As visagens são parte da sociabilidade e da cultura paraense. Quem nunca ouviu uma história de visagem, ou até presenciou, por si próprio, uma? Diversas gerações cresceram com histórias de visagens e assombrações, e um grande responsável por isso é o autor Walcyr Monteiro.
Sua missão de assombrar as diferentes gerações de belenenses começou ainda em 1972, há 52 anos, quando publicou os contos de visagens e assombrações de Belém no jornal "A Província do Pará".
Anos mais tarde, em 1985, lançou o grande "Visagens e Assombrações de Belém", que reuniu 25 contos selecionados à mão por Walcyr com um claro objetivo: garantir a continuidade da cultura sobrenatural paraense.
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A escritora Iaci Gomes, autora do livro de contos "Nem te Conto" e co-autora do ainda em produção "Visagentas", considera Walcyr como uma figura inestimável para a literatura fantástica no estado.
"Muito da cultura dos relatos de visagens da nossa região é transmitido pela oralidade e o Walcyr fez um trabalho valioso de apuração, resgate, registro e popularização destas histórias, captando a essência delas e repercutindo narrativas que vão alcançar ainda muitas gerações", explicou.
Já para Tanto Tupiassu, autor de "Dois Mortos e a Morte e Outros Contos", a literatura de Walcyr deve ser uma fonte de inspiração para qualquer autor que segue por aquele caminho. "Eu tenho a impressão de que o Walcyr tem uma capilaridade gigante, de que ele tem tentáculos por todos os lados, não só em Belém, mas em diversas outras cidades que têm histórias semelhantes".
Das páginas para os pontos de táxi
Uma das histórias mais famosas do livro de Walcyr, "A Moça do Táxi", também é a história mais famosa entre os taxistas de Belém. Diversos deles, de diferentes cooperativas, afirmaram conhecer alguém que já fez corrida para a Moça ou, ao menos, que sabem que a história é verdadeira.
A "Moça do táxi", como é conhecida, seria na verdade Josephina Conte, uma jovem nascida em 1915 que, todos os anos, no dia do seu aniversário, 19 de abril, passeava de táxi pela cidade em uma viagem que, na manhã seguinte, era paga ao taxista pelo pai.
Infelizmente, Josephina faleceu aos 16 anos, em agosto de 1931, mas seu espírito seguiu com a tradição por muitos e muitos anos. No relato escrito por Walcyr Monteiro, o espírito chamou o táxi na Praça Justo Chermont, à época conhecida como Largo de Nazaré, e hoje chamada de Praça do Santuário de Nazaré, o CAN.
A viagem, então, seguiria até o Cemitério Santa Izabel, no Guamá, onde o corpo de Josephina descansa até os dias atuais, ou, em sentido contrário, ela chamaria o táxi em frente ao cemitério, e seguiria para a casa da família, que é relatada em diferentes pontos da cidade, predominantemente nos bairros de Nazaré ou Cidade Velha.
Todos os anos, no entanto, o motorista ia até a casa na manhã seguinte, cobrar a família, e era surpreendido com a notícia: Josephina já estava morta há anos.
Até hoje os taxistas de Belém conhecem e relatam tal história. "Quem mais viu mesmo são aqueles taxistas mais das antigas, do bairro de São Brás e ali do entorno do Guamá", disse o taxista Artur Júnior, de uma cooperativa do bairro da Batista Campos.
Ele contou nunca ter visto a moça, mas que já passou por uma experiência sobrenatural. Artur deu uma carona para o pai, e seguiria para trabalhar, quando recebeu uma ligação: seu pai havia visto duas pessoas atrás dele.
"Deixei ele, e aí eu virei a rua da casa dele e ele me liga: 'filho, quem são essas duas pessoas no carro?' e eu falei 'como, se só tava você?', aí eu olhei para trás e não tinha nada", relatou.
Veja vídeos sobre a "Moça do Táxi" publicados no Youtube:
Equipe Dol Especiais
- Reportagem: Rafael Miyake
- Coordenação e Edição: Anderson Araújo
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