
Muitas civilizações marcaram a história por sua grandeza ou influência em línguas e estudos utilizados até atualmente. Mas pouco se pensa sobre outras características e costumes da época.
Quando se pensa na Roma Antiga, é comum imaginar os sons e imagens da grandiosa civilização: o rugido das multidões nas arenas, a movimentação do fórum, os imponentes templos, o exército marchando em vermelho com escudos brilhantes. Mas, e quanto aos cheiros? Pouco se sabe, ou se imagina, sobre os aromas que preenchiam o ar da capital do Império.
Embora seja impossível viajar no tempo para sentir os odores do passado, uma combinação de textos literários, vestígios arqueológicos, estruturas físicas e evidências ambientais oferece pistas valiosas sobre o que se respirava na Roma antiga.
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Entre perfumes e podridão
De acordo com descrições do naturalista Plínio, o Velho, plantas e flores eram associadas a aromas "agradáveis", "pungentes", "fortes" ou "fracos", o que indica alguma sensibilidade à variedade de odores. No entanto, a realidade urbana para a maioria dos romanos estava longe de ser perfumada.
Especialistas afirmam que muitos imóveis sequer eram conectados aos esgotos, o que contribuiu para uma cidade com forte cheiro de sujeira e resíduos humanos. Os esgotos funcionavam como canais abertos, destinados principalmente a drenar a água parada das vias públicas, e não necessariamente a conduzir dejetos para fora da cidade.
Nas latrinas públicas e privadas, fezes eram coletadas para uso como fertilizante, enquanto a urina tinha aplicação no tratamento de tecidos. Em residências mais modestas, o uso de recipientes portáteis, como comadres, era comum – e o descarte acontecia em fossas, se houvesse acesso a uma.
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Animais e morte a céu aberto
Além do odor de resíduos humanos, o ambiente urbano era fortemente marcado pela presença de animais e seus dejetos. Mulas, burros e gado circulavam pelas ruas, utilizados em padarias e transportes, ou levados para o abate. O cheiro era intensificado pelo calor e pela falta de higiene.
Os grandes degraus de pedra ainda visíveis nas ruas de Pompeia, por exemplo, ajudavam os pedestres a atravessar as vias evitando o contato direto com a sujeira acumulada entre as pedras.
A decomposição de cadáveres – humanos ou animais – também fazia parte da paisagem olfativa. Sem regras rígidas para o sepultamento, corpos poderiam ser abandonados ao relento, especialmente se pertencentes às classes mais baixas. O historiador Suetônio chegou a relatar o caso de um cachorro que levou uma mão humana à mesa do imperador Vespasiano.
Higiene pessoal e os “desodorantes” romanos
Num cotidiano sem banho diário para a maioria da população, o odor corporal era comum. Ainda assim, havia tentativas de minimizar esse aspecto. A literatura clássica registra receitas caseiras de pastas de dente e desodorantes – alguns dos quais deveriam ser ingeridos, na crença de que isso evitaria o mau cheiro nas axilas.
Um exemplo envolvia ferver a raiz do cardo dourado em vinho, supostamente para estimular a micção e eliminar toxinas causadoras de odores.
Os famosos banhos públicos, embora símbolos de sofisticação, não eram tão higiênicos quanto aparentam. Pequenas banheiras coletivas acomodavam até 12 pessoas simultaneamente. Em vez de sabão, os romanos preferiam azeite de oliva, que era aplicado sobre a pele e depois raspado com uma ferramenta chamada strigil. O resíduo – uma mistura de óleo e sujeira – era descartado, muitas vezes obstruindo os ralos.
Os aromas da vaidade e da devoção
Apesar dos problemas sanitários, o olfato não era negligenciado. Perfumes e incensos faziam parte da vida romana, tanto no uso pessoal quanto em rituais religiosos. A invenção da técnica do sopro em vidro no final do século I a.C. facilitou o acesso a frascos para armazenar essências – que hoje são encontrados com frequência em escavações arqueológicas.
Essências de rosa, canela, íris, incenso e açafrão eram infundidas em gorduras vegetais ou animais, muitas vezes com propriedades medicinais. As rosas da região de Paestum, no sul da Itália, eram particularmente valorizadas. Há registros até de uma perfumaria descoberta no fórum dessa antiga cidade.
A dimensão sagrada dos aromas também era marcante. Estátuas de deuses e deusas podiam ser ungidas com perfumes, e inscrições da ilha grega de Delos mencionam especificamente fragrâncias à base de rosas para esse uso. A cera de abelha era usada como fixador.
Uma cidade de cheiros intensos
No geral, Roma cheirava a uma combinação de fezes humanas, fumaça de madeira, carne em decomposição, restos de comida, perfumes, incensos e muito mais. Um verdadeiro ataque olfativo para os padrões contemporâneos.
No entanto, de acordo o historiador Neville Morley, talvez esses aromas representassem, para os antigos, o cheiro de “lar” – ou até mesmo o perfume da civilização no auge de sua complexidade.
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