
Histórias simples do cotidiano ganham vida na poesia de Dona Onete, conhecida como rainha do carimbó chamegado. A paraense é uma das convidadas da live que homenageia a figura do compositor popular, promovida hoje, às 20h, na plataforma do YouTube do Centro de Música Sesc. Odair José, que conta com 50 anos de trajetória musical, divide os holofotes com ela também para falar sobre os caminhos da composição. A mediação será da jornalista Linda Ribeiro.
“Acredito que a live será um bate-papo de lembranças das músicas dele e das minhas, contará sobre as músicas da vida da gente. Todas as minhas músicas não são aleatórias, têm sempre uma história bonita no meio”, diz a artista. “Odair José é um cantor muito conhecido desde os anos 1970 e 1980, com músicas que fizeram sucesso, tem muita coisa bonita. Tem uma música dele sobre a pílula anticoncepcional que ficou muito marcada na época e criou polêmica”, conta Onete sobre a obra “Pare de Tomar a Pílula”, que gerou censura pela Ditadura Militar na época.
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“Eu acho que meu trabalho tem uma semelhança com o trabalho dele feito no período dos anos 2000. A minha música fala sobre as nossas coisas, sobre a vida da gente”, avalia Onete.
Cercada por uma vasta biodiversidade amazônica, Onete diz que as composições dela nascem assim, a partir de sua observação do cotidiano, de coisas que as pessoas falam, do cenário amazônico, com a fauna e flora abundantes da região. Foi assim que aconteceu com “No Meio do Pitiú”, do álbum “Banzeiro” (2016), onde até o urubu é apresentado com a poética da icônica Dona Onete, alçada com esta música para um sucesso nacional e internacional cada vez mais consolidado.
“No meio do Ver-o-Peso, ouvi as crianças comentando sobre os urubus e dali foi surgindo a canção”, conta ela, dizendo que não sabe muito bem quando suas composições se tornam o mais novo hit do momento. “Eu vi poesia no urubu. Naquele dia, as crianças viram o urubu e me falaram: ‘olha, Dona Onete, o urubu’ Parecem dois namorados, desfilam lá’”, conta, recordando como a música nasceu.
A poesia surge do inusitado, onde quem tem alma de compositor consegue enxergar beleza e se inspirar, descreve ela. “Quando você for à Estação das Docas, escolha uma noite bem enluarada, aquela lua cheia linda dos enamorados. Você precisa contemplar a lua que, quando toca nas águas, lá no fim da Baía do Guajará, parece que beija a água. A gente, que é compositor, vê essas coisas. Vejo beleza em tudo no Pará”, exalta a artista.
Mesmo em tempo de pandemia, ela diz que também devemos ressaltar os pontos positivos deste período. “Estou feliz, apesar de tudo o que está acontecendo. Feliz por meus amigos compositores e intérpretes que se tornaram conhecidos com as lives. Foram momentos que puderam apresentar ao público artistas que antes não eram notados. Outra coisa é a obrigação de ficar em casa, que tem o lado bom, de ficar mais tempo com a família, ver TV, ouvir rádio. Os artistas tiveram a oportunidade de produzir EPs, lançar na internet e ‘viralizar’”, destaca a artista.
Não demora muito
Aos 82 anos de idade, Dona Onete conta que está a todo vapor, pensando novos projetos, planejando parcerias e produções. “Está nascendo uma música muito bonita e um projeto que será lançado em breve, mas por enquanto não posso falar muito. Ainda estou cuidando da minha saúde, me protegendo da Covid-19. Estou aguardando mais um pouco para realizar tudo isso”, afirma ela, ressaltando que está com a agenda cheia, com parcerias nacionais e internacionais.
Onete diz que carrega uma certeza em sua próxima produção sonora: a de permanecer levantando a bandeira da Amazônia. “Não quero perder o estilo de falar das nossas águas. Eu quero fazer alguma coisa do meu estilo de falar das nossas raízes, do Pará e de toda a sua beleza que são a minha grande fonte de inspiração”, destaca.
PRESTIGIE
Live “Salve o Compositor Popular”, com Dona Onete e Odair José
Quando: Hoje, 20h
Onde: Centro de Música Sesc
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