As mulheres chefes de família no Pará já representam 45% dos lares, cerca de 1,2 milhão de domicílios. Na Região Norte, essa realidade chega a abranger quase metade dos domicílios, 48% do total da região. As informações foram analisadas pelo Dieese Pará, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), durante o período de outubro a dezembro de 2022.
Ainda segundo o estudo do Dieese Pará, entre os sete estados que compõem a Região Norte, o Pará é o que apresenta o maior número de mulheres que assumem a responsabilidade pelo sustento da família. O total de domicílios no Estado somava exatos 2.673.240 e, destes, cerca de 1.219.664 lares eram chefiados por mulheres.
Este cenário é construído por meio de variantes sociais, econômicas e raciais. Quando se olha por cor, por exemplo, uma pesquisa do Dieese aponta que, no Brasil, com base em análises feitas no 3º trimestre do ano passado, cerca de 11,053 milhões de famílias brasileiras possuem mulheres na chefia, sendo 61,7% chefiadas por negras e 38,3% por não negras.
Há 18 anos, a feirante Alessandra Gonçalves, 43, acorda às 4h da manhã para vender suas frutas e verduras na feira da Pedreira, na capital. Hoje, com um filho de 23 anos que cursa jornalismo em uma faculdade particular de Belém, e com a renda advinda das vendas no mercado, ela conta que, apesar das dificuldades, se orgulha do percurso que trilhou para priorizar a educação do filho.
“Quando não tinha com quem deixá-lo, o levava comigo para Ceasa. Quando ele saía do colégio, também ia direto para a feira me esperar até o fim do expediente. Já maior um pouco, ele ficava em casa mesmo. Tive que batalhar sozinha e batalho até hoje, com o dinheiro daqui, além de sustentar a casa, também pago metade da mensalidade dele na faculdade, já que ele é bolsista”, ressalta.
COMÉRCIO
No centro comercial de Belém, a olho nu, as mulheres dominam na função de vendedora nas lojas, nas bancas que vendem comidas típicas, roupas e até capas e acessórios para o celular. Ana Marta Costa, 56, é uma dessas mulheres que matam a fome de pessoas desconhecidas há pelo menos 30 anos. Mãe solo de três filhos e avó de três netos, todos os dias começa a preparar as comidas caseiras para a venda às 7h30, e às 10h já está na rua com o seu carrinho.
Ana revela que vem de uma família de mulheres independentes. Sua mãe também sustentou a família sozinha e foi dela que herdou a mão boa para a preparação de alimentos. “Sustentei meus três filhos sozinha e, hoje, ajudo a criar meus netos também. Enquanto Deus me der força, vou trabalhar para ganhar o meu sustento e o da minha família. A melhor coisa é não depender de ninguém, vou até o fim, venho para as ruas e faço o meu dinheiro, esse é o meu ofício”.
Em outro ramo de vendas, mas ainda no centro comercial de Belém, Ednilza Alves, 43, atua como vendedora numa banca de roupas e fantasias. Durante a vida toda trabalhou com vendas e foi assim que criou a única filha, com 19 anos hoje. A vendedora diz que o mais difícil na lida de ser chefe de família, além de assumir o papel de mãe e pai ao mesmo tempo, foi a dificuldade de deixar a filha em segurança quando pequena, enquanto ela tinha que sair para trabalhar.
“Teve uma época em que minha mãe deixou o trabalho em que ela estava para poder ficar com a minha filha enquanto eu corria atrás do dinheiro. Depois que minha filha ficou maior e não tinha mais tantas dependências, foi ficando mais fácil. Mas dar conta de tudo isso não é nada tranquilo, só a gente sabe. Mas, que bom que deu certo!”, encerra.
"Sustentei meus três filhos sozinha e, hoje, ajudo a criar meus netos também. Enquanto Deus me der força, vou trabalhar para ganhar o meu sustento e o da minha família”. Ana Marta, autônoma.
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