sem trauma, prevenção. Pensar o amor como ação de cura
Hugo Leonardo, Estudante e trancistaO AMOR TRANSCENTADO
Ainda longe dos outdoors e campanhas publicitárias de dia dos namorados, a falta de representatividade das pessoas trans não os impede de viver intensamente um grande amor. Já que o amor é universal, o afeto também é.
Para Hugo, o amor se reinventa e o pensamento de que nada é para sempre se torna uma forma de conforto: "Amar é confiar em alguém que vai te trazer a leveza no mundo caótico, como uma boa trilha sonora de um fim feliz. Quem me ama como sou, vai ter meu amor como ele é".
Em um relacionamento transcentrado há 2 meses, Hugo diz que tudo começou com uma admiração mútua criada em um lugar em que se debate arte, com diálogo: "Estou numa relação transcentrada atualmente. Ela é dona de uma marca de estamparia em tecido da fauna e da flora amazônica, mulambra. Nós nos conhecemos fazendo arte, carregando nossa verdade através da expressão. Nesse lugar onde podemos fabular, criar e mostrar o que queremos. Foi um encantamento das duas partes através da admiração e do diálogo, eu faço cinema, sou poeta e estudante da UFPA", relembra.
Buscar o amor, seja ele trans ou cisgênero, é algo que preenche os dias e a vida. Ter com quem contar e poder amar livremente nos ajuda a entender quem somos, o que queremos e o que pensamos, essa também é uma forma de transformar o mundo em um lugar melhor.
"Antes de toda história individual existe uma luta coletiva para construir o que queremos para o mundo e essa é a forma mais saudável que construo, utilizando a força que o amor tem em nossas vidas para ver o mundo que queremos", concluiu Hugo.
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