
Com a alta nos casos de câncer de pele em todo o mundo, teorias sem base científico ganharam força nas redes sociais. Uma das mais difundidas sugere que o uso de protetor solar estaria relacionado ao crescimento da doença. No entanto, especialistas alertam que a afirmação não tem respaldo na ciência e que, na verdade, o filtro solar continua sendo uma das principais formas de proteção contra os danos causados pela radiação ultravioleta.
Em julho, uma publicação feita no X (antigo Twitter) sugeriu que o produto estaria diretamente ligado ao aumento do caso da doença em alguns países. "É um fato indiscutível que os países que usam mais protetor solar têm a maior incidência de câncer de pele. E quanto mais protetor solar eles usam, maior é a prevalência", escreveu o internauta.
Com mais de 60 mil seguidores, o autor da postagem ajudou a espalhar uma ideia falsa, segundo especialistas ouvidos pelo portal de notícias UOL. “Não há nenhuma evidência científica que indique a associação do uso de protetor solar com um risco maior de câncer”, afirmou Brittany Schaefer, diretora de comunicação do Departamento de Saúde Pública do estado de Connecticut, nos Estados Unidos.
Conteúdos relacionados:
- Morte de Preta Gil: o que é o câncer no intestino, sinais e tratamento
- Tudo o que você precisa saber para proteger a pele no Verão 2025
- Hospital alerta sobre cuidados com a pele das crianças
Por que os casos estão aumentando, então?
O aumento global nos casos de câncer de pele tem explicações mais plausíveis e muito diferentes das sugeridas nas redes sociais. Um estudo internacional, iniciado em dezembro de 2023 com cientistas dos Estados Unidos, Suíça, Alemanha e Hungria, apontou que a maior conscientização sobre os riscos da doença entre médicos e pacientes tem levado a mais diagnósticos.
Ao mesmo tempo, a taxa de mortalidade está em queda, graças aos avanços nos tratamentos, segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS).
Países com maior incidência
Segundo os dados mais recentes da agência, a Austrália liderava a lista de incidência em 2022, com 37 novos casos por 100 mil habitantes ao ano. Na sequência aparecem Dinamarca (31,1), Noruega (30,6), Nova Zelândia (29,8) e Suécia (27,4).
Os Estados Unidos registraram o maior número absoluto de casos: 101.388. A Alemanha ficou em segundo, com 21.976, e o Brasil apareceu na nona posição, com 9.676 diagnósticos, uma taxa de 3,3 por 100 mil habitantes.
Em relação às mortes, os EUA também lideraram, com 7.368 óbitos. O Brasil ficou em sétimo lugar, com 2.273 mortes por câncer de pele em 2022.
Exposição solar e mau uso
Segundo especialistas, a principal causa da doença continua sendo a exposição excessiva à radiação ultravioleta. E embora o uso de protetor solar tenha se popularizado, ele ainda é feito de forma irregular e, muitas vezes, inadequada.
Dados do Departamento Australiano de Estatísticas mostram que apenas 38% da população com mais de 15 anos usa filtro solar com fator de proteção (FPS) 30 ou mais na maioria dos dias. Mesmo assim, 7% relataram queimaduras solares na semana anterior. Entre jovens de 15 a 24 anos, esse índice sobe para 15%.
Nos Estados Unidos, uma pesquisa de 2024 revelou que menos da metade dos adultos usa protetor solar por mais de 60 dias ao ano. E 13% admitem que simplesmente não usam o produto.
Regulamentação recente e mercado bilionário
Outro ponto que gera confusão é o fato de que a regulamentação dos protetores solares é relativamente recente. Nos Estados Unidos, por exemplo, a FDA, agência que regula medicamentos e cosméticos, só passou a fiscalizar esses produtos em 2011. Ou seja, muitos dos estudos usados por quem critica o filtro solar analisaram produtos de gerações anteriores, com menor eficácia do que os atuais.
Ainda assim, o mercado global segue em expansão. A previsão é que o setor de proteção solar atinja uma receita de US$ 13,5 bilhões até 2028. Os maiores consumidores são os EUA, seguidos por China e Coreia do Sul.
Quer mais notícias direto no celular? Acesse o canal do DOL no WhatsApp!
Faltam dados comparativos
Além disso, apesar do crescimento nas vendas, não existem dados padronizados que permitam relacionar diretamente o consumo de protetor solar com o aumento do câncer de pele.
"Em contraste com os dados existentes sobre a crescente prevalência global do câncer de pele, não há estatísticas específicas de cada país que detalhem o uso de protetor solar e o relacionem à prevalência do câncer de pele", explicou Sybille Kohlstädt, porta-voz do Centro Alemão de Pesquisa do Câncer (DKFZ).
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar