O cenário observado quando se chega até a Rua João Alfredo é completamente diferente do que se tinha quando a via ainda se chamava Rua dos Mercadores, em meados do século XIX. Apesar disso, o caráter comercial que marca a identidade da via aberta ainda no período de formação da cidade de Belém permanece o mesmo.
Ainda que a própria ocupação da rua seja muito mais intensa do que as fotos antigas demonstram no passado, por entre as bancas dos vendedores autônomos ainda é possível ver os paralelepípedos e o trilho do bonde que, anos atrás, circulou pela importante rua do centro comercial de Belém.
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Por cima das lonas das bancas montadas ao longo de toda a via, o que se vê ao alto ainda são inúmeros casarões históricos erguidos no passado para abrigar comércios e que até hoje, apesar de modificados, ainda são ocupados por lojas.
Não é à toa que o historiador Diego Pereira Santos reforça que a Rua João Alfredo tem um caráter comercial fundamental. “Não tem como pensar na João Alfredo sem pensar nesse lado comercial. Certo tempo atrás descobri que na João Alfredo ficava um prédio, um armazém da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, isso no século XVIII”, aponta. “É interessante que ela tenha sido antes chamada de Rua da Cadeia e depois Rua dos Mercadores justamente porque os mercadores estavam constantemente ali, então, a cidade circulava na João Alfredo”.
O trânsito frequente de pedestres que circulavam em busca das novidades do comércio chamava a atenção, inclusive, de artistas como o fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza, que criou uma série de imagens sobre a cidade de Belém no final do século XIX. “Ela foi uma das ruas que chamava muito a atenção do Fidanza justamente por esse trânsito constante de pessoas. Era uma via de grande destaque, inclusive, era um lugar onde havia a venda de produtos importados, tudo era vendido ali na Rua dos Mercadores”.
A referência da João Alfredo como o lugar onde é possível encontrar de tudo ainda é mantida, em grande parte, pelo trabalho de comerciantes que passam o ofício de geração em geração. Aos 51 anos, o autônomo Robson Charles Reis exerce o ofício que lhe foi passado pelo padrasto e que ele próprio, agora, passa para o filho. “São 33 anos de comércio, sempre na João Alfredo. Começou com o meu padrasto que foi passando pra mim e hoje o meu filho, com 29 anos, trabalha aqui comigo”, conta, ao destacar a referência da atividade dos trabalhadores ambulantes para a via. “Quem atrai o consumidor aqui no Comércio é o ambulante. Hoje a maioria dos ambulantes são MEI, nós geramos emprego também porque ninguém consegue trabalhar sozinho na banca. Ao todo são 250 trabalhadores só aqui na João Alfredo”.
Mais um dentre esses trabalhadores do comércio, Maycon Correia, 35 anos, é a prova da renovação constante da atividade do comércio no local. Há dois meses, foi na João Alfredo que ele encontrou a oportunidade que precisava para voltar a trabalhar. “Eu fiquei desempregado, então, vim trabalhar aqui na banca do marido de uma prima. Apesar de ser cansativo, aqui no comércio você conhece gente de tudo quanto é lugar, tem aqueles clientes que são fiéis. É cansativo, mas é divertido”.
Nome de João Alfredo foi atribuído já no final do século XIX
O historiador Diego Pereira Santos aponta que a via ainda mantinha o nome de Rua da Cadeia durante o século XVIII. Já o nome de Rua dos Mercadores ainda é encontrado nomeando a rua até meados de 1860 a 1870, o que leva a acreditar que, muito provavelmente, o atual nome de Conselheiro João Alfredo foi atribuído à rua já no final do século XIX.
“O nome João Alfredo é uma rua que tem em alguns lugares, especialmente em Belém e em São Paulo. Isso porque o João Alfredo foi Presidente do Conselho de Ministros de Dom Pedro II, ele era uma espécie de primeiro-ministro. Ele também foi o que, na época, se chamava de Presidente de Província, o que seria como um governador. Então, ele foi Presidente de Província do Pará entre 1869 e 1870 e, 15 anos depois, ele também foi Presidente da Província de São Paulo, então, é uma figura que também tem a ver com essas homenagens e permanência de sujeitos políticos”.
Depois da instituição da República, João Alfredo também chegou a ser Presidente do Banco do Brasil na época do Governo do Hermes da Fonseca e fundou uma escola de Aprendizes Marinheiros e ainda criou a Faculdade de Medicina. “Então, ele tem essa importância não só aqui no Pará, como Presidente de Província, o que por si só já justificaria a questão da nomeação da rua, mas também ao longo da própria formação posterior à República de 1889. Então, é uma figura interessante para pensar essa organização da cidade”.
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