
Trabalhadores da educação pública municipal de Ananindeua paralisaram as atividades para reivindicar reajuste salarial da categoria. A mobilização ocorreu nesta terça-feira (8), em frente ao prédio da Prefeitura de Ananindeua, onde os servidores se reuniram para reivindicar reajuste de 40% acima do piso salarial de 2025 e melhores condições de trabalho. Após pressão dos profissionais, uma comissão representando a categoria foi recebida na Prefeitura para tentar contato com algum representante. Caso o prefeito não avance com as negociações, os educadores pretendem decretar greve geral na educação de Ananindeua.
Desde janeiro deste ano, os professores da educação básica de Ananindeua deveriam receber o reajuste de 6,27% do piso nacional, valor mínimo definido pelo Ministério da Educação (MEC). Porém, a Prefeitura de Ananindeua não cumpriu essa medida até o mês de abril. Durante as negociações, o Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública de Ananindeua (Sintepp-Ananindeua) propôs o pagamento do reajuste acrescido de um aumento de 40%, referente às perdas salariais que ocorrem desde 2019, ano em que o prefeito Daniel Santos assumiu a gestão do município.
“Em 2022, o piso nacional aumentou 33%. O governo do estado, por exemplo, aplicou os 33% nos nossos salários, mas aqui em Ananindeua não. Eles manobraram, alteraram a nossa tabela de vencimentos para, na prática, não pagar o reajuste e houve esse achatamento salarial. A gente recebia o piso mais 30% e hoje o prefeito quer aumentar somente para 3,11% além do piso. Mas é muito aquém do que a gente pede. Isso vem desde 2019, quando o prefeito Daniel assumiu ele estabeleceu a política de arrocho salarial que está colocando a categoria em alerta pela desvalorização”, revelou o coordenador geral do Sintepp Ananindeua, Antônio Seabra.
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Em contrapartida, na semana passada, a prefeitura propôs apenas o pagamento do reajuste do piso salarial, proposta que foi rejeitada por unanimidade pela categoria durante uma Assembleia Geral do Sintepp. Na segunda-feira (07), a gestão do município chamou para negociação e apresentou outra proposta: o pagamento do percentual do reajuste acrescido de 3,11% acima do piso nacional, muito abaixo da sugestão dos servidores públicos.
“Quando o prefeito assumiu a prefeitura, nós recebíamos o piso mais 30%. Hoje, a gente recebe só o piso basicamente. Com essa proposição que o governo fez, a gente vai continuar ganhando somente o piso. A gente decidiu parar para dizer ao governo que nós estamos insatisfeitos com as propostas apresentadas. Eles também apresentaram um reajuste de cem reais no vale alimentação, passando de R$600 para R$700, e para os demais funcionários de escolas, o percentual de 7,51%. Ontem o governo chamou para uma negociação e apresentou uma outra proposta, que a gente ficaria ganhando 3,11% acima do piso nacional. 3,11% é [um reajuste] muito pequeno diante do que nós estamos solicitando, não repõe as perdas salariais que a gente teve”, explicou Seabra.
O coordenador geral do Sintepp-Ananindeua ainda apontou que, em Ananindeua, os professores não recebem gratificação de nível superior. Em outros municípios, a categoria costuma receber o valor do piso nacional mais uma porcentagem referente a formação. Ao contrário, em Ananindeua é pago apenas o piso salarial, sem qualquer acréscimo. Por isso, o reajuste de 3,11% não contempla as necessidades dos professores.
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Além da questão salarial, as reivindicações dos trabalhadores da educação também incluem a contratação de acompanhante especializado para alunos com deficiência (PCD), melhora da estrutura escolar, contratação de mais profissionais, como secretária, merendeira, porteiro e vigia. “A gente tem de melhorar os espaços físicos, porque, principalmente nos anexos da escola, a situação é precária. As salas não tem iluminação, não tem ventilação adequada, não tem ar-condicionado, quando tem ventilador está quebrado, muitos prédios são alugados, as salas são apertadas. Faltam profissionais também para atender a comunidade escolar, falta secretária escolar, merendeira, porteiro e vigia”, pontua Antônio.
“Falta acompanhante para aluno PCD, falta auxiliar de classe para ajudar os professores da educação infantil. Então, imagina um profissional de educação infantil com 25 alunos, crianças que ainda não têm autonomia, que precisam de alguém para levar ao banheiro, para limpar. Uma professora sozinha em sala de aula não vai dar conta”, completa Seabra.
De acordo com o coordenador do Sindicato, essa realidade tem resultado no adoecimento da categoria dos professores, que cada vez mais têm sido afastados da sala de aula. “A própria prefeitura reconheceu isso em um evento colocando mais ou menos que de 180 servidores municipais afastados por problemas de saúde, 120 aproximadamente é da educação, porque essas condições de trabalho estão adoecendo a categoria, fora dos problemas de assédio moral, problemas também de sobrecarga de trabalho, por conta da ausência desses profissionais”, finalizou.
Realidade dificulta processo de aprendizagem no município
Servidor público do município de Ananindeua há 20 anos, Jorge Santos, 68, é professor de Língua Portuguesa das turmas de 6º ao 8º ano da Escola Municipal Laércio Barbalho, localizada no bairro do Curuçambá. Por lá, os problemas pedagógicos são extensos. O principal deles é a superlotação das salas de aula, que comportam cerca de 40 alunos em cada uma, sem levar em conta que em cada turma existe, em média, três alunos PCD, que nem sempre são acompanhados por profissionais.
Outro problema é a falta de central de ar em pelo menos metade das salas de aula. Em terceiro lugar, ele relata a falta de distribuição do livro didático pelo município, que é trocado a cada três anos pelo Governo Federal. Em 2025, porém, o material de todas as disciplinas não foi entregue aos alunos. De acordo com o docente, a Secretaria Municipal de Educação de Ananindeua (Semed) ainda não permite que os professores façam apostilas, mesmo sem viabilizar o material didático.
Segundo o profissional da educação, a realidade dificulta muito o processo de ensino-aprendizagem, já que os alunos ficam sem ter o que ler ou pesquisar em casa. “O impacto é grande porque a gente leva trinta a quarenta minutos copiando a matéria no quadro. Enquanto se tivesse o livro didático seria uma coisa mais prática e rápida para eles entenderem a aula, pesquisarem e até aprenderem a ler. A minha matéria é Língua Portuguesa, então complicou mais ainda porque a gente só dá aula com texto, nem que seja um pequeno, um poema, mas tem que ter texto. Hoje só se dá aula de português com frase pronta como era há quarenta anos”, disse.
Professor do Ensino Fundamental há mais de 30 anos, Jair Pena, 57, também relata uma realidade crítica da educação em Ananindeua. De acordo com ele, nos últimos anos houve um crescimento da matrícula de alunos PCDs. Dessa forma, o professor se vê em sala de aula tendo que atender tanto alunos regulares quanto alunos com deficiência, que necessitam de acompanhamento especial. Isso cria uma grande demanda em sala de aula.
“É necessário que a prefeitura coloque suporte dentro da sala de aula para a gente, com a contratação de pessoas para auxiliar o nosso trabalho porque muitos alunos PCD dependem de um mediador para poder conseguir acompanhar a aula com os demais alunos. Nós temos vários níveis de PCD, temos autistas, paralisia cerebral, deficientes auditivos. Esse é um desafio da inclusão, é necessário que a prefeitura dê esse suporte, senão o professor fica angustiado porque quer atender aquele aluno, mas não consegue. A gente exige concurso público específico para esses casos”, afirma o professor de Ciências da Escola Municipal Santa Terezinha.
Há nove anos, Ana Mellre Alvarenga, 41, atua como professora alfabetizadora da Escola Hildegarda Caldas de Miranda, no Curuçambá. Na mesma escola estuda o filho autista de seis anos e mais três crianças com a condição na mesma sala, que não contam com acompanhamento terapêutico escolar, o que vem requerido pelo médico no próprio laudo de autismo da criança. De acordo com a mãe, já teve vários episódios de crianças fazerem suas necessidades na roupa pela dificuldade de se expressar, além de outros incidentes que colocaram em risco a integridade física desses alunos.

“Nós já estamos no mês de abril, desde o início do ano letivo nós solicitamos a Semed para que mande acompanhante. A gente está cansado de pedir, a direção vai lá na Semed e só fala para esperar. Só que uma criança autista não pode esperar, ele não tem autonomia, ele precisa de uma pessoa que garanta uma educação de qualidade. Um professor com 26 alunos, entre eles três autistas em sala, fica impossível dar esse suporte de qualidade, mesmo que ele tente. O prefeito Daniel tem a obrigação de garantir o acesso, permanência e a qualidade de educação dessas crianças. Eu como mãe e professora de autistas não vou me calar. Basta, estou cansada”, concluiu.
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