Sem saneamento básico, sem pavimentação e com iluminação pública precária. O caminho às estreitas ruas é feito pela lama cercada de mato. As casas são construídas suspensas do chão, em palafitas, para não correrem o risco de ficar submersas com as chuvas. É nesse cenário que quase 300 famílias vivem há 15 anos na comunidade João Amazonas, bairro do Coqueiro, no trecho que pertence a Belém.
Há 5 anos, a cadeirante Raimunda Edna da Silva, de 57 anos, mudou de casa, da passagem Bom Jesus para a passagem Nova Jerusalém. O motivo foi para tentar escapar do alagamento que invadia a residência de madeira. Raimunda é uma das primeiras moradoras da comunidade João Amazonas e, até hoje, tem dificuldades de sair de casa devido às péssimas condições da rua. “Se eu passar mal aqui, vou depender dos vizinhos para me levarem ao hospital, porque ambulância não entra de jeito nenhum”, reclama. “Tudo isso se torna um rio em dias chuvosos. É um horror”, completa.
A dona de casa Elisângela Carvalho, de 27 anos, tem quatro filhos em idade escolar. Mas em tempo de chuva, como agora, a educação deles fica prejudicada. “Ninguém consegue sair de casa. Tudo vai para o fundo. A correnteza é muito forte”, conta. Ela lembra que o sobrinho de apenas 3 anos caiu na água em um dia de chuva. “Ele quase se afoga e acabou parando no hospital. Foi um desespero”, detalha.
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ABANDONO
A madrugada de Natal foi um dos momentos mais difíceis. A doméstica Maria Lúcia Carvalho, de 53 anos, conta que nenhum vizinho conseguiu se confraternizar, em virtude do alto nível da água, acumulada com a chuva que caiu na tarde do dia 24. O volume só diminuiu no domingo. Segundo Maria Lúcia, o problema é antigo. “No ano passado, o prefeito Zenaldo Coutinho veio aqui, apertou a mão de todo mundo e prometeu resolver isso. Até agora nada. Ele nos abandonou”, diz.
Enquanto o problema não é resolvido, o mestre de obras Beto Lemos, de 61 anos, tenta construir a casa de alvenaria. Mesmo com poucos recursos, ele diz que já gastou bastante para elevar o alicerce da casa onde mora em um metro. “A gente já começa a construir a casa acima de um metro do chão, pensando no alagamento. Se não for assim, a casa é engolida pela água”, diz.
De acordo com Beto, o problema é agravado pelo canal que passa atrás da comunidade. “Esse canal corta os bairros do 40 Horas e Jaderlândia. A água vem descendo e, quando chega aqui, não tem para onde escoar”, descreve, sobre a falta de saneamento básico.
(Michelle Daniel/Diário do Pará)
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