Foi durante a realização de exames de rotina que os médicos que acompanhavam Davi Mendes perceberam que algo estava errado. A descoberta precoce da leucemia, antes mesmo do aparecimento de qualquer sintoma, foi fundamental para que o tratamento que se seguiu corresse bem. Mais um episódio dessa história marcada por batalhas e conquistas foi contado no início deste mês, quando o pequeno Davi, hoje com 10 anos, percorreu as ruas de Belém comemorando o 1º ano de realização do transplante de medula, que transformou a sua rotina para melhor.
Ao lado da mãe, a autônoma Carol Mendes, 30, Davi conta animado a recepção recebida durante a comemoração. No carro guiado pelo avô, uma faixa com os dizeres ‘Buzine. Hoje faz 1 ano que fiz transplante de medula’, adiantava o justo motivo da celebração. “Eu nem sabia como era uma carreata”, conta Davi, ao falar das mudanças proporcionadas pelo transplante. “Muita coisa mudou, tudo ficou mais fácil”.
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Carol lembra que desde o recebimento do diagnóstico, em 30 de novembro de 2017, a rotina de Davi era preenchida por muitas idas ao hospital. A primeira internação, logo após a descoberta da doença, durou dois meses e meio. Ao longo do tratamento, a necessidade de internação se fez presente ainda outras vezes, por dois meses, três meses, seis meses. “Foram dois anos de idas e vindas do hospital. Agora (após o transplante) vamos uma vez ao mês para fazer a rotina com a médica dele aqui de Belém e de seis em seis meses vamos a Curitiba para ele fazer um check-up completo. São 10 dias de exames”.
Para que pudesse receber a medula doada por uma voluntária encontrada através do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), Davi precisou ir até a capital do Estado do Paraná, Curitiba, uma das cidades em que há serviço de transplante de medula óssea no país. Como o banco nacional tem ligação com outros bancos de outros países, a doadora compatível com Davi foi encontrada nos Estados Unidos.
Assim que soube que o filho teria que realizar o transplante, Carol lembra que o primeiro sentimento experimentado foi de medo. “Foi a primeira sensação que eu tive. Dá medo porque eu não sabia o que ele iria sentir. Foram 37 dias internados, com medo”, conta. “Não sabia como ia ser, mas depois que eu fiz o transplante, acabou o medo”, complementa Davi.
Desde que o transplante foi realizado, a família faz questão de comemorar cada nova conquista, inclusive a nova vida que o transplante possibilitou a Davi, que hoje já está de volta em casa, em Belém. Apesar dos cuidados necessários, como o de se proteger muito bem contra o sol e a necessidade de refazer todas as vacinas já realizadas desde a primeira infância, o sorriso sempre largo de Davi é a principal mostra da importância que a doação de medula pode representar na vida de alguém que necessita de um transplante. “Eu sou eternamente grata à doadora do meu filho porque nem que eu fosse a mulher mais rica do mundo, eu não conseguiria comprar o que o meu filho estava precisando. Ser um doador voluntário de medula é salvar vidas mesmo. Então, se você tem empatia, se você se preocupa com o outro, faça isso, se cadastre como doador voluntário”, considera Carol, mãe de Davi.
DOAÇÃO
A oportunidade de se colocar à disposição para salvar a vida de uma pessoa pode ser aproveitada todos os dias, com uma rápida visita à Fundação Hemopa. A gerente de Captação Doadores de Sangue da Fundação, Juciara Farias, explica que o Hemopa recebe o cadastro para doadores de medula óssea desde 2003, sob as orientações do Ministério da Saúde e do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). “Nós recebemos todo e qualquer candidato que queira se colocar nesse banco de dados com a proposta de um dia se tornar doador de medula”, explica a assistente social. “No primeiro momento é realizado apenas um cadastro e isso pode ser feito, inclusive, de maneira simultânea com a doação de sangue. O voluntário pode ir ao Hemopa fazer a doação de sangue e já manifestar a vontade de se registrar para doador de medula óssea”.
Juciara aponta que, desde 2003, o Pará já contribuiu com a inscrição de uma média de 140 mil pessoas no cadastro do Redome. São pessoas que se inscreveram nesse banco de dados para que, futuramente, possam vir a se tornar doadores de medula óssea. “Todos os dias o Instituto Nacional do Câncer faz o cruzamento do HLA do paciente com o HLA de novos doadores. Esse exame de HLA possibilita o mapeamento das características genéticas desse paciente e desse doador. E como existem dois bancos de dados, o banco de dados do doador e o banco de dados do paciente, todos os dias eles fazem o cruzamento para saber se tem alguém compatível”, explica. “Então, você se colocar nesse banco de dados significa se colocar disponível para dar esperança a alguém que precisa de um transplante. É dar uma chance, realmente, de vida para aqueles que dependem de um transplante de medula óssea”.
COMO SE TORNAR DOADOR
Para ser um doador de medula óssea, basta seguir os passos abaixo:
- O voluntário vai até a Fundação Hemopa, levando o documento de identidade;
- Lá, será necessário preencher um cadastro e coletar uma amostra de 5 ml de sangue;
- A partir deste momento, a pessoa já expressou a vontade de um dia se tornar um doador voluntário de medula óssea;
- Tal pessoa se tornará um doador de fato, se um dia ela for compatível com algum paciente que esteja precisando de um transplante de medula;
- No dia em que for constatada uma compatibilidade, o Instituto Nacional do Câncer entra em contato com a pessoa cadastrada no banco de dados, informa que ela é compatível com um paciente e pergunta se ele aceita, realmente, fazer a doação;
- Como o Estado do Pará não conta com serviço de transplante de medula óssea, quando é identificada a compatibilidade com um doador ou com um paciente do Estado do Pará, tanto o doador, quanto o paciente são deslocados até um Estado que tenha um Centro Transplantador, onde vai ser realizado esse transplante. Se houver um doador compatível que more em Belém, por exemplo, esse doador vai ser deslocado de Belém até o local onde será realizado o transplante – que pode ser Curitiba, por exemplo -, juntamente com um acompanhante, com tudo custeado pelo SUS.
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