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Cabanagem: história do Pará vira tema de videogame

É madrugada de 7 de janeiro de 1835 em Belém e eu me preparo para tomar o poder na Província do Grão-Pará. Percorro a cidade em uma versão pixelada de Eduardo Angelim, líder dos revoltosos paraenses, na tentativa de eliminar as tropas do Império Brasile

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É madrugada de 7 de janeiro de 1835 em Belém e eu me preparo para tomar o poder na Província do Grão-Pará. Percorro a cidade em uma versão pixelada de Eduardo Angelim, líder dos revoltosos paraenses, na tentativa de eliminar as tropas do Império Brasileiro guarnecidas no Palácio do Governo. De arma e mouse nas mãos, foco toda minha atenção no mini-mapa no canto direito da tela. Naquele pontinho vermelho indicado pela seta está a maior missão desta minha vida virtual, a mais pura personificação do mal em forma de código binário: nem Bowser Koopa, Dr. Ivo “Eggman” Robotnik ou tão pouco M. Bison.

Não, perto dele e seu massacre de 252 pessoas no “Brigue Palhaço”, esses caras são fichinha. Esta noite o governador Lobo de Souza deve morrer...

Ontem, o único movimento popular brasileiro em que o povo tomou o poder durante o período imperial ganhou a sua mais inusitada versão. Dos livros de história para as telas de computador, surge o game “Cabanagem”, criado pelo Laboratório de Realidade Virtual do Instituto de Tecnologia da UFPA (LARV).

Mistura de jogo de estratégia, como “Warcraft” e “Age of Empires”, e adventure em terceira pessoa, esta espécie de “GTA” papa-chibé tem o objetivo de servir como guia interativo da história da Cabanagem para as novas gerações. Na pele de diversos líderes do movimento, como Felipe Patroni, Batista Campos, Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, o jogador poderá “vivenciar” períodos da revolta que vão da chegada de Felipe Patroni no Pará e a fundação do jornal “O Paraense”, em 22 de maio de 1822, passando pela adesão do Pará à Independência do Brasil e o massacre conhecido como “Brigue Palhaço” (a prisão de 256 revoltosos dentro de navios em condições precárias e sob envenenamento).

“Os jovens cresceram com os videogames”, diz Manoel Ribeiro, professor doutor em Engenharia Elétrica e Computação Aplicada da UFPA, encarregado do projeto. “E a relação deles com o meio é mais do que mera diversão. A linguagem dos jogos faz parte de suas vidas.”

O jogo não requer dedos rápidos ou qualquer nível de coordenação motora mais complexo, pois é inteiramente baseado na estratégia e no mínimo de atenção do gamer para dar continuidade à história. Além das recriações históricas, os jogadores têm contato com o cotidiano da época ao comandar tropas, adquirir equipamentos, administrar instalações e estabelecer estratégias para alcançar as metas de cada estágio.

“A ideia foi usar o jogo como uma forma lúdica de transferir conhecimento”, explica Manoel. “Ele não é tão profundo quanto um livro pode ser, mas tem um apelo muito mais forte. É sinônimo de diversão.”

Ribeiro enxerga os games como uma ferramenta de mudança, por isso investiu na idéia de “Cabanagem”, que nasceu com o trabalho de conclusão de curso de Ricardo Damasceno sobre um jogo de estratégia inspirado no movimento. Manoel Ribeiro foi o orientador do trabalho de Ricardo (hoje mestrando) e convidou-o a fazer parte da equipe, composta por três graduandos e dois mestrandos em Engenharia da Computação.

Mas o start do projeto foi só em 2006, quando a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) publicou um edital nacional para desenvolvimento e disseminação de jogos de computador educativos. Em toda a Região Norte, apenas o Jogo da Cabanagem, produzido pela UFPA, foi aprovado, recebendo R$ 113 mil em recursos administrados pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp). O projeto levou dois anos e meio e envolveu cerca de 20 estudantes de graduação e pós-graduação da Faculdade de Engenharia da Computação, do Instituto de Tecnologia da UFPA (ITEC).

Apesar das ótimas perspectivas trazidas pelo “Cabanagem”, inclusive acenando para a criação de um curso de especialização em Design e Programação de Games na UFPA, o negócio ainda está engatinhando por essas bandas. Em outros Estados brasileiros, faz tempo que os videogames já deixaram de ser brincadeira de criança.

CRESCIMENTO

A indústria de games no Brasil registrou crescimento de 31% em softwares e 8% na parte de hardware (parte física de um computador e de seus periféricos) no ano passado, de acordo com a Associação Brasileira de Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames). Segundo a entidade 43,3% da produção nacional de software para games é exportada e 100% do hardware fica no mercado nacional. Os maiores compradores de jogos brasileiros são a Europa, sobretudo a Alemanha, e os Estados Unidos. No Brasil, já existem cerca de 50 empresas que produzem jogos eletrônicos para celulares, computadores e portáteis.

Videogames percorreram um longo caminho desde os dias de Pac Man, mas a indústria ainda esbarra em muitos obstáculos. Vários fatores interferem nessa equação: o número reduzido de centro de capacitação, a pirataria e a alta carga tributária cobrada sobre os jogos e equipamentos.

O governo já percebeu o problema e o potencial desse mercado. Tanto que no ano passado lançou a nova política industrial brasileira. Denominada Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), inclui medidas que visam estimular a expansão no investimento em diversos setores da indústria nacional, propiciando meios para alavancar o desenvolvimento econômico brasileiro.

Do lado das empresas de games, o que se vislumbra é uma possível redução de impostos, mas nada que irá mudar drasticamente o atual impacto do mercado informal nos negócios. E mais do que o ponto de vista meramente comercial, o que chama a atenção realmente nessa indústria é a falta de identificação com os temas brasileiros. Apesar de correspondermos com uma fatia considerável do mercado, com R$ 87,5 milhões gerados só ano passado, é quase impossível o gamer brazuca se identificar com o que vê na telinha.

Dá pra contar nos dedos os títulos com temática nacional. Um exemplo é o “Capoeira Legends: Path to Freedom”, jogo para PC totalmente feito e desenvolvido no Brasil pela Donsoft, sobre a história da capoeira. O game, desenvolvido para o mercado externo, teve uma boa recepção e já prepara mais duas continuações.

Apesar de estar há anos-luz dessa realidade e com objetivos mais modestos, “Cabanagem” acena para um futuro promissor. Pode não ser uma obra-prima, mas a experiência é mais do que bem-vinda neste universo despovoado de heróis e personagens com um sotaque genuinamente brasileiro. Só resta agora que o jogo, assim como a Cabanagem, não se torne mais um capítulo esquecido da nossa história.

Serviço

O game “Cabanagem” pode ser baixado gratuitamente no sitewww.larv.ufpa.br. Para jogar, é recomendável ter um computador com processador 3.0 GHz, 1 GB de memória RAM, placa de vídeo de 256 MB e sistema operacional Windows Xp ou Vista. (Diário do Pará)

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