A última edição do relatório Global Risks Report (Relatório de Riscos Globais), divulgado pelo Fórum Econômico Mundial em 2024 e que analisa os mais graves riscos globais que deverão ser enfrentados em uma década, diz que os próximos dois anos serão marcados pela preocupação com a cibersegurança, que figura na quarta colocação entre os riscos globais classificados por gravidade, considerando um período de curto prazo. O alerta chama a atenção para a demanda por profissionais especializados em segurança da informação que deve acompanhar essa perspectiva.
O engenheiro de software, especialista em redes de computadores e professor do Cesupa, Eudes Danilo da Silva Mendonça, lembra que em um cenário onde o maior número de transações é feito de forma on-line, é natural que se observe um crescimento na preocupação com a segurança dessas transações e dos dados que são utilizados nelas.
Não à toa, desde 2023 está em vigência no país a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que já na sua primeira versão tratava da questão da privacidade dos dados e previa punições para empresas que não resguardavam devidamente o que se conhece como ‘dados sensíveis’ de seus clientes.
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E quando se trata desses ‘dados sensíveis’ o professor lembra que os riscos envolvidos vão além do uso indevido por pessoas que tenham a intenção de aplicar um golpe financeiro, por exemplo. O que só aumenta a necessidade de reforçar a segurança no ambiente virtual.
“O risco envolvido pode ser desses dados pararem nas mãos de pessoas mal-intencionadas, que têm acesso, por exemplo, aos seus dados bancários. Mas também uma empresa farmacêutica que comercializa um determinado produto para uma doença específica, por exemplo, e que gostaria de saber quem são os pacientes que se enquadrariam nesse perfil para poder fazer uma mala direta, uma propaganda. Então, esse é um dado sensível que um hospital pode deter”, exemplifica.
“Isso é algo que as redes sociais fazem, elas capturam direto os dados sobre o que a gente mais vê e mostram as propagandas para você em cima dos produtos que você mais assiste ou deseja adquirir. Você tem uma machine learning por trás disso, que aprende através dos seus acessos, dos seus gostos, do que você mais vê”.
SEGURANÇA
Diante desses cenários que a vida atual apresenta, onde as transações financeiras e relações sociais são, muitas vezes, mediadas pela internet, é preciso se proteger para garantir que essas transações ocorram de forma segura e aí entra o profissional de TI ligado à área de segurança.
“É uma área crescente. Um exemplo disso é que, dentro do Senai [onde o professor também é professor na área] a gente faz o Campeonato de Cibersegurança, onde a gente prepara esses profissionais para atuar nessa área e várias vezes já aconteceu de alunos que, no meio do curso, tiveram que desistir do campeonato porque receberam uma proposta de emprego”, relaciona.
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“Geralmente, os alunos de onde a gente captura são os técnicos em redes de computadores, engenheiros da computação e alunos de bacharelado em Ciência da Computação”.
O professor doutor do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do IFPA Campus Belém, André Pacheco, considera que a proteção de dados, hoje, é fundamental em qualquer lugar, seja em uma empresa privada ou em uma empresa estatal ou órgão do governo.
“Hoje, cuidar da informação é o maior valor da sua empresa. Você tem que ter a proteção dos dados da sua empresa porque, a partir de então, você consegue valorar aquele seu produto. Se eu consigo, dentro da minha empresa, ter uma carta de clientes em que eu posso mandar informação de maneira mais rápida para aquele cliente, ele vai ter um poder de compra melhor”, avalia.
“Quando a gente passa para a esfera governamental, imagina que hoje o governo brasileiro, por exemplo, tem uma base de dados da Receita Federal, onde tem todos os cidadãos que são economicamente ativos, e tem uma base de dados no Dataprev, onde ele tem informações de todos os cidadãos que estão aposentados. Cuidar dessa informação vai dar subsídios para políticas públicas, para saber onde se deve movimentar a economia”.
Nesse sentido, o professor considera que cuidar da informação, hoje, não é mais só uma questão de segurança, mas também de planejamento de ações de vendas e marketing, de planejamento de políticas públicas, etc. “Eu devo ter cuidado com a minha proteção de dados porque, a partir de então, eu consigo tratar as informações e tomar decisões. Isso nós chamamos, na informática, de conhecimento. Toda informação gera conhecimento e esse conhecimento, para o gestor da minha empresa, vai se transformar em decisões que podem ser acertadas ou não, vai depender de como você tratou o dado. Então, ter a preocupação com a proteção dos dados é ter autonomia para que você tenha conhecimento, para que você possa tomar as decisões acertadas”.
Dentro desse contexto, o professor reforça que o mercado exige essa dinâmica de pensamento dos profissionais, inclusive dos que não atuam diretamente na área. “No cenário que nós estamos vivendo hoje, onde basicamente todas as informações estão passando pela internet, os analistas de sistemas que estão sendo formados pelas universidades, pelos cursos livres precisam estar especializados na segurança da informação”, considera.
“Aquele profissional que vai para o mundo web ou vai para o mundo mobile precisa entender a fundo quais são os protocolos; quais são as criptografias que estão no mercado; quais as camadas de segurança que ele vai ter que implementar no sistema dele para que seja seguro o suficiente e traga uma segurança para o usuário. E por mais que você não esteja ligado diretamente à internet, o profissional precisa sim entender de segurança da informação para que a rede interna da empresa não seja hackeada”.
Riscos globais classificados por gravidade em curto prazo
1 – Desinformação
2 – Eventos climáticos extremos
3 - Polarização social
4 - Insegurança cibernética
Fonte: Global Risks Report 2024 – World Economic Forum.
Mercado apresenta lacunas de profissionais qualificados
André Pacheco considera que, diante de toda essa demanda, o mercado voltado para a segurança da informação já é presente e, inclusive, apresenta lacunas de profissionais qualificados na área não apenas no mercado local, mas também nacional e internacional.
“A pandemia acelerou um processo, que é o Home Office, onde eu trabalho daqui da minha casa para uma empresa que pode estar do outro lado do mundo. E esses profissionais habilitados, que conseguem tratar com segurança da informação, estão sendo muito requisitados. De tal maneira que hoje você não precisa sair de casa para ser contratado por uma multinacional, por uma grande empresa porque você tem um conhecimento que aquela empresa precisa”, avalia.
“Então, é uma crescente que nós estamos tendo no mercado e somente os mais capacitados, somente os mais curiosos, aquelas pessoas que não esperam a informação chegar até elas e vão atrás da informação, somente esses profissionais é que vão conseguir se sobressair no mercado”.
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