Criminalização da homofobia e transfobia, casamento entre pessoas do mesmo sexo e o registro do nome social em documentos oficiais. No dia 28 de junho, dia Internacional do Orgulho LGBTQI+, é preciso muito mais do que apenas relembrar essas conquistas que, apesar de serem importantíssimas, ainda não são suficientes para se viver de forma digna em um país, onde a cada 16 horas, uma pessoa LGBTQI+ é morta por ser quem ela é. Diante um Governo que não abre espaço para minorias, a mais recente e, até então, única vitória da comunidade nesse ano foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou a restrição de doação de sangue por homossexuais.
“A gente tem avançado significativamente, através de entendimentos junto ao STF, para que fosse garantida a igualdade desses direitos. Hoje o Governo Federal não dialoga com os movimentos sociais. Várias políticas estão estagnadas, não existe mais nada voltado para a promoção da cidadania da comunidade LGBT”, afirma Eduardo Benigno, coordenador executivo do Grupo Homossexual do Pará (GHP). A ONG completa 19 anos de fundação em 2020, sendo a mais antiga do Estado, atuando no combate à LGBTfobia e com a promoção de políticas públicas.
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Na avaliação de Benigno, o estado do Pará avançou a passos largos em prol da comunidade, porém, continua manchado pelas mortes de travestis e transexuais que, segundo ele, além de integrarem a pirâmide da violência, encontram dificuldades para se inserir no mercado de trabalho. No levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), e divulgado através da ativista afro-brasileira Bruna Benevides, em 2019 cerca de 90% estiveram envolvidos em prostituição devido à falta de oportunidades de trabalho.
Um leão por dia
“Em um local de trabalho onde tem cem pessoas e existe uma pessoa trans, essa pessoa trans tem que estar ciente de que deve ser melhor do que todas as outras. Porque quando você erra, eles não te culpam pela tua incapacidade enquanto profissional, eles te culpam pela tua condição de ser mulher trans” - Bárbara Pastana - Ativista de Direitos Humanos
Trabalhando como ferista há apenas oito meses, Bárbara já perdeu as contas de quantas vezes foi vítima de transfobia. Os olhares maldosos, o desrespeito ao ser tratada pelo gênero masculino, além das manifestações explícitas de ódio são exemplos do que a ativista enfrenta diariamente quando sai de casa.
“O mercado de trabalho não abre a oportunidade para uma pessoa trans ingressar nele. Então quando nós conseguimos um emprego, as pessoas não estão preparadas para serem recebidas por esse profissional. Muitas vezes o usuário que vai ser atendido pelo funcionário ou funcionária trans não sabe nem como falar ou se expressar”, afirma.
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Um dos casos de transfobia sofrido partiu do colega de trabalho que se recusava a sentar ao seu lado por medo de “contrair alguma doença”. “No primeiro momento em que eu cheguei para trabalhar, ele fez questão de mostrar que não me aceitava como parceira de trabalho. Ele dizia que eu era o demônio, uma abominação”, relembra, que só tomou conhecimento dos insultos através dos colegas que se incomodaram com as agressões verbais e expuseram o caso para o responsável. Os servidores que trabalham com Bárbara pediram a transferência do transfóbico e foram atendidos.
Mãe de um menino de seis anos, ela mata um leão por dia. “Graças a Deus eu sou bem elogiada pelo trabalho que faço, o tratamento ou a assistência que eu ofereço. Existem lugares onde a gente é bem recebida pelas equipes, mas têm pessoas que não concordam e a gente precisa lidar com essa situação porque precisamos sobreviver”, diz.
O caminho é longo
Seja no trabalho, nas passeatas ou em debates, Bárbara acredita ser possível mudar o cenário atual através da conscientização, como ela mesma diz, um trabalho de formiguinha. “Nós tivemos grandes avanços. Para quem não tinha nada, eles são de suma importância, mas precisamos fazer com que sejam respeitados. Não adianta ter políticas, garantias de direitos e a criminalização da homofobia se muitos ainda não nos respeitam”, avalia.
“Eu espero que no dia 28 o orgulho de sermos o que somos possa ser lembrado sempre. Seja dos LGBTs mais antigos, mais novos e por aqueles que ainda hoje resistem com a nossa luta e que nunca vão deixar de estarem conosco quando formos às ruas e caminharmos juntos dizendo ‘Não’ ao preconceito e à discriminação”, deseja Benigno.
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