
Preservadas pelo frio extremo e pelo ar rarefeito a mais de seis mil metros de altitude, algumas múmias oferecem um vislumbre único sobre a vida e as crenças de civilizações antigas. Entre elas, estão três crianças incas encontradas no topo do vulcão Llullaillaco, na fronteira entre Chile e Argentina, que se tornaram uma das descobertas arqueológicas mais impressionantes das últimas décadas.
Há cerca de 500 anos, o povo Tawantinsuyu — mais conhecido como Império Inca — realizava mais uma edição do ritual Capacocha, cerimônia que combinava religiosidade, política e devoção aos deuses. Três crianças, selecionadas de diferentes províncias, foram levadas à capital, Cusco, para viver entre a elite. O grupo era formado por uma menina de cerca de 11 anos, um menino e outra menina de aproximadamente três anos.
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Durante dois anos, elas participaram de eventos, receberam cuidados especiais e tiveram uma mudança radical na dieta, passando a consumir carne e iguarias raras para pessoas comuns. Um mês antes do sacrifício, iniciou-se a jornada de 1.500 quilômetros até o Llullaillaco, local escolhido para a cerimônia. No caminho, foram alimentadas com folhas de coca e álcool, substâncias que provocavam sonolência e diminuíam a resistência física.
No topo do vulcão, as crianças foram colocadas para dormir em sepulturas e morreram naturalmente, provavelmente devido ao frio. Para os incas, a morte não era o fim, mas o reencontro com os ancestrais para proteger as comunidades. Objetos preciosos, como estátuas de ouro, prata e tecidos finos, foram enterrados junto a elas como oferendas aos deuses.
Descobertas em 1999 pela equipe do arqueólogo Johan Reinhard, as três múmias ficaram conhecidas como a Donzela, o Garoto e a Garota do Raio — esta última teria sido atingida por um raio séculos depois. Exames mostraram que vinham de famílias camponesas e que, antes do ritual, receberam alimentação mais nutritiva e doses crescentes de coca e álcool.
Hoje, os corpos estão no Museu de Arqueologia de Alta Montanha (MAAM), em Salta, Argentina. Eles permanecem em cápsulas de alta tecnologia, sob temperatura de -20 °C e atmosfera controlada para preservar seu estado impecável. Apenas uma múmia é exibida por vez, sendo substituída a cada seis meses para minimizar riscos.
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Consideradas um testemunho vivo do último século do Império Inca, as crianças do Llullaillaco revelam não apenas detalhes de um ritual sagrado, mas também a complexidade cultural e espiritual de uma das civilizações mais marcantes das Américas.
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