Para Marcos Melo, jornalista e presidente da ONG Olivia, que atua na luta em defesa da população LGBTQIAP+, projetos de rede de apoio e de inclusão dentro das empresas são como uma espécie de ponta pé inicial para a discussão sobre o assunto.
“Mesmo que às vezes as empresas tentem estimular o diálogo acerca dessa pauta, é muito importante que ele seja feito a partir de vivências das pessoas LGBTs dentro do espaço. Então, quando a gente cria esses grupos onde as pessoas conseguem conversar, falar sobre, eles geralmente são como um pontapé inicial dessa mudança, porque é a partir deles que as pessoas começam a enxergar essa realidade, a enxergar a possibilidade de mudança, porque olha para àquela experiência e entende como é que essa população se sente, como ela é vista e também quer propor mudanças dentro desse espaço. Então, são fundamentais para que efetivamente consiga enxergar essa realidade”, reforça Marcos.
O jornalista e presidente da ONG Olivia afirma ainda que tem enxergado uma mudança a nível mundial cada vez mais presente a partir das dinâmicas da ESG, conceito que reúne políticas de meio-ambiente, responsabilidade social e governança, transformando negócios através da construção de um mundo inclusivo, ético e sustentável.
“Aqui no Pará, em algumas empresas de mineração, tem também outras fábricas de grande porte nacional, que tem implantado, mas eu acredito que isso ainda tem sido dado a passos muito lentos. Não é só colocar o grupo de apoio, mas realmente estimular em toda a empresa para que sejam criados ambientes cada vez mais confortáveis”, opina Melo.
Propósito para transformar
Por sua vez, de acordo com Demethrius de Oliveira, Business Partner de Diversidade & Inclusão da Hydro no Brasil, as mudanças e iniciativas não são momentâneas e nem visam índices, mas sim uma mudança de pensamento e reflexão. “Pra gente é um grande sucesso não apenas no sentido de contratar diversidade, de perceber que pessoas diversas estão interessadas em participar do nosso processo seletivo, mas de reconhecerem que a gente realmente tem um propósito, um compromisso, sustentável para o futuro que queremos por acreditar que isso é importante”, acrescenta Demethrius. Assista:
ANTES DO FUTURO, O PRESENTE
Maysllan Martins Rabello, de 27 anos, é pansexual. Solteira, natural de Tucuruí, no interior do Pará, e formada em Engenharia Ambiental e pós-graduanda em Gestão em Governança Coorporativa Social-ESG, hoje ela atua como Técnica de Planejamento e Programação de Manutenção, na mina de Carajás Sul (S11D), da Vale.
No entanto, no início, Maysllan teve uma experiência nada agradável. Nos primeiros meses, ela enfrentou alguns desafios e passou “por situações desconfortáveis”, mas com o decorrer do tempo percebeu grandes conquistas e avanços.
“Toda mudança exige algumas adaptações. Com o tempo e nossa atuação em fóruns e reuniões sobre ética e respeito, posso dizer que hoje tenho empatia e respeito dos que estão à minha volta”, afirmou.
Apesar dos avanços, ainda há muito o que mudar
No entanto, as desigualdades ainda se cruzam e revelam grandes abismos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, no Brasil, por exemplo, ainda era raro encontrar equilíbrio representativo nos cargos de alta liderança em grandes empresas, seja de pessoas negras, PCDs, mulheres, pessoas LGBTQIA+ ou outros grupos subrepresentados.
Para o presidente da ONG Olivia, a mineração ainda precisa implantar muitas ações. Apesar dos passos já avançados, perto de tudo o que é a área, para ele ainda é muito pequeno.
“A gente sabe que a mineração é um espaço majoritariamente masculino e isso acarreta em um lugar de muito machismo. É necessário que essa discussão alcance todos os funcionários e, principalmente os mais antigos, que com certeza ainda há muitos com vícios de reprodução de preconceitos. Portanto, é necessário que esse debate alcance não só a população LGBTQIA+, não só a população mais jovem, mas alcance o todo”, destaca o jornalista.
Para Marcos Melo, o ideal é começar repensando em uma mudança estrutural nas empresas.
“A gente está vendo hoje que muitos gestores são pessoas brancas, em sua maioria homens, quem fala nesses espaços são homens cis brancos. Então, como é que a gente pensa em uma mudança de estrutura de cima para baixo? Dos gestores para as demais pessoas? Com certeza isso é um enorme desafio que ainda tem muito o que avançar”, opina.
O presidente da ONG Olivia reforça ainda a importância de realizar cada vez mais eventos que não sejam só em datas específicas, eventos que promovam discussões transversais sobre direitos humanos.
“Eu acho que acaba sendo difícil até quando você chama as pessoas para discutir pauta LGBT. As pessoas acabam dificultando o processo. Quando você traz uma discussão sobre direitos humanos de maneira geral e aí nele você inclui a população LGBTQIA+, eu acredito que seja mais eficaz. Quando você fala, apresenta os direitos, está na Constituição e muitos desses direitos são incluídos a população LGBTQIA+, talvez seja mais fácil das pessoas compreenderem”, reforça Melo.
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Mineração para todes: conquistas e desafios no Pará
Ambiente deve ser acolhedor para todos
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