
Ao longo da história, decisões que pareciam depender apenas da inspiração divina revelaram o peso das tensões humanas. Na Igreja Católica, o processo de escolha do novo papa - que deveria ser conduzido com serenidade e fé - já foi marcado por impasses dramáticos, revoltas populares e até privações forçadas para pressionar os cardeais. Muito antes da instantaneidade dos tempos atuais, os conclaves podiam se arrastar por meses, ou até anos, colocando à prova a paciência dos religiosos e dos fiéis.
O conclave mais longo da história durou inacreditáveis 33 meses e só terminou em setembro de 1271, com a eleição do papa Gregório X. A sucessão papal havia sido deflagrada após a morte de Clemente IV, em 1268, mas o cenário político da época, repleto de disputas entre diferentes facções dentro da Igreja e fora dela, paralisou as votações em Viterbo, ao norte de Roma. A lentidão indignou a população local, que chegou a remover o teto do palácio onde os cardeais estavam reunidos e cortar o fornecimento de comida - numa tentativa literal de “deixar o Espírito Santo entrar”.
CONTEÚDO RELACIONADO
- O que é o conclave? Entenda o ritual de escolha do novo papa
- Papa Francisco reformulou funeral para refletir humildade cristã
- Vaticano divulga primeiras imagens do papa Francisco no caixão
MUDANÇA DE REGRAS
Dois cardeais morreram durante o processo, que durou exatos 1006 dias, e um terceiro adoeceu e teve de deixar o conclave. Quando finalmente Gregório X foi eleito, uma de suas primeiras decisões como pontífice foi estabelecer regras para que aquela situação nunca mais se repetisse.
Quer mais notícias de curiosidades? Acesse o canal do DOL no WhatsApp.
Em 1274, ele determinou que, passados dez dias da morte de um papa, os cardeais deveriam se reunir trancados em um único cômodo. Se não elegessem ninguém em três dias, receberiam apenas uma refeição por dia. Após cinco dias, só pão, água e vinho — até que o novo papa fosse escolhido.
IMPASSE, PROFECIA E RENÚNCIA
Apesar da medida drástica, vinte anos depois, a Igreja enfrentaria outro impasse prolongado. Em 1292, com a morte do papa Nicolau IV, os cardeais levaram 27 meses para eleger um sucessor. A escolha surpreendente foi por Pietro del Morrone, um eremita de mais de 80 anos que vivia recluso em jejum e oração.
Ele havia enviado uma profecia aos cardeais, alertando para uma possível punição divina caso o impasse continuasse. Acabou sendo escolhido ele mesmo, adotando o nome Celestino V. Mas o gosto pela solidão falou mais alto e, poucos meses depois, ele renunciou ao papado - gesto que não voltaria a se repetir por vontade própria até Bento XVI, em 2013.
As lições desses episódios históricos ainda ecoam nos bastidores da Igreja. E, diante de momentos de transição como a morte ou renúncia de um pontífice, o mundo católico observa o conclave com atenção - e, agora, com um pouco mais de urgência (e teto intacto).
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar