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Jurunenses repercutem fala de Gaby Amarantos sobre o bairro

Em entrevista ao jornal carioca Extra, a cantora disse que infância foi muito marcada pela violência local. Quem mora ali concorda com a lembrança de um passado de violência, mas diz haver exageros

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Imagem ilustrativa da notícia Jurunenses repercutem fala de Gaby Amarantos sobre o bairro camera Cantora se explicou, enquanto que moradores seguem a vida normal e em paz | Wagner Almeida e Divulgação

O bairro da primeira e mais vitoriosa escola de samba do Pará, dos festejos religiosos de São Benedito, Santo Expedito e Santa Terezinha, da música de Mestre Verequete, da alegria de Leona Vingativa e da vista para as águas do Rio Guamá está em pauta e não é por um motivo especial.

No último domingo (6), a cantora paraense Gaby Amarantos, 42 anos, em entrevista ao jornal Extra, deu algumas declarações que causaram enorme alvoroço nas redes sociais, sobre a violência no bairro do Jurunas, onda a artista passou a maior parte da infância e adolescência, inspirou memes e diversas manifestações de fãs e dos moradores do bairro. O DIÁRIO foi até o bairro conversar com essas pessoas sobre a fala da cantora.

Muitos discordaram de imediato. “De forma alguma. Eu nunca vi ou soube que matavam tanta gente assim. Tinha muita gangue, porrada, mas nesse nível dito por ela foi um grande exagero”, retruca o comerciante Jaime Luiz, 53 anos, morador da rua dos Caripunas, entre Breves e Bernardo Sayão. Em frente de casa, Jaime lembra com saudosismo da referida época, onde a maior preocupação passava distante da violência. “Nos anos 90, 2000, existia também uma rivalidade muito grande entre Remo e Paysandu. Todo final de jogo tinha briga e as gangues eram parte disso. Acontecia muito, mas, ao mesmo tempo, o morador tinha liberdade de caminhar pelas ruas, a hora que fosse. Cansei de ir e voltar a pé para festas próximas ou longe”, conta.

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RESSALVAS

Com mais de 60 mil habitantes, o bairro do Jurunas é local que cresceu com uma rica herança religiosa e cultural. Também é sede do Rancho Não Posso me Amofinar, a terceira escola de samba mais antiga do Brasil; templos do futebol suburbano, como a sede da Florentina, uma intensa atividade marítima, através de seus portos à beira-rio, além de ter hospedado por décadas o antigo Presídio São José (Atual Polo Joalheiro), palco da maior rebelião registrada na história de Belém, no ano de 1998.

Por ser um dos maiores bairros de Belém, é comum haver realidades diferentes. Na Rua Nova II, onde a cantora viveu até o início do estrelato, os moradores concordam com a fala, com ressalvas. “Era bem perigoso, sim. Com mortes, tiro e muita briga. Esse retrato dos anos 90 realmente existiu, mas também acho que houve exagero. Não foi nesse nível. Hoje eu considero muito mais perigoso do que nessa época”, diz o serviços gerais Odivaldo Souza, 49.

Antes de ingressar no The Voice Kids, Gaby Amarantos percorreu longo caminho no mundo artístico. Aos 15 anos entrou para o coral da Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus, também no Jurunas. Em 2002, depois de se apresentar por anos em bares e casas de show, formou a banda Tecno Show, que logo se tornou um expoente do tecno brega. Alçada rapidamente ao sucesso, colheu os frutos de seu talento e, em 2009, embarcou em carreira solo bem-sucedida, até chegar o lançamento de seu primeiro álbum, que conta com sucessos arrebatadores, como “Xirley” e “Ex Mai Love”. Antes de mudar-se de mala e cuia para o Rio de Janeiro, Gaby também peregrinou no próprio bairro, e da Rua Nova II foi para a rua dos Timbiras, onde a vizinhança relata o período. “Ela morou aqui ao lado por um tempo, acho que depois de 2000. Era uma pessoa muito educada e gentil.Nessa época tinha muito assalto. Acho que hoje está bem melhor do que antes”, opina a vendedora Sula Costa, 51.

Distante dali, na região do Portal da Amazônia, moradores dizem que a insegurança é frequente, mas não tão intensa assim. “Existe uma diferença grande entre assaltos e execuções. No Jurunas sempre teve muito assalto e isso é o suficiente para assustar a população. Então fica aquela agonia, medo. Mas até onde me recordo não vejo tantas mortes. Fui assaltada uma vez aqui e só perdi porque era um drogado que correu mais que eu”, lembra a autônoma Carol Moreira, 22.

EXPLICAÇÃO

Diante da enorme repercussão e da negativa da maior parte da comunidade, a própria cantora resolveu gravar um vídeo para explicar aos fãs e conterrâneos, que as palavras foram mal interpretadas.

“Eu não usei bem as palavras. Poderia ter dito que a violência era comum e frequente, mas eu quero dizer que ela era real e que o meu medo era diário. Quero dizer que tenho muito orgulho de representar a minha periferia. Apoio todas as pessoas que já viveram essa violência, assim como eu, e agradeço as pessoas que entenderam o que eu falei”, encerra.

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