
O Brasil e suas províncias ainda eram marcados pelo regime imperial em 1866, quando o que viria a se tornar o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) foi idealizado pelo político e intelectual Domingos Soares Ferreira Penna. À época, de várias partes do mundo, chegavam ao Pará expedições que buscavam mapear territórios, catalogar espécies animais e vegetais, e conhecer a fundo a biodiversidade da Amazônia. No centro dessa corrida e diante da euforia das chamadas Ciências Naturais, Belém acolheu esta que é uma das instituições científicas mais antigas do Brasil, referência no estudo dos sistemas naturais e socioculturais da Amazônia.
Um dos marcos dessa história, uma casa localizada dentro do Parque Zoobotânico do Museu, onde morou não apenas Emílio Goeldi, como outros diretores da instituição, passará por reforma para abrigar um novo centro de colaboração dedicado à promoção da ciência, ao desenvolvimento de tecnologias sociais e à preservação da Amazônia.
A edificação é um raro exemplar do estilo conhecido como ‘rocinha’, comum naquela região da cidade de Belém em meados do século XIX. Isso porque, dentro do contexto da expansão da Belém para além do seu primeiro núcleo formador - composto pelos bairros da Cidade Velha e Campina - a atual avenida Magalhães Barata era uma das vias que promoviam a integração entre o centro urbano e as áreas rurais da cidade. À época, o corredor formado pelas antigas Estrada do Utinga (hoje Avenida Nazaré) e avenida Independência (hoje Magalhães Barata) era marcado por uma configuração absolutamente diferente da atual e abrigava as antigas rocinhas, típicas construções rurais onde as famílias abastadas passavam as temporadas de veraneio.
Com a frente voltada para a travessa 9 de Janeiro, mas ainda dentro dos muros do Parque Zoobotânico, a casa foi moradia do naturalista que dá nome à instituição, Emílio Goeldi. Mas, além dele, também viveram no local os ex-diretores Jacques Huber e Emília Snethlage. “O Emílio Goeldi resolveu se mudar com a família para lá. Ele, a esposa e, acho que, quatro ou cinco filhos que ele tinha à época. Então, aquela casa passou a ser, a partir dele e dali para a frente, a morada dos diretores do Museu Paraense Emílio Goeldi”, explica o atual diretor do MPEG, Nilson Gabas Júnior.

Depois de servir de residência a diretores do museu, o espaço passou a ser utilizado por várias iniciativas. Nilson explica que a casa chegou a abrigar a sede da Associação de Amigos do Museu Emílio Goeldi e por um breve período também foi alojamento para pesquisadores que vinham de fora e que não tinham um lugar onde ficar em Belém. “Depois disso, o espaço passou a não ser mais utilizado, veio a pandemia e, infelizmente, houve uma intempérie: caiu um galho de mangueira em cima da casa onde morou Goeldi”.
Diante da importância histórica da edificação não apenas para o museu e para a produção científica na Amazônia, mas também para a própria memória arquitetônica e urbanística da cidade de Belém, iniciou-se uma mobilização para que seja possível revitalizar o imóvel. Um projeto possibilitado a partir de uma parceria público-privada entre instituições suíças e brasileiras, incluindo o escritório de arquitetura Herzog & de Meuron, o Governo do Estado do Pará, o Museu Paraense Emílio Goeldi e o Instituto Peabiru.
Antes que a reforma em si seja iniciada, o diretor do museu explica que a construção histórica ainda precisará passar por algumas intervenções. “Ela vai precisar passar por uma intervenção de fortalecimento da sua estrutura antes de iniciar a reforma. Para isso, nós estamos utilizando recursos do Museu Goeldi, recursos da União, para poder fazer esse reforço estrutural. A partir daí, o projeto está sendo finalizado, estamos enviando ao IPHAN e ao Depac para aprovação dos órgãos de vigilância do patrimônio e, a partir daí, a gente já tem um recurso para começar a reforma em si”, explica.
“O mais importante é que a gente vai conseguir não apenas ter a casa reformada, que é um prédio histórico, mas, nessa proposta, nós teremos um espaço para, por exemplo, termos pequenas audiências e o uso vai ser exclusivo de comunidades tradicionais, de grupos tradicionais”.

Nilson Gabas Júnior destaca que, após a reforma, a casa continuará servindo à ciência e, mais do que isso, à ciência alinhada com o conhecimento tradicional que vem dos povos tradicionais. “A partir de se estabelecer o Parque Zoobotânico como terra indígena, isso exponenciou a nossa agenda com os povos tradicionais, organizações da sociedade civil, organizações sociais de povos tradicionais, e nós estamos vendo que vamos ter uma agenda muito intensa para esse tipo de debate, para esse tipo de configuração”, analisa.
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“Com isso, o museu se fortalece porque ele mantém historicamente a sua abertura, não apenas a nível de produção científica, mas de interlocução com as comunidades tradicionais, aquilo que traz desenvolvimento para elas a partir do conhecimento tradicional e a partir da imbricação do conhecimento tradicional com o conhecimento científico”.
CASA GOELDI
O Projeto Casa Goeldi pretende revitalizar a casa onde o pesquisador suíço Emílio Goeldi morou, em Belém, para ser um novo centro de colaboração voltado à inovação de tecnologias sociais, biológicas e educacionais. A iniciativa é do Museu Paraense Emílio Goeldi, da Embaixada da Suíça no Brasil, do Governo do Estado do Pará e do Instituto Peabiru, além do escritório de arquitetura suíço Herzog & de Meuron. Localizada no Parque Zoobotânico do museu, com entrada pela Tv. 9 de Janeiro, a edificação data do século XIX e hoje é um marco histórico da ciência produzida na Amazônia e da memória de Belém.

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