
A aguardada 5ª edição do romance Belém do Grão-Pará, de Dalcídio Jurandir, já está em campanha de pré-venda pela Editora Folheando. Considerada uma das obras-primas do autor paraense, a narrativa retorna aos leitores após quase uma década sem reedições — um silêncio editorial que agora se rompe com entusiasmo e propósito.
Publicado originalmente em 1960, o livro é o quarto volume do Ciclo do Extremo Norte, projeto literário ambicioso que traça um painel vívido da vida amazônica em suas múltiplas camadas sociais, políticas e afetivas. Em Belém do Grão-Pará, o leitor mergulha no cotidiano de uma cidade em transformação e nas contradições de seus personagens, marcados por disputas políticas, decadência familiar e esperanças renascidas.
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A nova edição — com envio previsto para dezembro — marca também o início de um projeto maior: a Folheando pretende relançar todas as obras de Dalcídio Jurandir, oferecendo ao público uma oportunidade de (re)descobrir o legado literário de um dos mais importantes autores da Amazônia e da literatura brasileira do século XX.
A pré-venda vai até 21 de novembro, e os exemplares podem ser adquiridos com condições especiais no site da editora. Este relançamento é mais do que uma comemoração editorial: é um compromisso com a memória, a cultura e a força da literatura que nasce das margens do norte brasileiro.
Escritor brilhante nascido no Marajó
Dalcídio Jurandir nasceu em 1909, na Vila de Ponta de Pedras, atual município de Ponta de Pedras, no estado do Pará. Filho de Alfredo Pereira e Margarida Ramos, a infância do escritor foi vivida em Cachoeira, atual município de Cachoeira do Arari, onde seus primeiros anos de vida foram marcados pelas paisagens e desafios da Amazônia.
Aos 13 anos, em 1922, Dalcídio se muda para Belém e inicia sua trajetória escolar no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Em 1927, com apenas 18 anos, decide deixar a escola e, em 1928, segue para o Rio de Janeiro, onde buscaria novas oportunidades. Mas a vida na capital fluminense não foi fácil. Sem recursos financeiros, o jovem Dalcídio sobreviveu como lavador de pratos e, mesmo em condições precárias, começou a se envolver com o mundo da imprensa. Foi nesse período difícil que ele concluiu seu primeiro grande trabalho literário, Chove Nos Campos de Cachoeira, que se tornaria uma das obras mais importantes de sua carreira.

Após esse período de dificuldades no Rio, Dalcídio retorna a Belém em 1931 e se junta ao governo estadual, onde ocupa o cargo de auxiliar de gabinete na Interventoria do Estado. Durante esse tempo, escreve para diversos jornais e revistas da cidade. Seu ativismo político, no entanto, não passou despercebido pelas autoridades. Em 1936, foi preso por sua militância e permaneceu dois meses no cárcere. Seu retorno à prisão em 1937, desta vez por quatro meses, não o impediu de seguir escrevendo, e, em 1939, ele retorna ao Marajó como inspetor escolar.
Foi em meio a tantas adversidades que Dalcídio, em 1940, conquistou um importante reconhecimento literário. O romance Chove Nos Campos de Cachoeira venceu o concurso promovido pela Revista Dom Casmurro, o que lhe garantiu o primeiro lugar e, finalmente, a oportunidade de publicar seu livro em 1941 pela editora Vecchi. O prêmio marcou o início de uma carreira literária sólida e consagrada.
Nos anos seguintes, Dalcídio continuou a escrever e a se engajar no cenário político. Em 1945, tornou-se diretor do Tribuna Popular e colaborou com publicações como O Jornal e a famosa revista O Cruzeiro. Em 1947, publicou seu segundo romance, Marajó, pela editora José Olympio, consolidando-se como um dos grandes nomes da literatura brasileira da época.
Literatura e política
Sua trajetória foi marcada pela escrita, pela luta política e pela busca incansável por justiça social. Nos anos seguintes, Dalcídio continuou a trabalhar como repórter, inclusive para a Imprensa Popular, e realizou viagens internacionais, passando pela União Soviética e Chile. Sua obra foi traduzida para diversos idiomas, alcançando uma audiência global.

Em 1972, sua contribuição à literatura brasileira foi reconhecida pela Academia Brasileira de Letras, que lhe concedeu o Prêmio Machado de Assis, uma das maiores honrarias do país. A premiação, entregue por ninguém menos que Jorge Amado, foi um tributo ao legado de um escritor que soube unir em suas obras a força da palavra e o compromisso com a justiça social.
Dalcídio Jurandir faleceu em 1979, mas seu legado continua a reverberar. Seus romances, crônicas e relatos de sua terra natal e da luta social permanecem como testemunhos da realidade brasileira, e sua história é a de um homem que soube transformar a adversidade em arte e ação.
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