
Como uma atividade que está sempre produzindo dados novos através de importantes descobertas, a arqueologia dá uma contribuição fundamental para os estudos clássicos, entendidos como a investigação sobre a Antiguidade em seus vários aspectos. Mês passado, um importante documento foi “desvendado” em Israel.
Arqueólogos descobriram um papiro de 1.900 que oferece a melhor documentação já vista desde o julgamento de Jesus sobre como tribunais romanos na Judeia avaliavam seus casos.
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O achado, feito originalmente pela professora Hannah Cotton Paltiel, da Universidade Hebraica de Jerusalém, e investigado pelo seu time internacional formado por Anna Dolganov, da Academia Austríaca de Ciências, Fritz Mitthof, da Universidade de Viena, e Avner Ecker, da Universidade Hebraica, foi publicado na revista científica Tyche, em 20 de janeiro.
Erro deixou papiro "esquecido"
Paltiel encontrou o papiro em 2014, enquanto trabalhava no acervo da unidade dos manuscritos do Mar Morto, da IAA (Autoridade de Antiguidades de Israel). Ao revisar tantos achados, ela percebeu que um deles havia sido classificado erroneamente.
"Quando vi marcado como nabateu [povo nômade de origem árabe], eu gritei 'parece grego para mim!'", disse a professora em comunicado à imprensa. Ela logo percebeu que este era o mais longo registro escrito encontrado no deserto da Judeia que já tinha visto, todo em grego antigo e de estilo rebuscado.
O texto tinha mais de 133 linhas, mas algumas pareciam ter se perdido com o tempo. Como não seria fácil descobrir qual era o propósito do papiro, Paltiel reuniu colegas para decifrá-lo. O esforço durou dez anos, mas revelou como os romanos lidavam com crimes financeiros.
Parte das anotações pertenceram aos promotores do tribunal romano, que se preparavam para um julgamento que teria acontecido às vésperas da revolta de Bar-Kochba, ocorrida entre 132 e 136 d.C. e também conhecida como a terceira guerra judaico-romana. Outra porção mostra um rascunho de transcrição da audiência.
Fraude, falsificação e libertação de escravizados
De acordo com a IAA, a linguagem é "vibrante e direta", com um promotor aconselhando outro por escrito a respeito da força de diversas provas e trabalhando na estratégia para contornar possíveis protestos da defesa. Os crimes em questão eram fraudes de impostos envolvendo escravizados nas províncias da Judeia e Arábia.
De certa forma, o papiro conta a história de dois réus: Gedaliah e Saul (ou Gadalias e Saulos, na grafia grega), acusados de falsificar documentos de vendas fictícias de escravizados e de suas libertações, sem o pagamento de impostos exigidos.
Gedaliah, que, ao que tudo indica, era de uma família respeitável e pode até ter sido um cidadão romano, também foi acusado de outros crimes como violência, extorsão e incitação à rebelião.
“Este papiro é extraordinário, porque oferece uma visão direta das preparações para um julgamento nesta parte do Império Romano. A falsificação de documentos e a evasão fiscal eram considerados crimes graves no Império Romano, puníveis com trabalho forçado e até mesmo execução”, disse Anna Dolganov, da Academia Austríaca de Ciências, em comunicado à imprensa
Segundo o papiro, os réus estavam bem familiarizados com as leis e a administração romanas, explorando-as para benefício próprio. É possível que a evasão fiscal no caso de libertação de escravizados possa estar relacionada a uma espécie de resgate de cativos comprados diretamente de seus donos ou no mercado local, anunciou a Universidade Hebraica.
Ou seja, as autoridades romanas suspeitavam que estes não fossem criminosos comuns, mas conspiradores contra o Império tentando libertar o povo israelense do jugo romano.
O papiro foi guardado em uma caverna no deserto da Judeia durante a revolta, mas ainda não se sabe como ele chegou lá, já que seu conteúdo é diferente de outros deixados por refugiados na região, segundo os estudiosos, que incluíam escrituras de heranças e outros registros mais pessoais. É possível que ele tenha sido guardado porque o processo foi interrompido pela rebelião.
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