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RUAS HISTÓRICAS

Rua Arcipreste Manoel Teodoro: sucessos na história de Belém

A Arcipreste Manoel Teodoro é onde está um dos cinemas mais antigos da capital, o Olímpia, e a Praça Amazonas, tendo grande importância no imaginário religioso da população.

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Imagem ilustrativa da notícia Rua Arcipreste Manoel Teodoro: sucessos na história de Belém camera Foto da Praça Amazonas em 1950: logradouro marca o trecho final da rua Arcipreste Manoel Teodoro | Biblioteca IBGE

Muitas ruas de Belém que ainda hoje recebem um tráfego importante de pedestres e veículos foram abertas pelos próprios colonizadores portugueses durante o processo de formação da cidade fundada no século XVII.

Entre as vias que integram o que foi o segundo bairro criado na capital, a Campina, está a rua Arcipreste Manoel Teodoro, que inicialmente recebeu o nome inusitado de rua da Cruz das Almas.

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Segundo relata o historiador Ernesto Cruz no livro ‘Ruas de Belém’, até 1839 Belém era formada por 35 ruas, 31 travessas e 12 largos, como eram chamados alguns espaços mais amplos da cidade que se configuravam como locais de sociabilidade no período colonial. Entre as ruas já abertas naquele período, já se encontrava a denominação da rua das Cruz das Almas.

O nome inicial faz referência a uma característica que marcou várias ruas da capital paraense, a atribuição de nomes de famílias que residiam na via ou de igrejas e monumentos ali presentes. “Em geral, os moradores de maior destaque davam nome à rua em que residiam. E não somente os moradores, como os edifícios públicos, as igrejas – ‘ou outra particularidade ocasional ou local’”, escreveu Ernesto Cruz, ao justificar o nome originário da atual rua Arcipreste Manoel Teodoro.

“A rua da Cruz das Almas, por ser o caminho onde ficava erguida a Cruz e colocada ao lado a caixa das esmolas para a missa das almas do purgatório. Era esse o costume da época, que se tornou tradição em todo o Brasil”.

Início da rua hoje, na esquina com a avenida Presidente Vargas
📷 Início da rua hoje, na esquina com a avenida Presidente Vargas |Irene Almeida/Diário do Pará

Diante das tantas modificações vivenciadas pela rua, hoje já não se vê mais o tal cruzeiro. Acompanhando o estreito caminho ainda habitado por casarões antigos, mas bastante marcado pela presença de construções modernas e grandes prédios, é até difícil imaginar onde chegou a ser instalada a cruz que recebia as doações para as almas.

Morador da rua há 25 anos, Sérgio Palmiquist conta que, segundo ouviu, a tal cruz ficava no antigo Largo São José, hoje chamada de Praça Amazonas. “São 25 anos na Arcipreste e muita coisa mudou nesse período. Hoje a gente tem muito mais tráfego de veículos do que antigamente, o fluxo ficou muito grande”, apresenta. “Sobre a história da rua, o que eu sei é que era a Estrada da Cruz das Almas e o cruzeiro ficava aí na Praça Amazonas”.

Durante o período colonial, o espaço que hoje é conhecido como Praça Amazonas era o antigo Largo de São José. Segundo o historiador Ernesto Cruz, o nome originário fazia referência ao convento erguido em 1749 pelos frades capuchos da Ordem de Nossa Senhora da Piedade. Após a expulsão dos jesuítas do Brasil, porém, o prédio passou a abrigar outros espaços, como uma olaria, quartel, depósito de pólvora, hospital, cadeia pública e até mesmo um presídio.

Primeira fachada do Cine Olímpia marcava o início da antiga rua da Cruz das Almas, hoje Arcipreste Manoel Teodoro
📷 Primeira fachada do Cine Olímpia marcava o início da antiga rua da Cruz das Almas, hoje Arcipreste Manoel Teodoro |Divulgação/Acervo FAU-UFPA

Depois de mais de 100 anos de funcionamento como presídio, a cadeia foi desativada em 1980 e obras de reestruturação e restauro do prédio deram vez para a instalação do Espaço São José Liberto, que se mantém até hoje.

Parte do imaginário da cidade de Belém por diferentes motivos e em diferentes épocas, a construção é apenas um dos marcos históricos ligados à Rua Arcipreste Manoel Teodoro que podem ser contemplados ainda hoje. Além dele, na altura do bairro de Batista Campos, a rua abriga a Sinagoga Shaar Hashamaim, construída em 1826, e considerada uma das mais antigas do Brasil.

Mais à frente, logo no encontro da Arcipreste Manoel Teodoro com a avenida Presidente Vargas, o saudoso Cinema Olímpia é o grande destaque. Inaugurado em 1912 como uma casa de luxo para a exibição de filmes, o cinema passou por várias transformações ao longo do tempo, sem nunca perder a função original.

Cinema Olímpia no dia da inauguração
📷 Cinema Olímpia no dia da inauguração |Divulgação/Acervo FAU-UFPA

Dos mais de um século de existência do cinema, o autônomo Antônio de Deus conhece bem 25 anos. Trabalhando na entrada da sala de exibição por todo esse tempo, ele acompanhou os tempos de grande fluxo de pessoas interessadas nos filmes em cartaz.

“O que eu me lembro era dos filmes que passavam, o movimento era muito grande. O que eu mesmo cheguei a assistir aí foi ‘Ghost - Do outro lado da vida’ e Titanic. Quando passou Titanic era fila de gente para assistir aqui”, recorda. “Depois o movimento foi caindo, mas ainda vem muita gente para ver o cinema, mesmo ele estando fechado agora. Vem gente até de fora, turistas. Eu gosto de trabalhar perto de um lugar que é histórico para a cidade. É daqui que eu tiro o sustento do meu dia a dia”.

Confira algumas curiosidades sobre a rua:

ARCIPRESTE

O atual nome de Rua Arcipreste Manoel Teodoro faz referência a Manuel Teodoro Teixeira, deputado provincial, vigário capitular, governador do Bispado e presidente interino da Província do Pará, nos períodos de 29 de junho a 7 de agosto de 1843, e de 20 a 22 de maio de 1844. Nasceu em 20 de junho de 1790, tendo falecido a 17 de novembro de 1844.

Fonte: Livro “Ruas de Belém”, de Ernesto Cruz.

MARCOS

Cinema Olympia - Início da rua Arcipreste Manoel Teodoro, no encontro com a avenida Presidente Vargas

Fundado em 1912. Ao longo dos anos o cinema passou por modificações, inclusive em sua fachada. Em 1960, já sob a propriedade do grupo Severiano Ribeiro, o Olympia recebeu poltronas estofadas e ar-condicionado central. Em um período em que o Cine Olympia atravessava uma de suas piores fases, a exibição do filme ‘Titanic’, filme dirigido por James Cameron, deu o gás que o cinema precisava, segundo contra Pedro Veriano. No início de 1998 o filme fez em nove semanas o que a bilheteria apresentou em um ano. Hoje, o local está sob a administração da Prefeitura Municipal de Belém, por meio da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel).

Fonte: Livro “Cinema no Tucupi”, de Pedro Veriano.

Praça Amazonas - final da rua Arcipreste Manoel Teodoro. Antigo Largo de São José

Segundo relata Elizabeth Nelo Soares no livro ‘Largos, Coretos e praças de Belém’, ainda no período colonial, nos idos de 1749, os franciscanos da Província da Piedade abriram uma grande clareira bastante afastada do centro de Belém, onde instalaram o antigo Convento São José. No restante do espaço aberto e não construído, se configurou o chamado Largo de São José, que mais tarde viria a se tornar a atual Praça Amazonas, ponto final da rua Arcipreste Manoel Teodoro.

Fonte: Livro “Largos, Coretos e Praças de Belém”, de Elizabeth Nelo Soares.

Rua Arcipreste Manoel Teodoro: sucessos na história de Belém
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