
Sons de maracás se misturam aos gritos de guerra. Pinturas corporais refletem histórias que atravessam séculos. Corridas descalças sobre a terra quente lembram que ali pulsa uma memória viva, coletiva e ancestral. Em Altamira, oeste do Pará, a floresta se fez arena, palco e templo durante o Festival de Cultura e Jogos Indígenas do Xingu, realizado de 17 a 20 de julho.
O evento, considerado um marco para a valorização das tradições originárias, reuniu mais de 900 indígenas de 14 etnias em quatro dias de programação intensa. Sob o comando do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (Sepi) e parceiros institucionais, a cidade viveu uma experiência imersiva na riqueza cultural dos povos amazônicos.
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O festival promoveu a retomada e celebração de práticas milenares por meio da competição saudável. No estádio municipal “Bandeirão” e na orla do cais, homens, mulheres e jovens disputaram provas de arco e flecha, arremesso de lança, corrida com bastão, canoagem, natação, futebol, entre outras modalidades.
Cada disputa foi mais do que uma exibição de força ou habilidade: era também um gesto de resistência e um tributo aos saberes transmitidos por gerações. A corrida de bastão, por exemplo, reverbera o espírito de coletividade nas aldeias, enquanto o arremesso de lança carrega símbolos de caça, defesa e honra.
Mas não foi só o corpo que falou. Cantos, danças e rituais se multiplicaram em apresentações que emocionaram o público. Nos palcos, artistas como Liah Soares, Aya da Amazônia, Sam Bruno, DJ Bonfim e Joelma Kláudia levaram suas vozes para homenagear as raízes indígenas, em noites embaladas por mensagens de pertencimento, respeito e celebração da diversidade.
“É muito importante estarmos aqui. Nossa aldeia é distante, mas fizemos questão de vir representar nosso povo. Esse momento é grandioso para a nossa cultura”, disse Gustavo Caetano Kuruaya, liderança do povo Kuruaya, uma das etnias participantes.
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Diversidade que resiste
Com a maior concentração de etnias do estado, a região do Médio Xingu é berço de nove povos originários: Arara, Xipaya, Kuruaya, Asurini, Xikrin do Trincheira Bacajá, Kayapó do Kararaô, Parakanã, Araweté e Juruna. Para o festival, também foram convidados os povos Gavião Kyikatejê, Krimei Xikrin (do Rio Cateté) e Kayapó Mebêngôkre, que habitam outras partes do Pará.
Cada delegação veio com atletas, anciãos e crianças, em caravanas que transportaram não apenas pessoas, mas rituais, histórias, línguas e símbolos de identidade.
Reconhecimento em voz alta
Na abertura do evento, o governador Helder Barbalho destacou a importância de integrar os povos originários em todas as esferas públicas. “Este não é apenas um festival esportivo. É um gesto de respeito à memória, à cultura e à ancestralidade desses povos. Altamira representa o encontro entre quem preserva e quem produz. Hoje celebramos os guardiões da floresta e os construtores do nosso futuro”, declarou.
Já a secretária dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé, defendeu a continuidade da iniciativa como política pública permanente. “Queremos que este seja o início de uma construção duradoura. Altamira hoje é exemplo, mas precisamos expandir. Não se pode mais discutir saúde, educação ou cultura sem a presença indígena. O tempo do protagonismo é agora”, afirmou.
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