Há duas décadas e meia chegava às farmácias uma medicação que transformaria para sempre a qualidade e a longevidade da vida sexual masculina. A possibilidade do uso de citrato de sildenafil para o tratamento da disfunção erétil em várias idades ocorreu meio que por acaso, durante um estudo relacionado ao tratamento de doenças do coração. Foi por conta de uma surpreendente melhora relatada pelos participantes dos testes em suas vidas sexuais que posteriormente surgiria o Viagra®, remédio que explodiu em vendas com a promessa de devolver a capacidade da prática sexual rotineira àqueles que, por algum motivo, já não mais conseguiam.
O urologista Ricardo Tuma já era médico urologista há dez anos quando o Viagra foi lançando no mercado. Ele confirma que não há exageros ou dúvidas em relacionar esse momento a uma grande melhora na vida de muitos homens.
“Vendiam mais de cinco milhões de unidades do comprimido no mundo à época do lançamento. É um produto que resgatou a qualidade de vida. Homens com disfunção erétil até então estavam condenados a não ter mais relações sexuais ou então a ter de colocar prótese, ou fazer uso de drogas intracavernosas, injeções no pênis para poder obter uma ereção que permitisse a relação sexual”, detalha o médico.
Tuma lembra que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), função sexual é um dos parâmetros de medição de qualidade de vida de uma população. “E o uso do Viagra transforma não só a vida sexual do homem que toma, mas também da pessoa com quem esse homem se relaciona. O Viagra significou uma transformação brutal no restabelecimento da sexualidade de muitos homens. Alguns com 60, 70, 80 anos tomam de forma regular e conseguem ter uma qualidade de vida muito boa”, relata o médico.
Apesar de ser absolutamente contraindicado para pacientes que fazem uso de vasodilatadores com base em nitrato, a medicação pode ser adquirida facilmente em qualquer receita, sem necessidade de prescrição médica. Também não há regulamentação no sentido de determinar idade mínima ou máxima para seu uso.
O urologista explica que são muitos os fatores que podem impactar a capacidade erétil masculina, que vão desde aborrecimentos, ansiedade, a fatores como diabetes, hipertensão, exposição ao cigarro e excesso do consumo de álcool.
“Alguns jovens fazem, na verdade, por insegurança com a própria performance, a utilização desenfreada, acham que tomam e ficarão ‘turbinados’ - o que nem sempre acontece. Pode ser usado como droga recreativa naquele momento da relação sexual, mas a ereção depende muito da emoção do homem”, pontua.
“O jovem pode usar para recuperar a autoestima em caso de perda de segurança na performance. Há aqueles que precisam, como é o caso dos diabéticos tipo I, que desenvolveu a doença ainda criança. Uma avaliação médica criteriosa dará a indicação correta”, reforça.
Hoje e 25 anos atrás as contraindicações continuam sendo as mesmas. Quem usa drogas vasodilatadoras a base de nitrato - há drogas vasodilatadoras com outras bases - tem contraindicação absoluta e se tomar pode gerar complicação cardíaca muito severa.
“Um hipertenso tratado, controlado com uso de medicamentos, não tem impedimento algum de tomar, diabético mesma coisa. Isso é algo que as pessoas falam muito: quem tem pressão alta não pode tomar. É conversa, é mito. Mas para o cardiopata que usa medicação a base de nitrato, a contraindicação segue forte, já que a associação pode gerar uma severa complicação cardíaca”, alerta.
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Profissional da mesma especialidade clínica, o médico Marcus Queiroz também confirma que, nos dias atuais, o citrato de sildenafil está entre as drogas consideradas de “primeira linha” para disfunção erétil, embora hoje já existam outras opções, como a tadalafila e a vardenafila, colecionando boas respostas de seus usuários.
“Hoje temos esses medicamentos com diferentes doses, que serão adaptadas para cada paciente pelo médico responsável. Os riscos e efeitos colaterais de todas devem ser ponderados quando indicado o tratamento”, informa. “O lançamento do Viagra, em 1998, foi um marco importante para a medicina, para a urologia, porque até então não tínhamos uma medicação via oral que tivesse uma boa resposta clínica”, relaciona.
Para o urologista, o uso de forma recreativa e sem indicação médica não é seguro. “A necessidade de manutenção do tratamento precisa ser avaliada pelo médico, pois existem efeitos colaterais a longo prazo e medidas como modificação do estilo de vida, controle do tabagismo, da obesidade, do sedentarismo, avaliação da necessidade de reposição hormonal, estresse negativo e o relacionamento do casal deve ser avaliado, pois todos esses fatores podem interferir na qualidade da ereção peniana”, justifica.
Ricardo Tuma conta que é preciso acolher o paciente que se vê diante da necessidade do uso do medicamento, porque ainda há um embaraço diante da situação, principalmente na hora de ir à farmácia.
“Eu costumo pedir ao paciente que compare o pique para corrida, a cor do cabelo e outros detalhes de 20 anos atrás com o de hoje. E explico que o mesmo ocorre com a função sexual. Há quem peça a receita com o nome genérico, para evitar constrangimento, há quem faça brincadeiras com o tema. Cada paciente é um perfil”, compara.
Tuma faz questão de enfatizar que o remédio ajuda, mas não faz tudo, ainda mais se houver uma situação de receio em usar o remédio. “Se ouviu muito sobre homens que tomavam e morriam durante o ato sexual. A verdade é que dez mil homens morrem por ano sem Viagra nenhum, e sim por esforço físico. No sexo, no futebol, na esteira. Eu diria que, nesse sentido, o remédio até protege, porque o homem segue para a relação sexual já bem menos ansioso “, conclui.
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