Quase dois meses se passaram desde o dia 8 de setembro, data marcada pelo naufrágio da lancha Dona Lourdes II nas proximidades da Ilha de Cotijuba, em Belém. A tragédia, que vitimou 23 pessoas, ainda segue sendo apurada pelas autoridades, que buscam entender o que ocorreu naquela manhã.
A Justiça, por sua vez, busca penalizar os responsáveis pelo acidente. Porém, um parecer do Ministério Público do Pará (MPPA) não foi bem recebido pelos familiares das vítimas do naufrágio.
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No início da tarde desta quarta-feira (2), o MPPA recomendou a soltura de Marcos de Souza Oliveira, de 34 anos, comandante e dono da lancha Dona Lourdes II, para que ele responda o processo em liberdade.
Seguindo a orientação jurisprudencial, após reavaliação do decreto preventivo que levou Marcos à prisão no dia 13 de setembro, as autoridades chegaram à conclusão de que a prisão provisória dele não é mais necessária. Portanto, o piloto pode ser solto a qualquer momento.
Imediatamente após a repercussão da determinação do MPPA, parentes de Ananda Luiza Barreto da Silva, de 18 anos, se manifestaram contra a decisão de libertar Marcos.
Em entrevista à repórter Cácia Medeiros, da RBATV, Denilson Barreto, irmão de Ananda, demonstrou indignação pela soltura do comandante. “É revoltante e triste demais saber que foi emitido esse parecer favorável à soltura dele, visto que ele é responsável direto pela morte de 23 pessoas, que foram 23 sonhos e planos interrompidos, e um deles era o da minha irmã. É muito revoltante para mim, para minha família, assim como para todas as outras famílias que perderam seus entes queridos. Eu quero justiça e que ele permaneça atrás das grades”, comenta.
Denilson explica, ainda, que, no dia do naufrágio, ele aguardava pela chegada da irmã em Belém pois, naquela data, ela estaria vindo à capital paraense para participar da cerimônia de formatura dele. “Quando cheguei no terminal, recebi a notícia do que tinha acontecido. Naquele momento, não quis nem saber mais da formatura. Só queria saber do paradeiro da minha irmã”, afirma.
Sobre os dias após a morte da irmã, o jovem conta como tem sido a rotina depois da tragédia. “É um vazio que a gente sabe que não vai ser mais preenchido. É uma dor que a gente tenta ressignificar, mas ainda é muito recente. Receber essa notícia da soltura do piloto da lancha neste Dia de Finados é revoltante demais, já que este dia remete à saudade e ao luto por nossos entes queridos que já não estão mais aqui”, desabafa Denilson.
O advogado da família de Ananda, Marco Pina, relata surpresa pela decisão do MPPA em libertar Marcos de Souza Oliveira. “Sinceramente, muita surpresa. A gente respeita a decisão, porém, pela recenticidade do caso, pela gravidade da conduta do acusado, pelo modo que ele agiu, dando indicativos que iria fugir antes de ser preso, é uma surpresa que este parecer tenha sido dado”, explica.
Além disso, Pina acredita que há um sério risco de, caso a recomendação do MPPA seja atendida pela juíza do caso, o comandante possa fugir logo após conquistar a liberdade.
“Há o risco concreto e iminente de uma fuga. A situação processual do Marcos é muito complicada. Envolve 23 vítimas e todo um processo que nem se iniciou a ação penal, porque a juíza ainda vai receber a denúncia [...], então existe muita coisa em jogo. E, pela conduta dele anterior à prisão, eu acredito que, se colocarem ele em liberdade, isso vai fazer com que o Marcos possa sumir do mapa”, defende o advogado.
RELEMBRE O CASO
No dia 8 de setembro, uma lancha de transporte de passageiros naufragou nas proximidades da Ilha de Cotijuba, em Belém. O acidente vitimou 23 pessoas e outras 66 foram resgatadas com vida.
Na ocasião, o proprietário da embarcação irregular, Marcos de Souza Oliveira, era quem pilotava a lancha e, após o acidente, fugiu e só foi localizado dias depois, quando foi preso na casa de parentes em Ananindeua.
Antes da prisão, Marcos falou sobre o acidente por meio de um vídeo publicado nas redes sociais. No vídeo, ele explica como tudo aconteceu momentos antes do acidente.
O empresário já trabalhava com transporte de passageiros e já teve duas embarcações irregulares apreendidas (Clicia e Expresso), além de já ter sido autuado várias vezes pela Agência Estadual de Regulação e Controle de Serviços Públicos (Arcon) e pela Marinha do Brasil.
Ananda Barreto era uma jovem universitária que cursava Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural da Amazônia. No dia do naufrágio, ela vinha a Belém na companhia do pai, José Luís Rodrigues da Silva, de 63 anos.
Os corpos dela e do pai só foram encontrados dias após o naufrágio. Um fato que chamou a atenção no caso de Ananda e José foi o fato dos dois terem entrado em contato com familiares antes e durante os momentos que provocaram a tragédia, com Ananda, inclusive, se despedindo da família por mensagens de texto.
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