Belém é uma cidade histórica, mística e cheia de segredos. Banhada por rios e envolta por florestas, a cidade possui uma forte aura sobrenatural, pouco vista em outros lugares. Por isso é comum ouvir por aqui: "não dá pra ser ateu em Belém, tem muita visagem", reforçando a fama de que a capital de 408 tem histórias de arrepiar para todos os gostos e, sem exagero, em cada uma de suas velhas esquinas.
Alguns desses casos são conhecidas e já viraram livros, filmes, séries, vídeos nas plataformas digitais, como a "Moça do táxi", eternizada pelo escritor Walcyr Monterio (que desencarnou em 2019 deixando imenso legado para a cultura visagenta belenense e amazônica). Além dela, que é atribuída ao espírito da jovem Josephina Conte, enterrada no Cemitério de Santa Izabel, também se conta sobre visagens dos palacetes, palácios e prédios históricos da Cidade das Mangueiras.
Nem todas as histórias de fantasmas, visagens, assombrações ou fenômens considerados sobrenaturais são famosos, em Belém. Há casos que circulam apenas em rodas de conversas restritas entre amigos e parentes. Outras são até ignoradas no dia-a-dia da metrópole e acabam desaparecendo da memória popular. O fato é que não faltam histórias, que, se antes, eram contadas à noite nas portas das casas, nas cozinhas ou quintais, hoje ganham repercussão na velocidade das mídias e redes sociais, provando que o além também está conectado pelas ondas do wi-fi.
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O Dol conversou com testemunhas de alguns desses casos e trouxe cinco histórias que causam medo, estranheza, incômodo, agonia e desconfianças ("yo no creo en brujas pero que las hay las hay"), como toda boa história de terror, sendo saída da imaginação de escritores ou mentirosos ou baseada na mais pura realidade fantástica. Confiram os relatos de leitores (de preferência à noite, a luz de velas, dentro de casa, antes de dormir).
1. A moça da Rua da Yamada
A primeira história, contada por uma leitora que não quis se identificar, é de uma visagem avistada há quase 20 anos, na Avenida Padre Bruno Secchi, que na época era chamada de Rua Yamada, na esquina da Passagem John Engelhard, no bairro do Bengui. O que seria apenas a imaginação de uma criança com sono, tomou um rumo inesperado depois do relato de uma amiga. Nomes de pessoas e espaços privados foram censurados no áudio. Ouça:
Visagens de Belém: ouça 5 histórias que ninguém nunca contou
Por DOL -
2. A visagem da Praça do carimbó
A mesma leitora também nos deu outro relato, mais recente, sobre mais uma moça (será a mesma?), mais uma visagem, dessa vez na Praça do Carimbó, que fica no cruzamento entre a Av. Ceará e a Av. Almirante Barroso, em São Brás, próximo ao terminal rodoviário. O motorista de aplicativo, que não foi identificado, provavelmente não passará mais por lá à noite. Nomes de pessoas foram censurados no áudio. Ouça:
Visagens de Belém: ouça 5 histórias que ninguém nunca contou
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3. O puxa-lençol do Coqueiro
De fato, crianças parecem ter a mediunidade aflorada, e foi isso que Rafael Leão nos contou. Em uma visita à casa da sua querida avó, em um condomínio residencial antigo no bairro do Coqueiro, uma noite em família virou um trauma para a vida. Ouça:
Visagens de Belém: ouça 5 histórias que ninguém nunca contou
Por DOL -
4. O engravatado do banheiro do casarão
O centro de Belém também traz histórias assustadoras. Ricardo Costa nos contou sobre o antigo prédio comercial em que ele trabalhava, no bairro de Nazaré. Segundo Ricardo, o prédio era um casarão antigo que hoje serve como espaço comercial.
De acordo com ele, o prédio sempre teve acontecimentos estranhos, como presenças no refeitório do local, pessoas que não existiam saindo de salas, entre outros. No entanto, um caso o deixou mais intrigado:
Ricardo estava chegando no prédio para o início do expediente, quando viu um homem de terno, sem rosto visível, entrando no banheiro. Ao chegar, ele foi conversar com um colega de trabalho, que estava próximo do local, e ficou perto do toalete. Ninguém nunca saiu de lá.
Depois, o nosso contador da roda foi ao banheiro, acreditando que o homem ainda estaria lá, mas não tinha ninguém. O uso remunerado do banheiro nunca mais foi o mesmo.
5. O curupira da UFPA
Por último, mas não menos importante, a grande Universidade Federal do Pará (UFPA). A maior universidade da pan-amazônia, com seus mais de 60 anos de história (e histórias) não poderia ficar de fora. O relato da vez é de Ian Lima, conhecido no X (antigo Twitter) como O Encantado da Pedreira, após viralizar ao contar sobre as aparições que presenciou no parque do Utinga [confira no final desta matéria].
Ian estava na universidade à tarde, próximo do bosquinho, andando a caminho de um evento, quando sentiu uma presença. Então, ele ouviu uma pessoa o chamar. Mas não tinha ninguém. Ele seguiu ao evento em que estava participando, e não pensou mais no assunto.
No entanto, na volta, à noite, ele voltou pelo mesmo caminho, para o terceiro portão. Então, ele ouviu ser chamado de novo, e pediu ajuda a um segurança. Ao ouvir o relato de Ian, o segurança disse que não tinha mais ninguém na universidade, e que Ian deveria andar rápido para deixar o local, pois estava tarde e perigoso.
Ao chegar em uma área mais escura e muito arborizada, ainda nos arredores do bosquinho, Ian ouviu alguma coisa se mexer na mata. Ele ficou em alerta, e ouviu alguma coisa o chamar e pedir que ele olhasse pra ela. Ian se recusou, e aconteceu o seguinte diálogo:
Ian: - não estou a fim de conversar. Outro dia a gente conversa.
Visagem: - eu tenho uma coisa para te dar!
Ian: - não estou interessado!
Nesse momento, Ian começou a sentir um frio e ouviu a entidade dizer que Ian poderia buscar outro dia. Ao chegar em casa, Ian foi conversar com a mãe, que o aconselhou a aceitar o presente, que seria do curupira.
O curupira, guardião das matas e das florestas, que tem cabelos de fogo e os pés ao contrário, é um ícone do folclore brasileiro e protege aqueles que cuidam bem da natureza.
A mãe de Ian disse ao filho que fosse a uma área de mata, se desculpasse com os espíritos da floresta, e agradecesse pelo presente dado de bom grado, pois seria uma benção, uma proteção.
Extra: Os Encantados do Utinga
Além das histórias inéditas, Ian também relatou, em seu perfil no X (antigo Twitter) sobre sua experiência em uma trilha no Parque Estadual do Utinga. Vale a pena dar uma olhada:
⚠️ APARIÇÃO DE ENCANTADOS NO PARQUE DO UTINGA - Thread ⚠️
— O Encantado da Pedreira🎙️ (@2i_ian) December 28, 2020
No dia 02/11/2020 estava com uma vontade insana de ir pedalar no Utinga, porém zero companhias para ir comigo. Uma amiga do trabalho me chamou para irmos lá isso por volta de 11h como moramos perto de lá, então fomos (+) https://t.co/WqhYIgA3mQ
Cidade invisível
O professor Aldrin Frigueiredo, historiador e especialista em Antropologia Social, comenta que o imaginário sobrenatural belenense remonta às origens indígenas, africanas e europeias da população. "Se acredita muito num duplo humano, uma espécie de mundo invisível que é visitado pelos pajés", explica.
Ele acrescenta ainda a fama de Belém relacionada ao sobrenatural com essa "memória de uma cidade visagenta". Aldrin diz "tem a ver com essa ideia de que há um duplo, que há uma cidade invisível, paralela a essa, onde moram seres encantados, e que se comunicam de algum modo com a nossa realidade".
Nascido em Alenquer, na região do Tapajós, Aldrin Figueiredo coordena o Grupo de Pesquisa em História Social da Arte (UFPA/CNPq) e é professor do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do Pará. Ele realizou curadorias e consultorias em diversos projetos com instituições brasileiras e estrangeiras e também foi diretor do Centro de Memória da Amazônia (2013-2017).
As visagens de Belém continuam firmes e fortes, e seguem trazendo mais relatos das várias gerações que nascem e crescem na nossa cidade. Tens algum relato? Compartilhe e ajude a manter a nossa história viva e nosso sobrenatural pulsante!
Equipe Dol Especiais:
- Reportagem: Rafael Miyake
- Multimídia (áudios): Vicente Crispino
- Coordenação e Edição: Anderson Araújo
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