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EMPODERAMENTO E IDENTIDADE

Projetos de mulheres negras mudam a vida de comunidades na Amazônia

Explore como projetos liderados por mulheres afroindígenas na Amazônia estão transformando a sociedade e promovendo igualdade e justiça social.

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Imagem ilustrativa da notícia Projetos de mulheres negras mudam a vida de comunidades na Amazônia camera Flávia Ribeiro é uma das ativistas que defende os direitos das mulheres na Amazônia. | (Reprodução/Arquivo Pessoal)

No coração da Amazônia, onde histórias ancestrais ecoam por gerações, a iniciativa feminina de ativistas tem sido essencial para garantir que estas narrativas se espalhem, colaborem e ampliem vozes de mulheres. Um exemplo inspirador é o projeto Telas em Movimento, idealizado por Joyce Cursino, uma mulher negra da periferia de Belém.

Criado em 2019, o Telas em Movimento é um projeto de democratização do acesso ao cinema e ao audiovisual em áreas periféricas e comunidades tradicionais da Amazônia. A proposta se expande por Belém e outras cidades do Pará e do Estado do Maranhão.

“Comecei no audiovisual como atriz, em 2015, e, a partir daí, fui me engajando cada vez mais no setor, entendendo os desafios e as barreiras que existem para quem não está no meio tradicional de produção audiovisual e quem não se sente representado pelos estereótipos construídos pelo cinema, majoritariamente branco, masculino e elitista”, diz.

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Ao longo de seis edições, o projeto impactou centenas de pessoas, realizou 60 curtas-metragens e passou por mais de 50 comunidades, em diversas cidades do Pará e Maranhão. Pela sua importância cultural, recebeu o Diploma e Medalha de Mérito Cultural e Patrimônio de Belém - Mestre Verequete. "A sétima edição ainda não foi captada, mas seguimos buscando apoio para sua realização”, explica a idealizadora do projeto.

Joyce Cursino (de verde) é idealizadora do projeto "Telas em Movimento" que leva o cinema para Belém, Pará e Maranhão.
📷 Joyce Cursino (de verde) é idealizadora do projeto "Telas em Movimento" que leva o cinema para Belém, Pará e Maranhão. |(Rennan Tavares)

A ordem é empoderar

“Ao apoiar mulheres periféricas e indígenas a se engajarem no audiovisual, o projeto se torna uma ferramenta poderosa para a ampliação das vozes dessas mulheres, ajudando-as a se afirmarem não apenas como protagonistas de suas histórias, mas como realizadoras do seu próprio futuro”, destaca Joyce.

Joyce Cursino participou da oficina de Breves (Marajó) realizada no ultimo fim de semana para campanha Energia dos Povos coordenada pelo Observatório do Marajó e 350.ORG.
📷 Joyce Cursino participou da oficina de Breves (Marajó) realizada no ultimo fim de semana para campanha Energia dos Povos coordenada pelo Observatório do Marajó e 350.ORG. |(Rennan Tavares)

Joyce reforça ainda a importância da força coletiva. "Não existe um caminho fácil, mas a chave está na perseverança, na capacidade de ouvir as necessidades reais das comunidades e de construir soluções junto com elas", afirma.

Projetos de mulheres negras mudam a vida de comunidades na Amazônia
📷 |(Rennan Tavares)

Um ateliê-quilombo para novas formas de viver

Na Ilha de Cotijuba, a cerca de 20 quilômetros de Belém, em meio às águas e às matas da Amazônia, floresce um espaço de acolhimento, arte e resistência. A Makaia foi bioconstruída em um bosque e criada pela artista-pesquisadora Raphaella Marques, conhecida como Raphíssima. Ela explica que a iniciativa transcende a ideia de um simples atelier e se firma como uma Escola de Arte Quilombista para mulheres afroindígenas.

Raphíssima é idealizadora do projeto Makaia, um lugar de acolhimento  para mulheres e crianças de Ilha de Cotijuba.
📷 Raphíssima é idealizadora do projeto Makaia, um lugar de acolhimento para mulheres e crianças de Ilha de Cotijuba. |(Arquivo pessoal)

A jornada de Raphíssima com a Makaia começou quando a vida a levou para a zona rural da Ilha de Cotijuba. Movida pela necessidade de um lar próprio e um espaço de criação, iniciou um processo de bioconstrução de sua “c.asa-atelier”. Com a chegada da pandemia em 2020, essa transição foi intensificada, trazendo desafios, mas também oportunidades de aprendizado e reinvenção para ela e outras mulheres.


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Não precisamos provar nada para ninguém. Nossa rede de apoio é invisível aos olhos, mas imensamente poderosa. Nossas ancestrais nos levantam todos os dias.

Raphíssima, Pesquisadora, artista e ativista
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“É um espaço de acolhimento de mulheres e crianças, por meio da Arte. A vida me trouxe para cá [Cotijuba] e eu não vim trazer conhecimento nem outro tipo de saber, eu vim aprender principalmente. As pessoas daqui, especialmente as mulheres sabem muito, elas têm muito a compartilhar”, enfatiza Raphíssima.

Porteira da "c.asa-atelier" Makaia.
📷 Porteira da "c.asa-atelier" Makaia. |(Arquivo pessoal)

Parcerias para a autossuficiência

A construção e manutenção da Makaia têm sido impulsionadas por incentivos públicos. Projetos culturais financiados pelo Programa Preamar (2021), Lei Aldir Blanc (2022) e Lei Paulo Gustavo (2023) foram fundamentais para a expansão da infraestrutura do espaço. Até o momento, o local conta com uma horta suspensa, banheiro seco, jirau e um chalé grande. Os planos para 2025 incluem a construção de uma fossa ecológica e canteiros de plantas medicinais para abastecer os laboratórios de criação, que receberão artistas mulheres da Amazônia em residência.

O chalé bioconstruído na Makaia.
📷 O chalé bioconstruído na Makaia. |(Karla Nogueira)

"Aqui no bosque me nutro, me empodero, para enfrentar as realidades alheias, de tantas meninas e mulheres que são invisibilizadas e vitimizada por esse cotidiano violento que temos. Eu já fui uma dessas meninas e até hoje, como uma mulher, ainda tentam me vitimizar. Mas o poder do encontro, do cuidado, da arte, faz com que a gente descubra as nossas potências e a nossa história", afirmou.

Veja o vídeo:

"Mulheres negras estão na base da sociedade"

No Pará, a jornalista e ativista Flávia Ribeiro estuda a importância da liderança de mulheres negras e amazônidas à frente de projetos e as mudanças que causam na sociedade.

Ao DOL, Flávia contou que as mulheres negras, ao assumirem posições de liderança em iniciativas sociais, não apenas ampliam o debate sobre desigualdade, mas também propõem um novo pacto civilizatório. “As mulheres negras estão na base da sociedade", explicou.

Flávia Ribeiro é uma das ativistas que defende os direitos das mulheres na Amazônia.
📷 Flávia Ribeiro é uma das ativistas que defende os direitos das mulheres na Amazônia. |(Reprodução/Arquivo Pessoal)

"São elas que recebem os menores salários, que foram mais penalizadas durante a pandemia de Covid-19 e que, por isso, enfrentam um conjunto de mazelas em áreas como economia, saúde e educação”, complementou.

Liderança e engajamento social

Flávia destaca que o engajamento das mulheres nas comunidades não é uma novidade: é uma continuidade de uma tradição de liderança. Ela relembra que, há poucos séculos, as mulheres sequer tinham direito ao voto, mas sempre foram as primeiras a organizar e mobilizar suas comunidades. Com o passar do tempo, essas lideranças ganharam visibilidade, permitindo que suas ações – que vão além dos cuidados tradicionais com o lar – sejam reconhecidas e valorizadas.

Flávia Ribeiro é jornalista e pesquisadora.
📷 Flávia Ribeiro é jornalista e pesquisadora. |(Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Podemos dizer que as mulheres são mais engajadas socialmente que os homens, porque você não vê grupo de pais cujos filhos foram vítimas de violência. A gente tem vários grupos de mãe, as mães da Praça de Maio, as mães do Acaraí. O que você vê são mães que estão lutando por justiça pelos seus filhos, porque, quando o filho morre pela violência policial, é a vítima que é questionada, a vítima é culpabilizada”, pontuou.

Justiça climática

Os projetos sociais liderados por mulheres negras têm sido fundamentais para promover a cidadania e exigir políticas públicas que atendam a demandas históricas. Segundo Flávia, esses projetos estimulam um pensamento crítico que capacita os cidadãos a reconhecerem seus direitos e lutarem por melhorias.

As iniciativas sociais também atuam no contexto das mudanças climáticas, destacando temas como o racismo ambiental e a justiça climática. Ao levar informações e mobilizar a população, esses projetos ajudam a transformar a realidade da região amazônicas. Ela acredita na atuação coletiva e consciente para reverter a lógica de privilégio de alguns grupos em prejuízo de uma maioria.

Projetos de mulheres negras mudam a vida de comunidades na Amazônia
📷 |(Reprodução/Arquivo Pessoal)

Por fim, a pesquisadora deixa evidente que a visibilidade e o protagonismo das mulheres negras são essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Ao unir a história, a luta e a busca por direitos, essas lideranças não só desafiam narrativas históricas excludentes, mas também promovem uma rede de apoio que fortalece toda a comunidade.

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