
Venerado como santo pela Igreja Católica e outras denominações cristãs, o Dia de São João é comemorado na próxima semana, na terça-feira (24). Para celebrar a data, uma tradição aqui em Belém é adquirir o conhecido banho de cheiro, preparado com diferentes ervas e raízes que atraem boas energias e deixam uma fragrância bem característica no corpo.
Na Feira do Ver-o-Peso, erveiras já estão preparadas para atender a demanda dos clientes em busca do tradicional banho. No local, já é possível encontrar o produto em garrafas de 300 ml e 500 ml, com preços variando conforme o tamanho da embalagem. Na véspera do Dia de São João (segunda-feira, 23) e na data comemorativa (24), as peças conhecidas como alguidar estarão com um banho preparado para receber os clientes, exibindo os ingredientes utilizados.
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A quantidade de ervas aplicadas no banho cheiroso varia de barraca para barraca. Os nomes dos componentes chamam a atenção pelo cheiro e pelos nomes curiosos como chama dinheiro, chega-te a mim, folha da fortuna, vai e volta e dinheiro em penca. Outros itens também incluídos são arruda, catinga de mulata, cipó catinga, estoraque, manjericão e manjerona. O preparado pode ter ainda patchouli, priprioca, trevo de São João, vindica, pataqueira e alecrim de angola.
Elizângela Costa, 51, há duas décadas atua com o ramo das ervas no Ver-o-Peso. Todos anos, ela afirma que este é um momento muito aguardado para quem atua no ramo, assim como nos banhos da virada de ano novo. Costa explica que a procura pelos banhos está ganhando força com a proximidade do Dia de São João. “Com os festejos juninos, teve escola aqui de Belém que procurou muito estes banhos para compor a festa”, explica a erveira.
Na barraca da erveira, a garrafa de 500 ml custa R$ 30,00. O produto é feito com 14 ingredientes diferentes, como chega-te a mim, folha da fortuna e cipó catinga. “É a fórmula para atrair sorte, saúde, sucesso e felicidade”, afirma sobre o banho. Conforme explica, o banho deve ser feito na véspera (segunda-feira, 23) do Dia de São João, antes da meia-noite, da cabeça aos pés. “Na hora do banho é importante pensar em coisas boas. O resto a gente conquista com muito trabalho”, frisa Elizângela Costa.

TURISTAS
Há quatro décadas no ramo das ervas, Áurea Cheirosinha, 59, como prefere ser chamada a filha de Beth Cheirosinha, explica que a procura pelos banhos prontos vai se intensificar ainda esta semana. No local, as opções variam de tamanho e de preço, conforme o gosto e a necessidade da clientela: a embalagem de 350 ml custa R$ 15,00, a de 500 ml tem o valor de R$ 20,00. Os banhos dela são feitos com nove ingredientes, incluindo manjericão, chama dinheiro e priprioca.
Áurea Cheirosinha explica que herdou os conhecimentos sobre as ervas da mãe, o que reforça a importância da manutenção do tradicional negócio entre gerações. “Todo mundo compra, principalmente turistas. Eles gostam muito. Na COP 30 vamos vender muito banho”, diverte-se Cheirosinha. “São João é tradicional. Muita gente vem aqui em busca dos banhos para atrair boas energias. Quando colocarmos os alguidares com as ervas (dia 23 e 24), o público vai ser ainda maior em busca”, explica.
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Interação entre indígenas e portugueses
O professor, historiador e cientista da religião, Márcio Neco, explica que há diferentes simbolismos com relação ao banho de cheiro. “João é aquele que, segundo a tradição bíblica, batiza com um banho. Os portugueses já costumavam banhar-se em um rio que tem em Portugal com esta finalidade de renovação, de purificação, hábito que foi trazido pelos portugueses para cá, para o Brasil”, descreve Neco sobre o costume dos colonizadores brasileiros em banhar-se em rio no dia de São João.
No caso do Pará, a tradição ganha características bem peculiares, quando interage com tradições indígenas, as quais também possuem o banho no sentido religioso. Neco explica que aqui as interações portuguesas e indígenas se cruzaram e se fortaleceram por meio do banho com itens da Amazônia.
“Nós vamos ter um banho não só purificador, mas um banho atrativo. Assim, o banho não serve somente para limpar e purificar, mas aqui tem essa dimensão de atrair. E podemos dizer que é um aspecto da Amazônia, porque no banho de cheiro são incluídos vários elementos da flora amazônica, como ervas e raízes, e de acordo com a sabedoria dos povos daqui, elas têm poderes, sobretudo atrativos.”
HERANÇA
Ainda conforme ressalta Márcio Neco, as interações portuguesas e indígenas fizeram com que o banho de cheiro se tornasse uma tradição na Amazônia. Neste aspecto, o professor explica que esta é uma herança cultural que resiste ao tempo, mesmo sendo “apagada” em alguns locais. “Já foi muito forte o banho de cheiro cheio de composições que afastam malefícios. Nós temos essa tradição, eu diria que milenar para algumas religiões, que é o banho de cheiro de São João aqui na Amazônia, fruto dessa interação entre portugueses e os povos originários que aqui já viviam.”
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