‘Esse meu vício’, essa foi a frase que recepcionou o Clube do Remo, um dia após a derrota por 3 a 1 para o rival Paysandu, no último domingo. A frase foi posta, juntamente com ingressos de jogos passados e uma galinha de plástico, na calçada em frente à academia de musculação em que o time se representou na tarde de ontem, no bairro de Nazaré. O cenário se completava com pipocas, referência a um time chamado de pipoqueiro. Os artefatos faziam parte de um protesto promovido por um pequeno, porém, barulhento grupo de torcedores.

Um deles era Ítalo Costa, de 23 anos, professor de artes. “Esse time não tá engajado com a causa. O Remo escapou de levar uma goleada histórica no jogo de ontem (domingo) e a torcida não vai deixar isso acontecer. Vamos cobrar quando necessário, porque eles (jogadores) são funcionários do clube”, avisa Costa. Para ele, a boa campanha no campeonato, que reflete o segundo lugar no segundo turno, não passa de uma ilusão. “O Remo não consegue ganhar de forma magnífica. O Remo tem que se esforçar para conseguir até uma vitória idiota contra times considerados inferiores”, reclama o torcedor.

O lateral Rodrigo Guerra e o meio-campista Thiago Galhardo foram os principais alvos de críticas. Para Guerra, os torcedores o chamaram de “bola murcha”. Já Galhardo recebeu gritos de “Ei, Galhardo, o Leão não é Bangu”, uma referência ao antigo clube do meia, do futebol carioca. Duas viaturas da 2º Zpol estiveram no local à pedido da diretoria do Remo. Mas, nenhuma ocorrência mais grave foi registrada. O momento mais tenso foi na saída dos atletas da academia em direção ao ônibus da delegação. Os protestantes arremessam pipoca e xingaram de perto os jogadores. Um deles, um deficiente físico, se exaltou um pouco mais quando viu Galhardo, mas o jogador evitou entrar no clima. Antes, Guerra fez menção de que iria falar com os torcedores, no entanto, foi contigo pelos companheiros.

A crise tem que acabar na próxima rodada, Leão!

Os jogadores do Clube do Remo viram o protesto do grupo de torcedores como algo normal. Segundo o zagueiro e capitão do Remo, Carlinho Rech, o elenco já até previa uma manifestação “pela grandeza do clube”. Na opinião do capitão azulino tudo é válido, desde que não parta para agressão física. “Sabemos que com a derrota sempre vem uma cobrança, principalmente pela forma que a partida foi. Mas, claro, isso não pode extrapolar, até para não afetar o psicológico dos jogadores porque já temos um jogo no meio de semana. Já imaginávamos que iria ter esse protesto, até pela grandeza da torcida do Remo. Isso é normal porque eles querem o nosso bem. A cobrança tem que ser verbalmente para não ter problema com a integridade de ninguém”, disse Carlinho.

Segundo o defensor, o técnico Flávio Araújo conversou com os atletas antes dos titulares se dirigem para a academia. A tônica do bate-papo foi só uma: no futebol, existe o dia de amanhã, já que quinta-feira agora, o Remo enfrenta o Paragominas, no Estádio Arena da Floresta. “Não podemos falar que está tudo bem. Mas, no futebol, o bom é que sempre existe o amanhã. Conversamos com o professor (Flávio Araújo) sobre o jogo, tiramos tudo a limpo. Queremos corrigir os erros que tivemos no sistema defensivo, meio e ataque, já que todos não funcionaram nos noventa minutos. Vamos procurar já nesse jogo contra o Paragominas reverter tudo isso porque sabemos que uma vitória acaba amenizando esses problemas”, acredita Rech.

A diretoria azulina esteve presente na tarde de ontem no Baenão, conversando com comissão técnica e já tomando providencias em relação à partida contra o Flamengo, pela Copa do Brasil, em abril. Apesar do total apoio ao plantel, Maurício Bororó, diretor de futebol, se mostrou favorável aos protestos de ontem. “Serviu para eles sentirem na pele que isso aqui é Clube do Remo”, comentou, rápido, o diretor.

Flávio tentará reconstruir a equipe remista

O técnico do Remo, Flávio Araújo, tenta ficar à parte da manifestação da torcida. Ele já começa a montar a equipe que tentará a reabilitação na competição, na próxima quinta-feira contra o Paragominas. O único desfalque certo no time é o meio-campista Thiago Galhardo. Alvo de protesto dos torcedores, Galhardo está suspenso.

Contudo, o que ainda repercute entre os azulinos é a declaração do técnico Flávio Araújo pós-derrota no Re-Pa. Afirmando que o time precisa de mais humildade, Flávio deixou claro que, para mudar a postura de sua equipe, fará qualquer coisa, inclusive mudança entre titulares e até mesmo o retorno ao 3-5-2. “É o momento que cada jogador tem que rever o que já fez ou deixou de fazer até aqui. Se existe a cobrança, ela precisa ser transformada em construtiva”, ensina o zagueiro Carlinho Rech.

Com isso, existe a possibilidade de Flávio escalar o zagueiro Mauro, recuperado de uma virose no lugar de Galhardo e, assim, retornar ao esquema de três zagueiros, deixando apenas o meia Clébson, com a missão de ser o articulador do time. Ele que, por sinal, também apresentou quadro de virose nos últimos dias e atuou debilitado contra o Paysandu. Clébson busca apresentar melhor futebol para justificar o esforço feito pela diretoria em contratá-lo. Outra modificação também pode acontecer na lateral-direita com a sacada de Rodrigo Guerra do time.

(Diário do Pará)

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